Esse gato possui vários atrativos que o diferenciam tanto na aparência quanto no temperamento

O Scottish Fold costumeiramente está entre as dez raças felinas mais registradas pela The International Cat Association (Tica), organização do segmento com sede nos Estados Unidos e clubes afiliados por todo o mundo. E essa popularidade é resultado de muitos atrativos. “Suas principais características físicas são as orelhas dobradas, os olhos grandes e lindos, as maçãs do rosto proeminentes e de formato redondo e a expressão doce e meiga”, comenta Ana Elisa Laporta, do gatil Galantis, de São Paulo.
“Claro que as orelhas dobradas são a maior distinção do Scottish Fold em relação aos outros gatos, mas ele também chama atenção por ser todo arredondado e exibir um conjunto bastante bonito”, ressalta Ana Cláudia Andrade, do gatil Legato, de Cascavel, PR. “Tais orelhas lhes dão uma peculiar aparência de coruja e os olhos grandes e redondos de expressão doce demonstram seu temperamento dócil”, afirma Sally Patch, do gatil Owhl, dos Estados Unidos.
DÓCIL E AMOROSO
Além da aparência, essa raça de gato também se destaca pela sua natureza amigável e equilibrada. “O Scottish Fold adora a companhia das pessoas do seu lar e se dá bem com crianças e outros animais, tornando-se uma boa escolha para famílias”, garante Ana Elisa. “Ele de fato é muito manso com a garotada e qualquer outro bicho”, corrobora Ana Cláudia. Sally exemplifica: “Meus gatos sempre demonstraram adorar se aconchegar em crianças para dormir, além de fazer carinhos em seus rostos e cabeças com as patas – é uma raça bastante afetuosa”.
Ana Elisa comenta que o Scottish Fold necessita da atenção de seu proprietário: “Esse último precisa lhe proporcionar carinhos e se dedicar nas brincadeiras, além de estar frequentemente presente – essa raça gosta de estar perto de seus tutores e de ser o centro das atenções”, conta. “São daqueles gatos que esperam o tutor se sentar para se aproximar e se deitar ao lado, ou até mesmo no colo”, diz Ana Cláudia.
O Scottish Fold adora brincar. “Ele ama varinhas – como as com penas – e correr atrás de bolinhas. Gosta também de jogos que simulam a caça, perseguindo pequenos brinquedos, o que estimula seu instinto de predador. Também é muito inteligente e pode ser treinado para realizar truques simples ou a atender comandos básicos, o que não só o mantém mentalmente estimulado, como também fortalece o vínculo com os donos”, relata Ana Elisa.
Ainda que o Scottish Fold goste de brincar, ele também aprecia momentos de tranquilidade ao lado de seus tutores. “Costuma se juntar a seus proprietários durante atividades sociais diárias, como ver televisão, ou até quando um deles lê, tornando-se parte integrante da vida familiar”, diz Ana Elisa.
Sally relata: “É sociável inclusive com visitas: dificilmente se esconde das pessoas desconhecidas que estão ao redor, dentro da casa, ainda que não seja do tipo que fica pedindo a atenção deles”.
Embora curioso, o Scottish Fold não é exageradamente ativo. “Tranquilo, mostra-se bem mais calmo que boa parte dos outros gatos domésticos”, compara Sally, que finaliza: “Crio também Cornish Rex e cães das raças Poodle e Pomerânia e meus exemplares de Scottish Fold se enrolam, dormem e se esfregam neles, além de brincarem de persegui-los”.

Scottish Fold da cor brown mackerel tabby, que se caracteriza pelas listras fracas, numerosas e contínuas

Criadora norte-americana Sally Patch: com 40 anos de dedicação ao Scottish Fold, ela já foi diretora do comitê do Scottish Fold na Tica
DOBRAS E CORES
“Os filhotes de Scottish Fold nascem com as orelhas eretas e as dobras, em geral, aparecem com cerca de 3 semanas de vida, ainda que eu já tenha tido exemplares nos quais elas surgiram mais cedo, aos 12 dias e, outros, mais tarde, em 5 semanas e meia”, relata Sally. Idealmente elas ficam rentes ao crânio, de maneira que aparentam nem existir, o que gera o efeito de aparência redonda da cabeça. “Até por isso é importante que as orelhas sejam bem baixinhas: em outras palavras, bem dobradas”, afirma Ana Cláudia. “Já tive exemplares com várias dobras e outros que exibiam uma única que ficava tão próxima à cabeça que eles pareciam não ter orelhas”, relata Sally.
Ana Cláudia acrescenta: “Outro atrativo desta raça está relacionado ao fato de que ela pode vir em qualquer coloração existente nos gatos – pelo seu padrão racial, todas são permitidas”. Ana Elisa comenta: “Eles estão disponíveis em ampla variedade de marcações, incluindo sólido, tabby (listrado), bicolor e até mesmo o padrão do Siamês, o ponteado, na qual as extremidades do corpo são mais escuras. Essa diversidade permite que o comprador escolha o gato com a cor que mais lhe agrada”.
Ana Cláudia acredita que a mais procurada pelo público brasileiro seja a azul (cinza). Sally dá mais detalhes: “Em meu país, por muitos anos a procuradas pessoas também era por azuis, mas o gosto tem variado – o ponteado passou a atrair mais a atenção e, mais recentemente, o shaded”. Esse último exibe efeito sombreado pelo fato de cada fio de pelo contar com uma parte colorida e uma branca. “Já entre as mais raras hoje, nos Estados Unidos, estão as sólidas– como o preto e o chocolate – e o tortie, caracterizado pela combinação de duas cores, mais comumente vermelho com preto”, relata Sally.
Ana Cláudia contrapõe: “Já eu tenho bastante procura pela cor chocolate. E o pessoal daqui também adora os tricolores – os chamados cálicos, nos quais o exemplar tortie exibe também o branco – e o mesmo ocorre com os bicolores”.
Ana Cláudia possui também exemplares de olhos azuis dominantes: neles o exemplar, mesmo não apresentando a coloração ponteada (associada geneticamente aos olhos azuis), exibe olhos com tal coloração. “Eles chamam bastante atenção”, afirma a criadora. Sally comenta que exemplares da marcação tabby (com listras) possuem pelagens mais finas. “Isso é verdade, mas também pode ser observado em várias outras cores e depende muito da linhagem”, pondera Ana Cláudia.
Há duas variedades de pelagem: curta (cujo comprimento não é tão curto quanto, por exemplo, o do Siamês) e longa (que, por sua vez, não é tão comprida como a de um Persa, que se arrasta pelo chão). “Ambas possuem adorável textura de pelúcia ao toque”, ressalta Ana Cláudia.

O respeito do Scottish Fold pelas crianças abrange inclusive o momento em que ela dorme

Os filhotes de Scottish Fold nascem com as orelhas eretas (como no gato mais acima) e, em geral, elas começam a dobrar a partir a 3ª semana de vida

Idealmente a dobra da orelha do Scottish Fold é apertada ao crânio, o que gera o efeito de aparência redonda da cabeça
MANUTENÇÃO
Fáceis de manter, os pelos do Scottish Fold caem em pequena intensidade. “Além disso, a maioria dos gatos desta raça aprecia a escovação, cuja periodicidade adequada é de, geralmente, uma a duas vezes por semana”, comenta Sally.
“Nos exemplares de pelo longo a escovação é necessária para evitar nós e também para eles não ingerirem muitos pelos”, explica Ana Elisa. “Uma frequência semanal é suficiente para que isso não aconteça”, afirma Ana Cláudia, que acrescenta: “Já nos exemplares de pelagem curta, pela questão do comprimento, não há formação de nós, mas, como os fios precisam de menos tempo para crescer totalmente, a troca de pelos ocorre mais rapidamente. Assim, a escovação tem a finalidade de diminuir essa queda e quanto mais o tutor escovar, mais o subpelo e os pelos mortos vão sair na escova em vez de se espalharem pela casa”. Com isso, a criadora recomenda escovação de duas ou três vezes por semana para os exemplares de pelo curto.
“Mas não que seja obrigatório, é apenas para uma maior eficácia nessa questão, de maneira que a escovação semanal também será suficiente para eles”, conclui Ana Cláudia. Sally concorda: “Usar um pente de metal pelo menos semanalmente será mais do que necessário para manter a pelagem livre de nós e com aparência adorável”. A norte-americana comenta também que banha seus exemplares a cada três ou quatro meses e que nenhuma limpeza extra é necessária quanto à manutenção das dobras das orelhas do Scottish Fold. “Elas não tendem a ser oleosas. Mesmo assim, recomendo que sejam checadas de 30 a 45 dias para detectar algum eventual problema, o que não é comum de ocorrer”, garante Sally, que define o porte do Scottish Fold como médio – fêmeas típicas devem atingir em média de 2,7 a 3,6 kg e machos vão de 4,5 a 5,4 kg –, ainda que robusto. “Até por isso, é importante não o manter em ambientes com pisos lisos e escorregadios – a fim de evitar problemas articulares – e não pegá-lo no colo estando de pé, pois esse gato se sente mais seguro em locais baixos”, afirma Ana Cláudia. Ana Elisa corrobora: “Pode ser inclusive propenso à obesidade e, assim, é importante monitorar a ingestão de alimentos e garantir que faça exercícios. Uma boa maneira para proporcioná-los são os arranhadores para serem escalados – e, como as unhas precisam ser cortadas regularmente, eles também ajudarão a mantê-las saudáveis”. A criadora Sally diz que as unhas do Scottish devem ser aparadas a cada 30 a 45 dias. Já Ana Claudia sugere quinzenalmente. Ana Elisa finaliza: “Os arranhadores e outros locais para escalar são importantes também por serem elementos que estimulam o comportamento natural do gato, que deve viver em lugar adequado – seguro e tranquilo, sem barulhos excessivos, e com espaço suficiente para explorar, brincar e descansar”.

Scottish Fold com olhos ímpares (heterocromia), resultado do trabalho genético de Ana Cláudia, criadora da raça há 25 anos: a característica é rara

Filhote da cor bicolor: tal coloração, na qual o branco necessariamente está presente, tem atraído a atenção dos apreciadores da raça no Brasil

Scottish Straight (à esquerda) e Scottish Fold: não há diferenças de temperamento entre as duas variedades da raça

Scottish Straight silver shaded: recentemente tal cor vem atraindo a atenção dos apreciadores de gatos dos Estados Unidos
SAÚDE
É obrigatório que as cruzas envolvendo o Scottish Fold sejam sempre com o Scottish Straight (seu irmão quase gêmeo, cuja única distinção é apresentar orelhas eretas) ou com exemplares das raças American Shorthair ou British. “Nós, criadores, não podemos, de forma alguma, promover cruzamentos entre dois exemplares de orelhas dobradas”, ressalta Ana Cláudia, que também é médica-veterinária, e informa que acasalar um exemplar de orelha dobrada com outro da mesma característica gerará, quase sempre, exemplares com osteocondrodisplasia, mal que causa caudas rígidas e encurtadas, artrite e/ou prejuízos na cartilagem dos tornozelos, dedos e coluna vertebral. “E o ideal é que os exemplares de Scottish Straight tenham passado por testes genéticos para que se tenha certeza de que não se tratam de espécimes com orelhas dobradas fracas, ou seja, pouco apertadas”, avisa Sally. Ana Cláudia dá mais detalhes: “O gene que causa a dobra da orelha vai trazer para o exemplar, inevitavelmente, traços de osteocondrodisplasia e, assim, mesmo ao se realizar o cruzamento correto, é necessário procurar linhas de sangue que tenham esses traços da maneira mais leve possível. A minha linhagem os possui de maneira mínima e, assim, meus exemplares exibem orelhas bem dobradas e, ao mesmo tempo, cauda bastante flexível, justamente o que se procura para a raça”. Sally reforça: “O gene que gera a característica das dobras está associado ao engrossamento de outras cartilagens e, por isso, é realmente importante adquirir um exemplar de um criador renomado”. Ana Cláudia completa: “É imprescindível que a criação de uma raça com muitos detalhes genéticos envolvidos conte com o suporte de um médico-veterinário ou um zootecnista”. Ana Elisa corrobora: “Como o Scottish Fold é suscetível a essas condições relacionadas a problemas ósseos e articulares devido ao gene que causa a dobra nas orelhas, consultas regulares ao veterinário são de fato essenciais”. Justamente por essa questão genética envolvendo a possibilidade de aparecimento de problemas articulares, a raça ainda não é reconhecida pela Fédération Internationale Féline. ”Já pela Cat Fancier’s Association (CFA) o Scottish foi reconhecido há muito tempo e foi lá que dei início à minha criação, em 1984”, relata Sally. A CFA reconheceu o Scottish Fold de pelo curto em definitivo em 1978 (e a Tica um ano depois) e, o de pelo longo, em 1993 (já a Tica, em 1987).
Agradecemos a colaboração:
Ana Claúdia Andrade, gatil Legato – (45) 99993-6096, www.legato.com.br, Instagram: @gatil_legato_catter
Ana Elisa Laporta, gatil Galantis – (11) 98106-4967, Instagram: @gatilgalantis, Facebook: gatilgalantis
Sally Patch, gatil Owhl –www.owhl.com