
A aparência da raça, bastante alterada pela interferência humana, provoca amor à primeira vista

Existente há centenas de anos, o Persa é originário do território correspondente ao atual Irã. No século XVII, ele já conquistava apreciadores de seu visual, que se destacava em relação ao de outros gatos. Enquanto esses últimos normalmente se caracterizam pelo corpo não muito robusto e pela pelagem curta, os primeiros Persas já se distinguiam pela estrutura física mais encorpada, ossatura mais poderosa e cabeleira mais farta e alongada. “Mesmo nessa época, a raça se diferenciava, principalmente pela pelagem longa e macia”, diz Edryanne Santilli, do gatil Santilli, de Brasília.
Em meados dos anos 1800, o Persa já estava nas mãos de criadores ingleses encantados com sua aparência única, que, na busca por um gato com ares cada vez mais convincentes de bicho de pelúcia, começaram a modificá-lo ainda mais por meio de acasalamentos selecionados. “Tornaram-se então os Persas no padrão que conhecemos hoje”, conta Denise Santili, que cria a raça junto com sua filha. No início do século passado, os norte-americanos foram importando Persas da Grã-Bretanha e, a partir daí, sua popularidade começou a crescer em todo o mundo. “Hoje o Persa é facilmente reconhecido por seu nariz achatado e pelo longo, sendo essas as principais características da raça”, diz Mario Zillo, do gatil Zillo, de Lençóis Paulista, SP.
Evolução
Como se viu, os exemplares modernos da raça foram bastante alterados pelo Homem, de maneira que, hoje, eles se parecem muito pouco com os Persas de antigamente. “Atualmente, os padrões da raça, independentemente da federação felina, preveem um gato de corpo curto e baixo, olhos redondos e grandes, orelhas pequenas e arredondadas na lateral da cabeça e focinho curto, com o stop, ângulo de encontro entre testa e nariz, na altura dos olhos”, afirma Edryanne.
Nos últimos anos, os criadores da raça vêm se atentando muito para a saúde de seus gatos. “Os olhos devem estar em simetria com as narinas, mas estas não devem ser muito fechadas, para não dificultar a respiração do Persa”, afirma Alessandra Baronowsky, do gatil Blanche, do Rio de Janeiro. Edryanne, Denise e Mario, que também é veterinário, concordam. Ele observa ainda um ponto que vem mudando no Persa: sua expressão facial. “Antigamente, os exemplares da raça tinham uma cara mais fechada. Atualmente, os criadores vêm procurando um aspecto mais doce, com os olhos bem expressivos, redondos e grandes. Com a crescente popularização, ficou mais fácil notar que os amantes de Persa preferem assim”, comenta o criador. Alessandra afirma que começou a criar a raça em 2005 e, desde aquela época, os gatis nacionais vêm aprimorando a qualidade de seus plantéis, de maneira que, a cada ano, nossos Persas se aproximam ainda mais das características solicitadas nos padrões da raça. “Noto uma evolução, o que vale inclusive para o meu gatil, na obtenção, por exemplo, de olhos grandes e orelhas pequenas: essas últimas são, aliás, o que mais venho tentando melhorar. É um trabalho demorado”, conta.
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Excelência
Como se viu, a criação da raça no País, já bastante consolidada, está em franca evolução. “Atualmente, possuímos exemplares que não deixam nada a desejar para os gatos europeus e americanos. Não à toa, na última década, tivemos vários campeões mundiais brasileiros, o que fez com que os criadores nacionais ganhassem mais visibilidade, a ponto de exportarem muitos Persas daqui para grandes gatis estrangeiros”, comenta Edryanne.

Realmente, de 2011 a 2019, oito Persas de criação ou propriedade de brasileiros conquistaram o título de world winner na Exposição Mundial da Fédération Internationale Féline, realizada anualmente. Na maioria das vezes, eles obtiveram tal título por terem se consagrado o melhor macho ou fêmea, adultos, da categoria 1 da entidade, que reúne, além do Persa, outras quatro raças: Exótico, Ragdoll, Sagrado da Birmânia e Turkish Van.
Em geral, os gatis brasileiros têm obtido sucesso também na escolha dos cruzamentos quanto à preservação do caráter extremamente amoroso da raça, selecionando os exemplares mais sociáveis, calmos, dóceis e afetuosos para a reprodução. “Além da beleza, o foco no temperamento dos gatos é uma meta da qual não se deve abrir mão. Não adianta o gatinho ter a cara fofa e linda, porém ser assustado e não gostar de carinho humano. A docilidade do Persa também deve ser levada em consideração na criação, pois um bom trabalho genético não visa apenas a aparência, mas também o cruzamento de gatos com comportamento cada vez mais manso e carinhoso, para que essas características temperamentais também sejam passadas adiante”, diz Edryanne.
Como o Brasil possui hoje alguns dos melhores Persas do mundo, não há mais tanta necessidade de se trazer um belo gato do exterior. Ainda assim, nos últimos dois anos, Mario importou exemplares da Europa, mais especificamente da França e da Itália. “Procuro realizar um trabalho de melhoramento da raça, e os Persas desses países têm características que somam ao meu plantel: na Europa, em minha opinião, há exemplares bastante sólidos, com mais estrutura, enquanto os Estados Unidos contam com espécimes com corpo bastante compacto e, no Brasil, existem Persas com belíssimos olhos”, explica o criador.
As criadoras Alessandra, Denise e Edryanne contam que, da parte dos criadores nacionais, também ocorrem importações de outros países, como dos Estados Unidos, Alemanha, Espanha e Japão, nações com ótimos gatis, de excelentes linhas de sangue na raça Persa. “Esses Persas importados nos últimos anos da Itália, dos Estados Unidos, Alemanha, Espanha e Japão pelos criadores brasileiros possuem a genética dos olhos azuis nos bicolores e também do odd eyes, ou seja, olhos ímpares, com duas cores diferentes, de maneira que um seja azul e o outro cobre, esta última a coloração original do olho da raça”, complementa a criadora Edryanne.

Odd eye

Alessandra conta que, no período em que começou a criação, havia uma enorme procura pelo Himalaio, ou seja, o Persa Colorpoint, cuja marcação, decorrente de um cruzamento entre um Persa e um Siamês no passado, caracteriza-se pelas extremidades – focinho, pés, orelhas e cauda – mais escuras que o resto do corpo e pelos atraentes, desejados e belos olhos azuis. “Por essa razão, em 2005, chegaram ao Brasil, por milhares de dólares, muitos desses gatos da Rússia, que sobressaía na época em excelência na criação de Himalaios”, relembra. “Já hoje há um grande desejo pelos Persas bicolores, em especial os de olhos azuis, e pelos exemplares da raça de olhos ímpares, principalmente por quem quer animais de estimação”, completa Alessandra. “Os Persas bicolores de olhos azuis e os de odd eyes são atualmente raros e muitos valorizados no Brasil”, diz Edryanne. “Os Persas pretos e os tricolores também estão ganhando seu espaço”, acrescenta Alessandra.
No cinema
Bastante popular entre os criadores, nos últimos anos o Persa se tornou mais conhecido mesmo entre os leigos em nosso país. “A figura da raça tem aparecido em muitos filmes e, assim, ganhou ainda mais visibilidade”, explica Alessandra. É o caso, por exemplo, do Persa da cor laranja sólido Bichento, que aparece nos longas-metragens do Harry Potter, que vão de 2001 a 2011; do Snowbell, Persa branco da trilogia Pequeno Stuart Little, que vai de 1999 a 2005; e do Persa branco Mr. Tinkles, de outra trilogia, Como Cães e Gatos, de 2001 a 2020. “Esses e outros filmes fizeram inclusive crescer a procura por Persas laranjas ou brancos que, ainda hoje, são muito vendidos pelo meu gatil, especialmente os brancos de olhos azuis: eles são demais de fofos, e aprimorá-los é meu grande objetivo desde o começo da minha criação”, afirma Alessandra. O Persa laranja é oficialmente designado de Persa red. No entanto, como nos gatos o vermelho não costuma ser muito intenso, ele é comumente chamado de laranja. “Já quanto aos brancos de olhos azuis, nunca se deve cruzar um casal com essas duas características, pois aumenta muito a chance de nascer algum exemplar surdo”, orienta Alessandra.

Infelizmente, a recente popularização ainda maior da raça trouxe também para a criação gatis não idôneos, que vendem exemplares fora do padrão e não realizam exames importantes antes dos acasalamentos. “Eles atrapalham aqueles que criam não só com o interesse no lucro, mas na melhoria do Persa”, lamenta Alessandra. “Com a maior popularização da raça, pode-se observar de uns tempos para cá o ingresso de criadores que trabalham no sentido contrário ao bom trabalho genético, até disponibilizando Persas para companhia sem serem castrados. Com isso, pessoas sem o mínimo conhecimento da raça fazem cruzamentos com gatos totalmente fora do padrão e até espalham por aí exemplares com doenças genéticas”, confirma Edryanne. Mario completa: “o bom criador se preocupa muito com a saúde de seus Persas e faz com que todo o plantel, inclusive os filhotes a serem entregues, seja testado para o vírus da leucemia felina (FeLV), da imunodeficiência felina (FIV) e para PKD, a doença do rim policístico”.

Alessandra afirma que, quando começou a criação, em 2005, não existiam laboratórios no Brasil para realizar exame de PKD. “Tanto que, para fazer esse tipo de teste nos meus gatos, tive que enviar o material com a amostra genética para a Austrália”, relembra. Tal realidade dificultava o diagnóstico da doença. Felizmente, a criação nacional avançou bem também nesse sentido. “Atualmente, já contamos com laboratórios que promovem esse teste no Brasil: o PKD é uma doença comum no Persa, e qualquer gatil que se preze deve fazer os testes genéticos para ele, de maneira que os positivos sejam castrados e demonstrando assim que o resto do plantel é negativo para o mal, que não tem tratamento”, afirma Edryanne. Mario explica que a FIV e a FeLV são doenças infecciosas, podendo ser transmitidas através de saliva, secreção nasal e lacrimal, urina e fezes de gatos portadores. “Já o PKD é geneticamente transmissível, tornando muito importante a realização desses exames no plantel da criação”, diz.
Alessandra, Denise e Edryanne afirmam que hoje qualquer gatil idôneo faz, no mínimo, os testes de PKD, FIV e FeLV de todos os seus gatos reprodutores.
Agradecimentos:
ALESSANDRA BARONOWSKY, gatil Blanche – (21) 97920-9999, [email protected], Facebook: Alessandra Baronowsky, Instagram: @gatilblanche, @alessandra_baronowsky, @alessandrabaronowsky
DENISE e EDRYANNE SANTILLI, gatil Santilli – (61) 99999-5456 (Denise Santilli), (61) 99933-0155 (Edryanne Santilli), [email protected], [email protected], Facebook: Gatil Santilli, Instagram: @gatil_santilli
MARIO ZILLO, gatil Zillo – (14) 99771-0610, [email protected], Facebook: Mario Zillo, Instagram: @gatil_zillo
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