A colocação de tubo esofágico é um procedimento cirúrgico que facilita a alimentação em animais em quadro de hiporexia, isto é, quando se alimentam de forma ineficiente, ou em anorexia, quando não comem absolutamente nada. Como o próprio nome diz, o tubo é colocado no esôfago do gato, e, por meio de uma seringa, é possível injetar o alimento no animal diretamente, sem que ele precise mastigar e deglutir a comida. Esse método é usado quando o felino não consegue mais se alimentar por estar enjoado ou até mesmo vomitando tudo o que consome. Contudo, por parecer algo “agressivo” e incômodo para o animal, os tutores costumam ser avessos a tal procedimento. A grande questão é que, se o tubo esofágico está sendo indicado ao seu animal, é porque ele já está em risco. E o procedimento não é tão invasivo como pensam. Como meu objetivo é o de desmistificar o uso do tubo esofágico, vou listar seis tópicos que validam esse processo:
1. O que é um tubo esofágico?
O esôfago, onde colocamos o tubo, é um órgão tubular por onde passa o bolo alimentar formado na boca até que ele atinja o estômago. O tubo esofágico não deve atingir o estômago, pois se isso acontecer, o animal fica com ânsia de vômito, o que o deixa bastante incomodado.
O tubo é colocado por meio de técnica cirúrgica e geralmente confirmamos sua posição por exame de imagem para que tenhamos certeza de que está no local certo e sem ter entrado no cárdia, isto, é, onde há o controle do que entra no estômago dos bichinhos.
Para os tutores mais preocupados, esclareço que a técnica é muito simples e dispende pouco tempo, permitindo concluirmos o procedimento em alguns minutos. Apesar de debilitado, é claro que o animal será anestesiado, então precisamos fazer de forma objetiva e minuciosa para o sucesso do procedimento.
2- Coitado do gatinho, não seria melhor alimentar pela boca?
Claro que seria! Sempre é melhor alimentá-lo por boca. Mas nós – me incluo como gateira além de veterinária neste momento – sabemos que o gato não pode, em hipótese alguma, parar de comer, ou mesmo comer menos do que deve no dia.
No caso dos felinos, usamos o tubo com muita frequência, mas também é procedimento indicado para outras espécies, como os amigos caninos quando têm algum comprometimento de cavidade oral (tumores, fraturas, traumas em geral) que impeça uma alimentação adequada.
3- Como faz para alimentar com o tubo?
Geralmente o paciente fica internado para maiores cuidados e é assistido por veterinários, que fazem a manutenção, o curativo do tubo e a alimentação por meio dele.
Não há nada de mistério aí: a alimentação, como provavelmente vocês já imaginavam, é composta por rações pastosas. Essas rações passam facilmente pelo tubo e são hipercalóricas, o que permite que mesmo num volume restrito, a quantidade de calorias fornecida é a ideal. Após alimentarmos, higienizamos a sondinha, ou tubo, com água para que a ração pastosa não resseque ali e obstrua nosso instrumento de alimentar o gatinho. Comprimidos não podem ser ministrados por ali, pois obviamente irão obstruir a passagem de alimentos. Podemos contornar esse problema fazendo administração de remédios em sua apresentação líquida, mas volto a dizer que na maioria dos casos o gatinho está internado com fluidoterapia, o famoso “sorinho”, e portanto temos a facilidade de fazer o tratamento injetável.
Arquivo de Priscylla Santiago
Processo é feito por meio de rações pastosas que passam pelo tubo ajudando o animal a se recuperar efetivamente
4- Ele fica para sempre com o tubo?
Não. Embora tenhamos a maravilha da vantagem de um prazo de tempo longo com essa sonda (semanas ou até meses) ela é imediatamente removida quando o animal começa a se alimentar pela boca novamente.
A rotina procede como explicado anteriormente, mas sempre deixamos que o gatinho tenha contato com a ração (pastosa) e observamos o grau de interesse dele. Conforme vai aumentando e quando o felino demonstra que quer lamber a pastinha, fazendo movimento de deglutição, quando ele já não apresenta náuseas nem vômitos ao lamber a ração, está liberado do tubo!
Alguns pacientes oncológicos ficam com o tubo por serem terminais, mas, no geral, é uma situação temporária.
5 – E como faz para tirar? Vai ter que operar de novo?
Aí vem a grande alegria: não precisa mais nada. O tubo é removido por nós com assepsia, e a abertura realizada cirurgicamente cicatriza em até 48 ou 72 horas. Cicatriza sozinha e sem pontos. Precisa apenas fazer curativo de assepsia e administrar um antisséptico no local.
6 – O tubo é a melhor forma de combater a lipidose hepática.
A lipidose é uma síndrome que pode ter várias causas e o tubo esofágico, apesar de parecer assustador, é um dos caminhos para a recuperação do animal. Em termos gerais, a doença é um processo de infiltração gordurosa no fígado do gatinho, que leva à inflamação do órgão e retenção de bile. Isso provoca a coloração amarelada na conjuntiva ocular, mucosa oral e pele do felino.
Quanto mais a lipidose avança, mais o gatinho enjoa, vomita e não come. E quanto menos ele come, mais a lipidose avança. É um círculo vicioso. No caso de cães e humanos, injeções de glicose resolveriam, mas em gatos não é assim que funciona. Ele realmente precisa da energia fornecida pela alimentação. Aí vem a indicação do tubo. Com ele, o veterinário tem o exato controle da ingestão energética necessária para as funções metabólicas do animal e consegue prevenir ou reverter a tão temida e grave lipidose hepática. Os tutores sempre me questionam sobre outras formas de fornecimento de energia, como a sonda nasogástrica, que entra pelo nariz e vai até o estomago, por ser menos invasiva. Apesar de ser uma opção sedutora, e a usamos também, como é muito fininha, não conseguimos fornecer a quantidade de energia necessária para revertermos o processo de lipidose.
Dica final
Se o seu gatinho começar a comer menos que o habitual e assim iniciar um processo de perda de peso, é importante procurar avaliação médica para não chegarmos ao quadro descrito neste artigo.