Fisioterapia em gatos: quando é preciso?

Publicado em 12/06/2024

Assim como nós humanos, os felinos necessitam de fisioterapia para sua recuperação física, motora ou biomecânica

Foto: Arquivo de Renata Diniz
Gato Cósme em um em tubo de magnetoterapia

Ninguém gosta de sentir dor, e com os gatos não é diferente. Quando há algo que os incomoda, eles ficam desanimados, se isolam, interagem menos com o tutor, começam a mancar depois das brincadeiras e deixam de fazer coisas que adoram, como pular nos móveis. As orelhas ficam mais para trás, o olhar fica mais fechado, e muitas vezes eles não conseguem entrar na caixa de areia nem enterrar os dejetos adequadamente. Aumento de volume nas regiões articulares, cauda abaixada, prostração, perda de apetite e irritação com outros animais da casa também podem ser sinais de que algo não vai bem.
“Cada gato é um mundo, e o tutor deve ficar atento aos pequenos sinais, porque nem sempre são evidentes. Está claro que, quando um animal não pode caminhar ou apresenta claudicação, ele necessita de fisioterapia, mas os felinos são muito particulares e, na maioria das vezes, camuflam seu estado de saúde até um ponto em que a enfermidade esteja muito avançada”, afirma a médica-veterinária Renata Diniz. “Em gatos, muitas vezes, a dor leva a um distúrbio comportamental. A fisioterapia, por seu caráter não invasivo, evita que o animal passe por mais estresse, já que com ela conseguimos controlar a dor e desinflamar sem precisar fazer uso de medicamentos”, explica a médica-veterinária Stella Sakata.

INDICAÇÕES
São inúmeras as condições que podem fazer com que o gato precise de sessões de fisioterapia: desde problemas musculoesqueléticos – como deformidades ósseas, fraturas, displasias coxofemorais, hérnias de disco, rupturas de ligamento e luxações de patela – até doenças neurológicas, como alterações da coluna vertebral que podem acometer a medula espinhal e gerar dificuldade de locomoção, fraqueza e incoordenação motora. “E, em felinos, a gente tem muitos casos de artrose. A partir de 9 anos, possivelmente alguma articulação já é acometida por uma degeneração. Geralmente, isso ocorre nas articulações do ombro e do cotovelo, mas também pode acontecer em membros pélvicos, principalmente na região coxofemoral, que é a articulação do quadril”, complementa Jennifer Hummel, especialista em fisioterapia veterinária. “Se um gato costumava subir 10 vezes por dia numa cadeira, ele passa a subir só duas. Ou ele fica olhando para onde costumava pular e analisando como ele poderia subir, já que agora sente dor”, descreve a profissional. Ela também cita outros casos em que a fisioterapia é indicada, como obesidade, retenção de fezes, pós-cirúrgico ou mesmo impossibilidade de o gato ser operado por alguma razão.

Gato durante sessão de fototerapia
Gatinho na esteira terrestre
Fotos: Arquivo de Renata Diniz
Felino em sessão de sistema super indutivo

TÉCNICAS APLICADAS
As modalidades disponíveis na fisioterapia felina são semelhantes às da reabilitação canina e humana, porém com algumas adaptações. Entre as modalidades, estão desde as terapias manuais – para promover alongamento, liberar contraturas musculares e aumentar a amplitude do movimento, até recursos mais avançados, como câmara hiperbárica, laser terapêutico, eletroestimulação muscular, eletroanalgesia (os famosos “choquinhos”), radiofrequência, esteiras terrestre e aquática, sistema super indutivo, exercícios de cavalete e tábuas de equilíbrio, entre outros. “Eu costumo usar mais o laser como modalidade anti-inflamatória e analgésica e associá-lo com exercícios que agradam o felino”, conta Renata Diniz.
Jennifer Hummel menciona a magnetoterapia – que auxilia em casos de degeneração da cartilagem articular, além de ser um potente anti-inflamatório e promover analgesia – e a fotobiomodulação, no tratamento de tecidos inflamados. “Para reforço de musculatura, uso não só os exercícios e as terapias manuais, mas também hidroesteira e eletroestimulação neuromuscular. Já o ultrassom terapêutico ajuda na consolidação óssea em casos de fraturas, na regeneração e no retardo dos efeitos da artrose, em contraturas musculares muito severas, alterações de angulação quando há algum encurtamento de tendão etc.”, diz.
“Por incrível que pareça, tem gatos que amam entrar na água”, conta Stella Sakata, que lembra que a hidroterapia (realizada com natação e hidroesteira) será uma opção na fisioterapia desde que o animal de estimação aceite e não fique estressado. Jennifer explica que, com o auxílio da água, o felino tem a sensação de que é mais leve e, então, consegue executar os movimentos de forma mais fácil. Mas, ao mesmo tempo, há a resistência da água, que vai resultar num reforço muscular maior e num menor impacto nas articulações, acelerando o processo de reabilitação daquele animal.

EFEITOS
Sobre o resultado do tratamento, as especialistas concordam que os efeitos em geral começam a aparecer logo, mas tudo vai depender da patologia apresentada por cada gato. “Nada na fisioterapia é imediato. Todos os resultados são de médio a longo prazo, mas a melhora do comportamento isso sim você já vai observar nas primeiras semanas”, afirma Stella. “Em casos de artrose, os efeitos costumam ser rápidos, eles já começam a pular nos móveis, já têm uma atividade maior. Quando estão constipados e têm fecalomas, por exemplo, a gente vê que eles já começam a defecar de forma mais ativa”, diz Jennifer. “Mas, se houve uma fratura com uma complicação, aí pode demorar um pouco mais”, pondera a veterinária, que explica que os casos mais demorados são quando ocorre algum tipo de dano na parte nervosa, quando há alguma lesão na medula espinhal, por exemplo, o que pode causar incontinência ou retenção urinária de uma forma muito difícil de manejar, situação bem desafiadora para o terapeuta.

DESAFIOS DA FISIO EM GATOS
Controlar o estresse do gato pode ser um grande desafio para o fisioterapeuta. E isso muitas vezes acontece desde o momento do transporte até a clínica, dependendo do temperamento do bichano – alguns são mais assustados e não estão acostumados a sair de casa.
Jennifer indica o uso de feromônios para felinos já na caixinha de transporte e também na clínica, pois os cheiros proporcionam uma sensação de conforto e podem auxiliar na abordagem. Segundo ela, é importante ter um ambiente com materiais exclusivos para gato e com cheiro de gato – sem odor ou latidos de cachorro por perto. O terapeuta precisa ter esse cuidado para que o animal se sinta seguro durante a sessão. É necessário ganhar a confiança dele. “Deve-se começar com terapias que não exijam uma manipulação tão grande num primeiro momento, para ir ganhando a confiança aos poucos. Depois, conseguimos introduzir outros exercícios e brinquedos próprios para gatos, tornando a terapia mais divertida e fazendo com que eles participem de forma mais ativa”, diz.
Renata conta que também utiliza os feromônios em suas mãos e nos aparelhos trabalhados, para deixar a sessão mais agradável para o felino. Estimular o animal de estimação com jogos ou com prêmios alimentares também pode funcionar, segundo a especialista. “É importante ter, na clínica veterinária, uma sala apropriada, sem ruídos, sem cheiros fortes e com enriquecimento ambiental adequado para os gatos. Com conhecimento e paciência, adaptamos as sessões a eles”, finaliza a médica-veterinária.

Nossos Agradecimentos:
Jennifer Hummel Autora do livro Tratado de Fisioterapia e Fisiatria de Pequenos Animais; sócia-proprietária da empresa Mundo à Parte – franqueadora de Fisioterapia Veterinária e Vh-Equipamentos; especializada em Acupuntura e Fisioterapia Veterinária (Bioethicus); residência clínica e cirurgia (ULBRA-RS); mestranda em Neurociências – Ciências da Saúde (Unisul-SC)

Renata Diniz Médica-veterinária mestre pela ; Diretora Clínica do Centro de Reabilitação RehabilitaCans, em Mallorca (Espanha); especialista em reabilitação veterinária e veterinária esportiva pela Associação Espanhola de Veterinários de Pequenos Animais; certificada internacionalmente em reabilitação canina pela Universidade do Tennessee; doutoranda em Neurociências na Universidade das Ilhas Baleares; Vice-Presidente da Agrupação Ibero-Americana de Fisiatria Veterinária; professora da pós-graduação em Buenos Aires e da pós-graduação e certificação da rede Fisiocare-Brasil

Stella Sakata Médica-veterinária formada pela Universidade do Grande ABC. Mestre pelo Programa de Biotecnologia Animal – FMVZ- Campus Botucatu, na área de Cirurgia de Pequenos Animais, com enfase em Vibração de Corpo Inteiro e cicatrização tecidual. Especializada em ortopedia e fisioterapia pela Unip. Professora convidada nos cursos de pós-graduação do Instituto Bioethicus, e Fisiocarepet.


Por Lila de Oliveira


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