O modo em que uma gata alimenta e protege seus filhotes é uma atitude naturalmente esperada e ninguém duvida que ela, após o parto, consiga realizar todas as tarefas para facilitar e garantir a sobrevivência dos seus filhotes recém-nascidos. O instinto materno consiste em um número de atividades executadas pela mãe e direcionadas para sua prole com o objetivo de obter filhotes saudáveis e capazes, sendo expresso pelo desejo da fêmea parida em sacrificar o seu tempo e energia a fim de cuidar dos filhotes recém-nascidos até o desmame.
As gatinhas que vivem protegidas nos nossos lares recebem uma ajuda significativa nesta tarefa. Afinal, não precisam ausentar-se por períodos muito prolongados para caçar ou defecar/urinar longe das redondezas onde estão seus filhotes. Contudo, para as gatinhas de vida livre ou fêmeas felinas de outras subespécies, a maternidade representa um período de maior dedicação, aumento da vulnerabilidade e necessidade de um aporte nutricional maior.
Seja com maior ou menor dificuldade, a reprodução bem-sucedida, ou seja, a obtenção de filhotes de gato saudáveis para dar continuidade à existência das gerações futuras é o objetivo final de toda fêmea. Entretanto, o processo pelo qual a mãe e seus filhotes desenvolvem uma relação tão próxima não é claramente compreendido. Uma pergunta que se faz muito é: quem ensina as gatinhas a serem boas mães? O que incentiva a gata a realizar todos os comportamentos de forma ajustada, cronometrada e sequencial para com seus filhotes?
Como a ciência explica instinto maternal no comportamento felino
Surpreendentemente, algumas pesquisas sugerem que a maioria das fêmeas não humanas, assim como as gatinhas, não possui a consciência da gestação até que realmente vejam seus filhotes. Acredita-se que uma série de modificações hormonais, físicas e circunstanciais favoreça o chamado instinto materno.
Próximo ao término da gestação felina, as gatas escolhem, à medida que ficam cada vez mais pesadas e pouco ágeis, um local seguro e confortável para permanecerem mais seguras. Ajudadas pelo aumento da atividade das glândulas cutâneas devido às variações hormonais da gestação, elas fazem deste esconderijo um local protegido e repleto de cheiros específicos e acolhedores que fazem os filhotes reconhecerem este local como ninho. Assim, a ninhada permanece silenciosa e confortável enquanto a gata, agora mais ágil e mais faminta, ausenta-se gradativamente para procurar alimento.
Mudanças hormonais após a gestação felina
Quando não estão prenhes, de um modo geral, as fêmeas sentem-se repelidas por filhotes recém-nascidos. Contudo, já se sabe que os hormônios da gestação (estrógeno, progesterona e ocitocina) modificam áreas específicas do cérebro das mães, desencadeando importantes mudanças na capacidade olfativa, o que permite que a mãe estabeleça o vínculo com o seu filhote.
Esta alegação científica alia-se à citação espiritualista de Rajneesh Osho (1931 – 1990), que modificada para prestigiar nossas amigas felinas afirma que, no momento em que um gatinho nasce uma mãe gata também nasce. A gata existia, mas a mãe nunca. Essas mudanças podem ocorrer de formas diferentes (exuberantes) e poderia justificar porque algumas gatinhas aceitam filhotes órfãos mesmo não vivendo em gatis ou colônias de gatos de vida livre, onde ocorre a cooperação entre gatas no cuidado dos filhotes.
Filhotes de gato e o instinto materno
Os gatinhos, assim como os recém-nascidos de algumas outras espécies, nascem sem a capacidade de urinar e defecar “por vontade própria”. Tais filhotes necessitam de estímulo na região ano-genital para a eliminação de fezes e urina.
Filhotes que não recebem este estímulo podem morrer em até 48/72 horas. Novamente: quem ensina a gata que ela deve lamber essa região do filhote de forma periódica para que eles não se sintam desconfortáveis e acabem por não mamar? Pesquisas apontam que glândulas localizadas na região ano-genital dos filhotes parecem produzir odores que estimulam e direcionam as lambidas da mãe.
O que nos leva a imaginar que filhotes debilitados ou com defeitos congênitos acabem sendo ignorados por suas mães. Uma vez que, sem sucção do leite materno por doença ou pouca habilidade corporal, eles não produzem calor e, assim, não liberam odores que chamam atenção da mãe. Da mesma forma que alimentos quentes são mais olfatoriamente atrativos do que frios, um filhote com temperatura baixa pode representar um sinal para a gata dedicar pouca ou nenhuma atenção para um filhote com menor chance de sobrevivência.
Entender de forma científica o comportamento materno não tem a intenção de somente explicar o instinto materno. Os estudos fornecem bases para condutas que vão melhorar cada vez mais os esforços de transformar esse momento importantíssimo na vida de nossos amigos felinos em um momento de alegria supremo. Portanto, uma recomendação antiga deve ser mantida: nos primeiros instantes após o parto, manipule os recém-nascidos somente quando for realmente necessário.
Nossos odores naturais, mesmo que fazendo parte dos odores rotineiros das nossas gatas, podem atrapalhar o estabelecimento do vínculo com seus filhotes. E só para relembrar: ao deparar-se com um gatinho recém-nascido e órfão, aplique suavemente um pedaço de algodão umedecido na região ano-genital fazendo às vezes das lambidas da mãe. As “lambidas” devem ser com intervalos regulares. Depois de aliviar o filhotinho, leve-o a um médico veterinário para complementar-se de informações.
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