
Criador, veterinário e tutor de gato da raça dão dicas de cuidados e contam como é a convivência com o maior felino
da gatofilia

Ele é bem grande, peludinho, pesado e, por vezes, tem até “cara de mau”, mas seu apelido revela sua real e mais notável característica: a docilidade. Maine Coon, o gigante gentil, surgiu nos Estados Unidos em torno de 1861 (quando foi registrado o primeiro gato da raça), e é uma das raças nativas mais antigas de seu país de origem. “O nome Maine Coon remete ao estado do Maine e ao animal guaxinim, racoon em inglês. Possuem uma expressão selvagem, imponente e têm um visual poderoso”, aponta Ângela Stoicov, do gatil Cardigans, de São Bernardo do Campo, SP, criadora há 15 anos.
Ainda segundo Ângela, existem diversas lendas sobre a origem da raça. “A mais provável remonta ao fim do século XIX, quando embarcações vindas da Europa trouxeram gatos de pelos longos que se acasalaram com gatos de pelagem longa e semilonga do norte dos EUA, especificamente no estado do Maine”, compartilha.
Desde 2016, o Maine Coon é o quinto gato mais registrado nos Estados Unidos, segundo dados da Cat Fanciers Association. Já na Grã-Bretanha, desde 2017, a raça é a terceira mais popular, segundo o The Governing Council of the Cat Fancy (GCCF). Na França, a raça é ainda mais querida. Desde pelo menos 2018, o Maine Coon é líder em número de registros de acordo com o livro de registros LOOF (Livre Officiel des Origines Félines), sendo que, em 2020, atingiu um pico de 19.452 gatos da raça no país (em 2018, esse número foi de 13.808). No Brasil, não podia ser diferente. Os amantes e fãs da raça crescem a cada ano.
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Primeira impressão
O Maine Coon tem o poder de cativar logo de cara, por conta do tamanho avantajado e aparência exuberante de gato selvagem. Contudo, Greice Lessio, do gatil KatzeCoon, de São Caetano do Sul, SP, garante que as pessoas só se encantam pelo tamanho da raça quando não convivem com ela. “Quem convive se apaixona pelo seu companheirismo, temperamento gentil e sociável”, diz Greice, criadora da raça há 15 anos.
“Obviamente que o tamanho é a característica que mais chama atenção na raça. Porém, o temperamento desse gato é tão sensacional, tão fascinante, que, depois de um tempo de convivência, percebemos que o tamanho é o que menos importa. São gatos espertos, inteligentes, extremamente carinhosos, engraçados e brincalhões”, reforça Ângela.
“É um gato que gosta da companhia de humanos. Ele estará sempre muito próximo ao dono em todas as horas do dia e da noite”, reforça Mônica Sánchez, do gatil Alles Blau, de Cotia, SP, criadora de Maine Coon há 10 anos.


Sempre juntos!
Greice descreve a raça como sendo muito amiga e companheira. “Estão sempre junto de nós. Se tiver um Maine em casa, você nunca mais tomará banho sozinho”, brinca a criadora. “Sobem na pia e pedem para abrir a torneira, querem entrar no box do chuveiro, uma diversão!”, acrescenta Ângela, cujos Maines também estão sempre rodeando o banheiro. “Quando começa a chover então, correm para o quintal. Adoram água!”, reforça.
Outra demonstração de afeto comum na raça descrita por Ângela é a recepção aos donos. “Correm para a porta quando chegamos, e alguns até pulam em nosso colo, ignorando totalmente seu tamanho e peso!”, revela.
Jeito de Maine
O Maine impressiona as visitas pela aparência e docilidade. “De modo geral, recebem as visitas, se exibem e não têm a menor cerimônia em deitar-se no colo delas”, aponta Greice. “Também têm muita habilidade em fazer amizade com outros animais da casa, seja outro gato, cão e pássaros”, acrescenta Mônica.
Exploradores e bem curiosos, é comum vê-los nas alturas. “Nenhum lugar alto é impossível para eles”, compartilha Greice.
Ângela ainda aponta que são gatos que miam pouco, e conversam através de “grunhidos”.

Acessórios reforçados
Ter um gatão desses em casa requer atenção na hora de escolher acessórios. “Devido à maior popularidade da raça, temos uma infinidade de produtos tamanho GG que servem perfeitamente para o Maine. Quando adultos, eles ficam grandes e pesados. Portanto, arranhadores, caixas de transporte e liteiras devem ser grandes e resistentes”, destaca Greice. “Algumas fêmeas adultas, que são ligeiramente menores do que machos, chegam a medir 1 metro da ponta da cauda até o focinho”, ilustra Ângela. “Recomendo que os tutores tenham uma cama king size, pois amam dormir com eles, no meio, ‘esparramados’”, brinca Ângela, que sugere também o uso de arranhadores reforçados para aguentar as investidas desse gatão. “Deve ser algo pesado ou que esteja preso ao chão ou à parede. Tapete de sisal também é bem aceito, desde que seja grande e pesado”, ensina. Ainda para a escolha do arranhador, Mônica dá outro conselho: “Quanto mais alto, melhor, pois como todo gato, ele gosta de admirar o seu domínio”, brinca a criadora.
“Brinquedos podem ser os comuns, desde uma simples bolinha de papel até uma varinha com penas”, ressalta Mônica. “Brinquedos grandes, como os dos cães, que dê para morder, chacoalhar e arranhar, também são uma boa opção”, acrescenta Ângela.
A regra de telar todas as janelas da casa ou apartamento também vale para o Maine. “São gatos grandes, musculosos e fortes. Eles não precisam correr para pegar impulso e saltar 2 m de altura. Fazem isso ‘num pulinho’”, alerta Ângela.

Eu tenho um Maine Coon! O publicitário Daniel Puccioni, de São Paulo, é o feliz tutor de Yves, um Maine Coon de 8 anos que pesa 7 kg e tem 1 m, além de exibir a cor black blotched, que faz o felino ter uma aparência selvagem. “Yves é meu terceiro Maine Coon. Antes dele tive duas fêmeas, que viraram estrelinha”, compartilha o paulistano que conheceu a raça em uma feira de exposição de gatos. “Quando vi o tamanho e a sua pelagem, soube na hora que o Maine Coon era o meu gato”, relembra. E Daniel estava certo. “A raça é extremamente companheira. Quando chego da rua e abro a porta de casa, Yves já está na porta me esperando para fazer festa”, ilustra o gateiro que, durante a pandemia, tem tido o privilégio de trabalhar ao lado do felino todos os dias. “Ele fica no computador comigo, ao meu lado ou na frente do teclado. Na hora de dormir ele precisa deitar em cima da minha cabeça e do meu travesseiro e ronrona por muito tempo toda noite”, descreve Daniel. “O Maine Coon é um carinho só. Tem cara de bravo, mas é apenas o charme da raça”, finaliza.
A pelagem semilonga da raça pode assumir muitas cores. “Todas as variedades de cores são permitidas, incluindo todas as variedades com cor branca. Exceto padrões ponteados e as cores chocolate, lilás, canela e fawn, qualquer quantidade de branco é permitida”, explica Greice. Ainda segundo ela, o red (alaranjado) é uma cor de grande procura em seu gatil. Já Mônica se dedica e é especializada apenas na cor blue (cinza). “As cores mais clássicas da raça são black tabby (preta/marrom rajada), tortie (preta e alaranjada – apenas fêmeas) e preta, que conferem o tão almejado visual selvagem. Porém, os red, blue e branco também são bem aceitos. As cores em ascensão no Brasil são black silver (preta rajada e prata) e black smoke (preta e prata)”, explica Ângela.

(Fotos da esquerda à direita) Maine Coon das cores: blue tabby blotched; preto e black smoke; macho na cor red tabby ticked; e fêmea na cor tortie
De olho na saúde
A raça exige os mesmos cuidados que qualquer felino, porém, existem particularidades pelo porte mais avantajado do Maine. “Muito cuidado com o piso em que ele fica a maioria do tempo, pois se for muito escorregadio, pode predispor a problemas articulares e agravar doenças degenerativas”, alerta a médica-veterinária Beatriz Mattes, de São Caetano do Sul, SP, que realiza atendimento tanto em gatis como em ONGs de proteção animal. Assim, para proteger as articulações do Maine Coon, deve-se optar por tapetes ou outras superfícies que evitem derrapagens.


Alimento balanceado
Quanto à alimentação, Beatriz também faz uma ressalva: “Existem rações especiais para a raça que, além de serem balanceadas, apresentam um grão diferenciado, mais adequado para gatos com mandíbulas maiores. Uma alimentação inadequada pode causar déficit no desenvolvimento e perda de massa muscular (podem ficar mais magros). Raças mais estruturadas exigem um balanceamento diferente de nutrientes, como o cálcio, por exemplo”, aponta.
Angela também destaca a importância de manter a nutrição de qualidade através de alimento super premium, para que se tenha um gato dentro do limite adequado de peso. “Muitas vezes, tutores de Maine Coon querem ter gatos pesados, e não é bem assim que deve ser. No geral, um macho adulto castrado deve pesar em torno de 7 a 8 kg, mas não é regra. Depende muito do comprimento do gato. O Maine deve ser longo, esbelto e elegante. Nunca obeso”, alerta.
Pelagem exuberante
Para manter a bela pelagem da raça, escovação de pelos semanal é importante para prevenir nós, “principalmente nas partes mais longas – pescoço, barriga, cauda e ‘pantalonas’, que são os pelos das patas traseiras”, alerta Mônica. “O Maine naturalmente gosta de água, então desde que acostumado desde pequeno, banhos mensais ajudarão muito para que ele mantenha a exuberância da sua pelagem”, acrescenta a criadora.
Por Samia Malas
Contatos:
Ângela Stoicov: Gatil Cardigans – (www.cardigans.com.br);
Beatriz Mattes: Instragram @beatrizmattesveterinaria;
Greice Lessio: Gatil KatzeCoon – (www.katzecoon.com.br);
Mônica Sánchez: Gatil Alles Blau -(www.allesblaumc.com).
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