9 mitos e verdades sobre o Exótico

Ele está no seu ápice quanto à qualidade da criação no País e é popular há tempos em várias nações no mundo, como os Estados Unidos

Foto: Daniela Furlan (@fotogeniapet)/ Gatil Nemjuly
Cat/ Gata: Nemjuly Cat La Vie En Rose

Compacto e redondo, com olhos redondos, nariz bem achatado e pernas curtas, o Exótico chama muita atenção e é um sucesso mundial. Tanto que na tradicional associação de criadores de gatos dos Estados Unidos, a Cat Fanciers’ Association, com clubes afiliados espalhados pelo planeta, ele foi a 4ª raça que mais obteve registros em 2024, entre 45: perdeu apenas para o Maine Coon, Ragdoll e para a raça considerada sua “irmã”, o Persa, do qual ele foi diretamente desenvolvido a partir dos anos 1950 e 1960. Ao longo do tempo, muitas informações diferenciadas e alguns pontos polêmicos o envolveram. É por isso que fomos investigá-las, para descobrir o que é verdade e o que não passa de mito.

Foto: Daniela Furlan (@fotogeniapet)
Gata: Nemjuly Cat La Vie En Rose, Gatil: Nemjuly Cat
Foto: Silvia Pratta/Propr.: Alex Martins (gatil Daruma)
Característica de um típico Exótico: corpo compacto e redondo,
olhos redondos, nariz bem achatado e pernas curtas

1 – Há quem afirme que o famoso personagem de cartoon Garfield, criado há 40 anos e universalmente conhecido, é um Exótico. Apesar de a maioria dos gatófilos dizer tratar-se de um Persa, tais pessoas alegam que o Garfield é um gato de pelo curto, o mesmo comprimento de pelagem do Exótico. O Garfield é mesmo um Exótico?
O criador de Exótico e Persa Alex Martins, do gatil Daruma, de Sorocaba, SP, explica que, quando o Garfield foi criado, no final dos anos 1970, o Persa já era mundialmente conhecido, enquanto o Exótico ainda estava conquistando sua popularidade, tendo sido reconhecido como raça pelas federações no final da década de 1960 e começo dos anos 1970. “De acordo com muitos relatos, Jim Davis, o criador do Garfield, se inspirou no Persa ao desenhá-lo com o corpo rechonchudo, a carinha achatada e o jeito preguiçoso e mimado. No entanto, não existia na época tecnologia para ilustrar a pelagem longa e farta da raça e, então, o personagem passou gradativamente a ser ligado com o Exótico que, de fato, é a melhor raça para ser associada ao Garfield”, sentencia Alex.

Foto: Silvia Pratta/Propr.: Alex Martins (gatil Daruma)
Exótico Piropo: campeão mundial em 2019
Foto: Silvia Pratta/Propr.: Alex Martins (gatil Daruma)
“Apesar de ser uma raça mais jovem, o Exótico tem uma diversidade genética
maior que o Persa”, afirma o criador Alex Martins

2 – O Exótico foi realmente gerado por um acasalamento acidental, como afirmam vários, ou desde o início a intenção era agradar algumas pessoas que admiravam o Persa, mas não dispunham de muito tempo para os cuidados com a pelagem dele, o que dificultava sua manutenção?
A criadora de Exótico e Persa, Juliana Rodrigues, proprietária, junto da filha Jayana, do gatil Nemjuly Cat, de São Paulo, explica: “O Persa sempre foi amado por sua beleza e temperamento dócil e carinhoso, mas havia a questão da pelagem ser longa e difícil de ser cuidada. Então, muitos criadores tiveram a ideia de trazer a facilidade do pelo curto para ele, gerando, por meio de cruzamentos com gatos de outras raças, o Exótico, que traz o comportamento amoroso e inteligente do Persa somado à facilidade da pelagem curta: ela não forma nós como a desse último, não exigindo a escovação diária, o que se transforma em ganho de tempo na rotina doméstica, e tal facilidade é algo que hoje em dia as pessoas procuram bastante. No Exótico, os próprios banhos não precisam ser frequentes, diferentemente do seu irmão de pelo longo. No Persa, como a pelagem tende a ser mais oleosa, precisa de banhos regulares, especialmente em algumas variedades de cor”.

Foto: Arquivo da criadora do gato: Juliana Rodrigues (gatil Nemjuly Cat)
“Tanto os meus Persas como os meus Exóticos são danados e espertos”, garante a criadora Juliana Rodrigues
Foto: Arquivo da criadora do gato: Juliana Rodrigues
(gatil Nemjuly Cat)/Gato: Nemjuly Cat Eddie
“Exóticos machos e fêmeas são igualmente amorosos e, no quesito independência, Persas e
Exóticos são similares”, diz Juliana

3 – É verdade que boa parte dos acasalamentos envolvendo Exóticos hoje é realizado com Persas? Se sim, por que as federações do segmento mundo afora ainda autorizam esses cruzamentos e com quais objetivos eles são realizados? E o critério para considerar os descendentes como Exóticos ou Persas baseia-se apenas na aparência deles?
Alex diz que sim e explica: “As federações permitem porque as consideram raças irmãs, já que carregam praticamente a mesma genética, diferenciam-se apenas pelo gene recessivo para pelo longo – Persa – e dominante para pelo curto no caso do Exótico. Assim, os filhotes desses cruzamentos não são mestiços, sem raça definida. Eles nascem 100% Persa ou 100% Exóticos”. O criador esclarece ainda que essas cruzas são feitas por estratégias de criação. “Tais acasalamentos diversificam e fortalecem a genética dos gatos envolvidos, resultando em maior variedade e qualidade dos filhotes de acordo com o padrão”, complementa Alex. “Esses cruzamentos aprimoram ambas as raças tanto quanto à estrutura como à textura do pelo dos gatos envolvidos. Na maioria das associações do segmento espalhadas pelo mundo – incluindo as com clubes afiliados no Brasil –, a definição da raça dos descendentes desses cruzamentos baseia-se apenas na aparência de pelo curto ou de pelo longo”, explica Juliana. Ela acrescenta: “Inclusive em gatis que criam mais Exóticos existe a possibilidade de nascer Persa do cruzamento de dois Exóticos: e, mesmo sendo o gene de pelo curto dominante, já presenciei até casos de nascer só Persa”.

4 – Algumas entidades, como a American Cat Fanciers Association (ACFA), reconhecem o Exótico de pelo longo. Quais seriam as diferenças entre esses gatos chamados pela ACFA de Exotic Longhair e a raça Persa?
A ACFA é uma entidade que não conta com clubes afiliados no Brasil. Nessa associação, quando nasce um Persa de dois Exóticos, eles o registram como Exótico de pelo longo. Uma das diretoras da entidade, Karly Chnupa, justifica: “Nossa associação tem como norma se basear na genética dos gatos dos criadores afiliados e consideramos que o Persa é a raça natural enquanto o Exótico é um híbrido e, assim, achamos que todos os filhotes dos acasalamentos entre os dois irá sempre ser um Exótico, sendo os de pelo longo um Exótico Longhair, cujo único fator de diferenciação em relação ao Persa deve ser a genética deles. Vale ressaltar que tivemos até um Exotic Longhair que foi Gato do Ano muitos anos atrás. Aliás, boa parte de nossos criadores afiliados sempre se destacaram por ter exemplares maravilhosos que se encaixam tanto no padrão do Persa como no Exotic Shorthair, exceto, é claro, pelo comprimento da pelagem”.

5 – É verdade mesmo que o Exótico se mostra mais ativo que o Persa? Se sim, isso ocorre só por causa da pelagem mais curta ou tem a ver com a herança de outras raças (American Shorthair e/ou British Shorthair) utilizadas na formação do Exótico?
Juliana afirma: “O Exótico é mais ativo que o Persa até no quesito de dormir menos. Se o tutor deixar, esses gatos ficam o dia todo brincando. Acredito que não tenha a ver com a pelagem, mas sim com a herança genética que eles carregam. Ela fala mais alto”. A criadora, no entanto, pondera: “Mas é algo que depende também da linha de sangue trabalhada pelo gatil e, obviamente, da saúde dos filhotes”.
Já Alex define o Exótico como sutilmente mais ativo que o Persa. “Ele realmente tende a ser mais curioso e brincalhão. Isso é explicado geneticamente, pois o Exótico se originou do cruzamento do Persa com outras raças de personalidades mais interativas e sociáveis. Mas também decorre do fato de a pelagem curta permitir maior mobilidade, tornando o Exótico mais disposto e mais ágil”, opina o criador.

6 – É verdade que os machos de Exótico são mais carinhosos do que as fêmeas, que tendem a ser mais independentes? Se sim, há alguma explicação para isso?
Alex afirma que não há uma regra sobre tal diferença entre sexos. “Mas, boa parte de nós, criadores de gatos de raças, percebemos uma pequena diferença, não apenas no Exótico, mas nos felinos em geral os machos tendem a procurar mais contato físico e tornam-se mais companheiros durante as atividades do dia a dia”. Juliana completa: “Até por isso tem gente, como eu, que gosta mais dos machos, mas considero os Exóticos de ambos os sexos igualmente amorosos”. Alex lembra que a relação com o dono é muito importante. “Fatores como ambiente, linhagem e socialização também são determinantes”, ressalta.

Foto: Daniela Furlan (@fotogeniapet)/Gato: Nemjuly Cat Eddie/
Criadora do gato: Juliana Rodrigues (gatil Nemjuly Cat)
Exóticos e Persas típicos são extremamente iguais quanto à estrutura de cabeça
Foto: Silvia Pratta/Propr.: Alex Martins (gatil Daruma)
Fêmea de Exótico da cor Black Tortie Tabby Van

7 – Há quem diga que, além da questão do comprimento da pelagem existe outra diferença física entre o Persa e o Exótico: este último teria musculatura mais definida, sendo mais bem estruturado e pesado do que o Persa. Isso realmente é verdade?
Juliana explica que ambas as raças pesam entre 4 a 7 kg e têm exatamente a mesma musculatura. “É que, no Persa, a pelagem mais longa esconde a parte ‘bombada’ deles, gerando normalmente a falsa impressão de que o Exótico, com seu pelo extremamente denso e curto, tenha musculatura mais definida”, esclarece a criadora.
Alex corrobora: “Em virtude da pelagem, o Exótico aparenta ter corpo mais robusto e pescoço mais curto, mas o padrão destas raças é o mesmo”. Aliás, para Juliana, ambos aparentam ser bem gordinhos, mas o Persa parece ainda mais, justamente por sua pelagem extremamente longa. Ela finaliza: “Estou levando às exposições um Persa e um Exótico que têm exatamente a mesma estrutura, mas com diferença de 300g para o Persa, por causa da pelagem, que engana a visão. Mas as duas raças são extremamente iguais para mim em estrutura, considerando cabeças, pernas, entre outros. E o próprio padrão exige que seja assim”.

Foto: Arquivo do propr.: Juliana Rodrigues (gatil Nemjuly Cat)
Exótico QGC Foro Romano Felipe Augusto, do gatil Nemjuly, sendo avaliado pela juiza da Tica Aline Broda em exposição

8 – É verdade que, considerando o Persa e o Exótico, apenas este último tem o toque plush (pelúcia) da pelagem? Se sim, por quê já que ambas as raças têm o mesmo padrão e são consideradas irmãs?
Juliana comenta que, de fato, a textura de pelagem extraordinariamente macia é uma característica própria do Exótico.
Alex explica que, como a pelagem do Exótico é bastante densa e tem muito subpelo, sua textura é especialmente macia e aveludada, fazendo lembrar uma pelúcia. “Assim, entre o Persa e o Exótico, essa característica é encontrada de fato apenas em exemplares de boa qualidade do último. Mas há outras raças que a apresentam, como o British Shorthair”, explica o criador.

9 – É verdade que hoje em dia os Exóticos de coloração sólida (ou seja, de uma única cor, sem nenhum tipo de alteração dela, como listra/tabby ou mancha branca, são considerados raros por terem genética difícil de obter?
Juliana diz que não e explica: “Nenhuma cor é geneticamente difícil se o criador souber planejar suas ninhadas. O que acontece é que muitos criadores, tanto de Exóticos como de Persas, têm privilegiado os bicolores em relação às outras variedades de coloração. Mas isso é algo muito pessoal e não significa que Exóticos (e também Persas) bicolores são necessariamente melhores do que os sólidos. Apenas temos mais criadores trabalhando e aperfeiçoando os bicolores, por isso pode-se ter essa impressão. Atualmente sou procurada especialmente por exemplares sólidos”.
Alex esclarece: “Geneticamente, os sólidos não são raros e difíceis de obter. Para gerá-los, basta cruzá-los entre si. Já no caso do acasalamento entre dois bicolores, há uma chance de se gerar gatos sólidos, enquanto de sólido com sólido não nasce bicolor. Assim, geneticamente, seria até mais difícil obter bicolores”. Ele completa: “O padrão de qualidade dos Exóticos e Persas bicolores em nosso país (e também nos Estados Unidos) foi ficando muito forte, o que acabou refletindo em exposições, onde eles começaram a chamar tamanha atenção que os sólidos pararam de se destacar e foram desaparecendo desses eventos. Mas, principalmente na Europa, os criadores passaram a repensar os cruzamentos e hoje se pode observar que os principais gatis voltados às exposições naquele continente estão apresentando gatos sólidos”. Vale lembrar de um gato deve considerar muito mais que a cor. Há toda uma estrutura física, saúde e temperamento, que acompanham a excelência de um exemplar.

Agradecimentos:
Alex Martins, gatil Daruma – (15) 99121-0389, Instagram: @alexdaruma
Juliana e Jayana Rodrigues, gatil Nemjuly Cat – (11) 99297-7393, wwww.gatilnemjulycat.com, [email protected], Instagram: @gatil_nemjulycat, Facebook: gatil Nemjuly Cat

Por: Fabio Bense

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