Novo teste traz mais rapidez no diagnóstico de esporotricose

Criadora Iemanjá Cristiane Santos e Sousa conta um pouco sobre seus cuidados com os gatos e rotina do gatil

A doença, embora não seja severa em humanos, produz feridas graves em gatos e pode ser fatal

Imagem de Konstantin Kolosov por Pixabay

A esporotricose é uma doença que pode ser grave em felinos e é causada por fungos encontrados na natureza, em árvores, no solo etc. Felinos podem se contaminar tendo contato direto com o fungo ou através de mordidas, secreções ou arranhões de outro animal que já esteja infectado. “O fungo está presente nas lesões cutâneas e/ou nas secreções mucosas do animal infectado; nas garras do felino (doente ou não); ou em um ambiente contaminado. Arranhar madeira ou enterrar as fezes no solo, podem ser formas de contaminação do felino”, destaca a Dra. Leila Maria Silva Lopes, CEO e fundadora da BI Diagnostics, startup responsável pelo desenvolvimento do novo teste para detecção da esporotricose, o Sporothrix-ELISA para felinos e para humanos. “A meta inicial é que os kits Sporothrix-ELISA estejam industrialmente disponíveis no final de 2023”, diz Leila, que estuda esporotricose há mais de 20 anos. O kit de ELISA para humanos ainda não está disponível para compra no mercado, mas, pelos ótimos resultados que obteve, é oferecido no LIM53 do Hospital das Clínicas da USP, em forma de parceria público-privada. Da mesma forma, o teste de ELISA para felinos é oferecido por laboratórios de medicina diagnóstica animal, como “early adopters” dessa inovação diagnóstica.

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Em paralelo, a BI Diagnostics está desenvolvendo uma nova versão, um Teste Rápido, segundo explica Leila, em conceito de Point of Care (POC), que poderá ser usado como teste de triagem no momento da consulta pelo veterinário. “O nosso teste permitirá que o profissional realize o diagnóstico em 15 minutos, para uma triagem dos felinos com suspeita de esporotricose. Isso reduz custos, simplifica a logística e diminui o tempo de diagnóstico”, complementa a geneticista Dra. Maria Griselda Perona, da área de pesquisa e desenvolvimento da BI Diagnostics. Segundo Leila, atualmente, o teste padrão-ouro para detectara doença, o teste micológico, depende de material clínico coletado através de swab (cotonete), é demorado (leva de 15 a 30 dias) e envolve mais custos para ser realizado. “A taxa de falsos negativos é alta no teste micológico, pois o fungo pode, eventualmente, não estar presente na região da coleta clínica”, destaca Perona, que acredita que o novo teste rápido, que é sorológico e feito através de coleta de uma gota de sangue do animal, será mais uma forte ferramenta para triagem e diagnóstico da doença. “Assim, aumentamos a certeza do diagnóstico, acelerando o início do tratamento e melhorando as chances de cura”, acrescenta.

O Teste Rápido está sendo desenvolvido com apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP e será codesenvolvido pela Innovation Hub in Point of Care Technologies (POCT Hub), em colaboração coma Merck. O próximo passo do projeto é avaliar a viabilidade, adaptações e outros pré-requisitos para a produção industrial do teste.
Perona explica que o primeiro projeto da startup teve como foco o desenvolvimento de um teste laboratorial para humanos, e o segundo focou nesse teste rápido para gatos. “O objetivo agora é transformar os testes – para humano se para animais – em produtos que serão pioneiros no mercado brasileiro”, aponta Perona

GRAVIDADE DA DOENÇA

Os primeiros sintomas em felinos são pequenas feridas no focinho, nas orelhas e na cabeça que, se não tratadas, podem se agravar, espalhando-se por todo o corpo através de lesões com secreção úmida e de coloração avermelhada. Após a contaminação, a esporotricose pode evoluir em três fases. “Na primeira, a doença é caracterizada por lesões nodulares avermelhadas – individuais ou múltiplas – na pele do animal. Na segunda, a infecção progride formando úlceras na pele e atinge o sistema linfático do animal. Por fim, chega a um ponto tão crítico, que todo o organismo do pet é afetado. Com o agravamento, as úlceras se tornam cada vez maiores e mais profundas, acometendo articulações, ossos e pulmões”, alerta a veterinária Yolanda Antunes.
Segundo Perona, foi na década de 1950 que o primeiro caso da doença, que é uma zoonose, foi descrito em felinos. Hoje, a esporotricose tem se alastrado pelo Brasil sem nenhuma política de controle epidemiológico. Para se ter uma ideia, entre 2011 e 2021, o número de felinos diagnosticados coma doença subiu 1.342%, ou seja, de 71 para 1.024 casos, de acordo com levantamento feito pelo Laboratório de Zoonoses e Doenças Transmitidas por Vetores (Labzoo), da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de São Paulo. A doença também tem crescido no estado do Rio de Janeiro, sendo que, só na capital fluminense, os casos notificados em 2019 representaram10% da população felina da cidade.
Diante de tal cenário, um novo teste realizado para o diagnóstico rápido e preciso da doença em gatos pode ser um grande aliado no combate a esse mal, que, em humanos, manifesta-se de forma menos grave, mas também tem como sintoma feridas nas extremidades do corpo, como pés e mãos, que se espalham em menor velocidade que em felinos. “Segundo relatos da literatura, humanos não transmitem a doença. Mas o gato, transmite para outros animais e pessoas”, diz Perona.

CAUSA, PREVENÇÃOE TRATAMENTO

Como dito, o causador da esporotricose zoonótica é um fungo, que, até 2015, acreditava-se erroneamente que era a espécie Sporothrix schenckii. “O Sporothrix brasiliensis foi descrito em 2007, mas só em 2015 se confirmou que esta espécie era a responsável pela transmissão zoonótica da doença”, frisa Perona. O tratamento para a doença é feito através de antifúngicos, mas é longo. “Dura no mínimo de três a quatro meses e pode se estender por até um ano. Quanto antes o tratamento é iniciado, melhor o prognóstico. Por isso é tão importante ter um diagnóstico preciso e precoce”, reforça. Como o fungo se encontra na natureza, a principal medida para o controle da doença deve ser o cuidado de manter o pet indoor. Assim, diante de qualquer lesão na pele do seu felino, procure um veterinário.

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Nossos agradecimentos:

Leila Maria Silva Lopes, Mestre em Patologia Veterinária e Doutora em Parasitologia Veterinária. Atua no Laboratório de Tecnologia e Inspeção de Pescado da Universidade Federal Fluminense.

Maria Griselda Perona, Doutora em Bioquímica (USP). Atua principalmente com: processamento de RNA, controle de expressão gênica, interação proteína-proteína e modificações pós-traducionais de proteínas

Yolanda Antunes, Gerente da Unidade de Negócios Pet de uma indústria de saúde animal.

 


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