Esses felinos têm conquistado os corações de gateiros no Brasil por sua grande conexão com o tutor e elegância particular

Dreams Marta, Siamesa Lilac Tabby Pointed/ Propr: Willians Marques e Rogério Ramos, gatil OriSiaBalD
Vivos, comunicativos, sociáveis, afetuosos e inteligentes. Essas são apenas algumas das qualidades do Oriental Shorthair (OSH), raça felina desenvolvida na Inglaterra na década de 1950, e do Siamês, raça de origem tailandesa bastante antiga com registros que remontam ao ano de 1350. Ambas são consideradas raças irmãs, pois na criação do OSH, o Siamês teve grande participação, mesmo que raças como o Azul Russo, British Shorthair e Abissínio também tenham sido usadas em seu desenvolvimento.
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O Siamês e o Oriental Shorthair possuem a mesma estrutura física e, se cruzadas entre si, originam ninhadas mistas de OSH e SIA. Ambos se destacam pela elegância, sendo gatos longilíneos. “São gatos alongados, elegantes, esgalgados, únicos, dotados de focinho, cabeça, pescoço, patas e cauda longos; cabeça em formato de cunha, triangular, com grandes orelhas abertas e inseridas lateralmente no crânio, que é arredondado no topo”, listam os gateiros Rogério Ramos, de Ibiúna-SP, e Willians Marques, de Alumínio-SP, do gatil OriSiaBalD que criam, em sociedade, cinco raças que fazem parte do grupo Oriental. São elas: Oriental Shorthair, Oriental Longhair, Siamês, Balinês e Peterbald.

Ramos e Willians Marques, do gatil OriSiaBalD

e Willians Marques, do gatil OriSiaBalD
O OSH foi aceito como raça pela Cat Fanciers Association em1977 e sua versão de pelo longo (o Oriental Longhair), apenas em 1995. “O Oriental Shorthair foi introduzido no Brasil pelos criadores franceses Gérard e Chantal Prunet, em 1980”, revela Rogério. Já o Siamês, foi aceito em 1934 pela CFA, embora estivesse presente na primeira exposição de gatos de raça realizada em Londres (no Crystal Palace Cat Show) em 1871.
A principal diferença entre ambas as raças está nas cores da pelagem que podem assumir. O Siamês possui a marcação colorpoint (ponteada – em que as extremidades são mais escuras que o corpo). Já o Oriental Shorthair é um “Siamês multicolorido”, já que sua pelagem pode assumir mais de 600 cores e padrões diferentes, além de olhos verdes, azuis ou odd-eyed (um olho verde, outro azul) – enquanto que no padrão do Siamês apenas o olho azul aparece, com a combinação de oito cores de pelagem, sempre ponteadas. Uma curiosidade é que o Oriental Shorthair e o Persa são os dois membros da gatofilia que mais têm possibilidades de cores em seus padrões. Mas esse ponto – e a fofura de ambos, claro – são apenas o que as raças têm em comum, pois, de resto, podemos dizer que são dois opostos. “Na grande régua das raças felinas, nós temos as do grupo Oriental em um extremo e as raças do grupo Persa (Himalaia, Exótico) no extremo oposto – estes últimos, gatos compactos, quadrados, atarracados, com patas e cauda curtas, focinho não projetado, alinhado com a testa e o queixo, grandes olhos redondos e pequenas orelhas também inseridas lateralmente. Todas as outras raças felinas têm um standard corporal intermediário entre esses dois grupos extremos, mais ou menos próximas de um lado ou do outro. Daí dizemos que o grupo Oriental e o grupo Persa contêm as raças mais extremadas do universo felino”, explicam os criadores.

Porém, não é só na aparência que Persas e raças Orientais se distinguem entre si. O temperamento e a convivência também são dois opostos! “Comparando raças Orientais com o Persa, notamos que este último é uma das raças menos interativas que existem, é muito pouco reativo. Quase não se movimenta, gosta de ser pegado e colocado no colo”, comparam.
CHICLETINHO É POUCO
O Oriental Shorthair e o Siamês são gatos muito interativos com seus tutores, e com as pessoas de modo geral. “É do tipo que busca contato visual e físico, pedindo atenção e esperando retribuição, seja para brincar, mostrar alguma coisa ou receber e dar afeto apenas. Ele está sempre disposto a isso. Ou seja, se o tutor estiver disponível, o Oriental Shorthair vai sempre andar atrás dele. Por outro lado, não é muito de colo porque está sempre em movimento – quando não dorme. Já o Siamês interage com o tutor numa escala pouco maior do que a do Oriental Shorthair”, descrevem os criadores. Aliás, não gostam de ficar muito tempo sozinhos. Se o tutor se ausenta de casa por longos períodos, o ideal é ter mais de um Oriental Shorthair, Siamês ou outro felino (de raça ou não), incluindo diferentes pets, para que um possa sempre brincar com o outro.
Assim, se você é daqueles que não gosta de ter uma sombra felina em casa, esses gatos definitivamente não são para você. Simone Gabriel Tiezzi, de São Paulo, é tutora da Oriental Shorthair Milla (ou Dope, o nome oficial da felina, que é BR*RGLandscapeCats Dope), de 3 anos e 6 meses. Ela conta que Dope é a gata mais amorosa, companheira, amável e doce que já teve o prazer de conviver. “Tudo sem deixar de ser exigente, tagarela e de impor suas vontades. É também a mais ‘grudinho’, porque ela quer estar ao meu lado o dia todo. Sentar no sofá ou em qualquer outro lugar sem a companhia dela, é praticamente impossível. Ama um colo e não perde uma única oportunidade. É minha parceira fiel de todas as horas, sem exceção. Ela viaja comigo na cabine do avião, adora participar de exposições e curte muito ficar num quarto de hotel. Tudo isso é uma delícia, porque ela se comporta muito bem e faz o maior sucesso”, diz Simone, que há mais de 20 anos tem gatos como pet em casa. Inclusive, Dope convive com a Maine Coon Kiara. “As duas se dão muito bem, brincam juntas e nunca tive qualquer tipo de problema em relação ao convívio delas, mas a Maine é a ‘dona do pedaço’ e a Oriental respeita e leva isso numa boa, até porque quando a Dope chegou, a Maine já estava comigo há mais de 3 anos”, diz Simone, que também teve um Persa por 12 anos. “Meu Persa foi um gatinho muito querido, amoroso e companheiro. Porém, o comportamento é diferente, o Oriental Shorthair é mais expressivo, mais ativo, mais intenso, é de fato inexplicável”, compara. Simone conheceu o OSH lendo tudo o que viu sobre a raça, inclusive, reportagens da Pulo do Gato. “Decidi ter uma segunda gata para fazer companhia à minha Maine Coon, que passava grande parte do dia sozinha, mas não queria outro gato ‘peludo’ no apartamento. De repente, me deparei com fotos desta raça e me apaixonei por ela. Mas tinha que ser uma Oriental fêmea branca de olhos azuis, que encontrei no gatil do querido Rogério Ramos, que conheci por indicação de Regina Salgado”, compartilha.

Maria Fernanda Siervi Lucarelli, do Rio de Janeiro, convive com o Oriental Shorthair Hermes há um ano, e já se apaixonou pela raça. A gateira ganhou o OSH de presente de seu marido, que sabia que era seu sonho. “O Oriental Shorthair é muito pouco difundido no Brasil, mas, nos EUA, é uma das quatro raças mais populares. Ele deveria ter mais divulgação aqui, pois é um gato excepcional! Hoje, convivendo com um OSH, tenho a certeza de que são realmente muito especiais. São comunicativos, inteligentes, muito agarrados com seus donos. Acho que sua principal característica é o elo que firmam com seus donos, realmente é algo diferente e especial. São muito carinhosos”, comenta Maria Fernanda. Como trabalha em regime de home office, fica praticamente o dia todo ao lado de seus gatos. “Ele gosta de dormir conosco, fica deitado no meu colo ou ao meu lado praticamente por todo o dia de trabalho. Quando saio e volto para casa, ele sabe que estou chegando quando o elevador abre e ele já me espera na porta! É uma raça que tem muita ligação com o dono, o que realmente é um diferencial deles”, descreve a tutora. Aliás, Maria Fernanda ressalta que quando ela precisa se ausentar, Hermes fica bem por não ser o único gato da casa, pois o Oriental Shorthair não é um gato que goste de solidão. “Além do Hermes, tenho outros dez gatos, todos Sem Raça Definida e resgatados; a história de cada um deles é contada no site www.fefla.com.br. Ou seja, estou envolvida com gatos há muitos anos e sempre achei essa raça espetacular, exatamente por suas características físicas marcantes, um corpo longo e forte, orelhas grandes, nariz comprido, pelo curto, rabo fino e comprido e pernas longas. Engraçado dizer que alguns acham o OSH um gato feio e outros, maravilhoso. Brincamos que quem o acha feio não está evoluído espiritualmente, só vê a beleza nos padrões estereotipados. Mas alguns, depois de um tempo, acabam enxergando a beleza nele. É curioso isso”, diz Maria Fernanda.


ENERGIA DE SOBRA!
Ambas as raças adoram correr e escalar postes de afiar as unhas. “Elas vão numa só perna e voltam descendo na outra, muito rapidamente. Correm atrás de bolinhas de papel e as trazem para que sejam jogadas novamente”, descrevem os criadores, ao diferenciarem o Siamês com um pequeno grau de energia a mais. Maria Fernanda também as define como muito ativas, acima da média dos demais felinos dela, pois brincam muito. “Hermes adora escalar e saltar! É muito brincalhão e tem uma energia muito grande. É um gato comum enorme poder muscular, mesmo sendo aparentemente esguio e comprido. Gosta de correr e saltar, o que exige que se tenha uma casa ‘gatificada’, com arranhadores de boa altura e brinquedos”, diz. “Hermes ama brincar e dar saltos gigantes. Ele pede para brincar. Meu marido passa uma hora no sábado, domingo, brincando com ele. Temos várias varetas, cobra, penas e ratinhos para estimular a criatividade dele. Ele chega a atrapalhar os outros gatos quando eles querem brincar, ele mia pedindo para brincar!”, completa a tutora.
TAGARELA, EU?
Ambas as raças miam muito e são conhecidas pela vocalização constante, dizem os criadores. “O OSH consegue estabelecer diferentes tons de miados para seus tutores, que acabam por identificar pedidos de comida, de brincadeiras (com brinquedos específicos), de chamar a atenção do tutor ou de outro Oriental Shorthair para dar e receber carinho. Porém, o Siamês é um pouco mais vocal, na altura e na quantidade de miados diferentes com que se expressa. Em uma escala de 1 a 10, o Oriental Shorthair vocaliza em 9, o Siamês vocaliza em 10”, comentam os criadores.
Há quem reclame que gato do grupo Oriental “falam” demais. Mas, há também quem ame essa característica e a tenha como um grande diferencial. “Por ser comunicativo e inteligente, desenvolve longas conversas conosco!”, aponta Maria Fernanda. “Ele não mia por miar, mas ele conversa muito. Se falo com ele, ele responde. Quando chego em casa, escuto ele miar na porta quando saio do elevador. Não é um gato chorão, digamos assim, mas sim muito comunicativo”, enfatiza a gateira.
INTELIGÊNCIA ORIENTAL
Outro ponto que é descrito por quem convive com a raça é que são facilmente treinados. “Realmente quando são chamados, eles vêm até seu dono. É simplesmente uma raça espetacular para se conviver”, diz Maria Fernanda. “Para ter uma ideia, fiz um quarto para os gatos, com arranhadores grandes para que brinquem e saltem e possam gastar toda a energia. Muitos brinquedos eu deixo em uma caixa à disposição deles e o Hermes é tão inteligente que, muitas vezes, chega a pegar o brinquedo, brincar com ele e o devolver na caixa”, acrescenta.
A inteligência aliada à sociabilidade das raças favorece a maior capacidade deles de adaptação em ambientes e situações diferentes. “Se puder acostumar o Oriental Shorthair ou o Siamês a usarem a guia com peitoral desde filhotes, eles vão adorar passear em lugares tranquilos e arborizados”, destacam os criadores.
GATIFICAÇÃO
Se tem uma palavra que anda na moda entre os gateiros é a gatificação. E para quem tem um OSH ou Siamês, ter um lar preparado para eles é essencial. “É preciso enriquecer o ambiente com passeadeiras suspensas, caminhos de prateleiras, altos postes de afiar as unhas. Os gatos da raça são de porte mediano, pesando de 3kg100g (fêmeas) a 3kg 600g (machos), portanto, não há necessidade de usar tocas altas e as caixas de granulado sanitário podem ser adequadas ao seu tamanho, nem grandes, nem pequenas demais”, destacam os criadores.

MUNDO DAS EXPOS
As tutoras Maria Fernanda e Simone também frequentam exposições felinas com seus exemplares de OSH Hermes e Dope que, desde filhotes, são muito bem treinados por elas. “Hermes tem sido muito elogiado pelos juízes nos campeonatos que ganhou pelas suas incríveis características, como força muscular e tamanho. Ele foi um dos maiores de todas as crias do Rogério. Um juiz chegou a nos perguntar: ‘por que castrou este gato? Ele seria um grande reprodutor’. De toda forma, ele tem feito seu papel”, aponta Maria Fernanda, que trabalha para quebrar a rixa que existe entre alguns criadores e protetores de animais. “Somos todos iguais, todos queremos o bem dos gatos. Ficamos felizes em descobrir que há uma categoria ‘Housecat’, para gatos SRD, nas exposições, e pensamos já em levar Hermes com seu maior companheiro e amigo, o nosso gato SRD Nenémzico que, inicialmente, o estranhou e agora, viraram grandes amigos! Brincam de luta, dormem juntos, se amam demais!”, finaliza a tutora. Já Simone, desejava participar de exposições de gatos com Dope antes mesmo de a companheira felina chegar em sua vida. Para tal, quase importou um exemplar da Rússia por acreditar que não havia criadores da raça no Brasil. “Dope se destaca nas exposições desde a primeira vez que a levei. Como ela é castrada, compete na classe fêmea castrada, mas sempre leva algum prêmio. Viajo com ela pelo Brasil todo para competir e ela ama tudo! A viagem, a exposição, tudo!”, compartilha Simone. Embora a pandemia tenha impedido a realização de exposições nos últimos anos, Dope já é superpremiada. “Recentemente venceu como Melhor Gato de todas as raças de gatos castrados que estavam no evento do American CatClub (ACC), afiliado à The International Cat Association (TICA). Um dos juízes me disse que ela nasceu para isso, de tão bem que ela se apresentou. Pela Fédération Internationale Féline (FIFe), ela já é Grand International Premier e deve conquistar o título de Suprema Campeã no início de 2023”, se orgulha Simone.
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“Em minha vida, convivi com apenas quatro raças diferentes e todas as experiências foram muito satisfatórias, mas com a Dope, não é apenas satisfatória, é inexplicável, é mágica! É uma raça encantadora, você se apaixona por ela no primeiro contato e o amor só aumenta a cada dia”, finaliza Simone.
WILLIANS MARQUES E ROGÉRIORAMOS, gatil OriSiaBalD – E-mails:[email protected]@gmail.comInstagram: @orientalcatsbrMUNDO DAS EXPOS
Por Samia Malas