Além da cauda curta que chama a atenção, ele se destaca pelo temperamento amigável

Gato: Sons of Avalon A Small Miracle
Eis um gato de muita originalidade em sua aparência. “A maior particularidade física do Kurilean Bobtail é a cauda em forma de pompom”, afirma Andrea Valete Machado, do gatil Sons of Avalon, de São Paulo. “Além do rabo, a raça possui outras características adoráveis, inclusive comportamentais. Sua afetuosidade é o que mais encanta as pessoas depois de conhecê-la”, comenta Siv Cath Brauter, do gatil Siv Cat’s, da Noruega. “Ele lembra uma lebre e, ao mesmo tempo, um lince predador, o que proporciona ao tutor a sensação de ter dentro de casa um animal selvagem, mas amigável e carinhoso”, conta Maria Epifanova, do gatil Free Hunter, da Rússia. “O temperamento desses gatos é cativante, por serem bastante sociáveis e adaptáveis”, reforça Andrea. “São também bem inteligentes e fáceis de treinar”, acrescenta Malin Levinsson, do gatil Kot-á-Kuril, da Suécia.
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FORMAÇÃO NATURAL
De existência relatada há mais de 200 anos, o Kurilean é um felino doméstico nativo das Ilhas Curilas. Como elas ficam logo ao leste da Rússia, são administradas por tal país. “Esses gatos de cauda curta continuam vivendo livremente nas ruas das áreas rurais de lá”, afirma Maria. Considerando federações do segmento ainda em atividade, a primeira a reconhecer o Kurilean Bobtail como raça foi a World Cat Federation (WCF), em 1994. A Fédération Internationale Féline (Fife), só o aceitou em 2004.
As Ilhas Curilas são próximas também ao Japão. “Alguns dizem que o Kurilean é fruto de acasalamentos entre o Japanese Bobtail com gatos da raça Siberiano, que teriam sido levados às ilhas, mas são apenas especulações”, relata Andrea. Maria informa: “Não só a cauda curta, mas também o físico do Kurilean Bobtail é resultado da evolução nas condições inóspitas das ilhas, área que anteriormente era fechada. Assim, não houve cruzamentos com outras raças e gatos domésticos”. Ela se refere ao fato dessas ilhas possuírem mais de 100 vulcões, 35 deles ainda em atividade. “Há muitas versões quanto à origem desse gato. Inclusive a que o considera um felino selvagem de floresta, o que tampouco é verdadeiro”, sentencia Maria.

A cauda do Kurilean Bobtail possui cerca de 5 cm

Listas grossas típicas da cor brown/black classic tabby, que fazem o exemplar da raça parecer com gatos da floresta
RARO
“Na Rússia, há um maior número de gatis e gatos da raça e, assim, ainda é o melhor lugar para obter exemplares reprodutores afim de manter a diversidade e evitar cruzamentos consanguíneos”, explica Siv. “Precisamos deles para aumentar nossas linhas de sangue”, confirma Malin, cujo gatil, tal como o de outros criadores responsáveis, trabalha para haver o mínimo possível de consanguinidade. “Mas, com o prosseguimento da guerra, o clube ao qual estou afiliada não permite importar exemplares russos e, portanto, para nós, criadores, o plantel reprodutor está limitado”, relata Siv. “Com a dificuldade de se adquirir gatos da Rússia, poucos filhotes vêm sendo gerados no momento, havendo declínio no número de ninhadas em vários países”, corrobora Malin. Antes de o conflito eclodir, a própria Siv adquiriu dois gatos russos em colaboração com uma amiga que também cria o Kurilean na Noruega (os gatis delas são os únicos da raça por lá). Andrea é outra que, em anos anteriores ao conflito, realizou três importações da Rússia (duas fêmeas e um macho).
Outro fator contribui para o Kurilean ser uma raridade: “Ele não é uma raça comercial, pois muitas pessoas ainda não entendem como um gato pode ter cauda curta. Vários gatis na Rússia e outros países estão fechando devido ao fato de eles não conseguirem encontrar pessoas com ideias semelhantes para o desenvolvimento da raça”, conta Maria. “Há aqueles que amam a cauda curta, mas a maioria a acha muito estranha e prefere gatos com cauda normal”, corrobora Siv.
“O Kurilian Bobtail é bastante interessante e marcante – lamentável a sua raridade”, afirma Maria. “Trata-se de uma raça para cair de amores, bastante saudável e incrível em termos de comportamento, mas muitas pessoas não a conhecem. Tenho fé que em breve isso irá mudar”, completa Siv. Malin é outra que está otimista quanto ao futuro, pois nota que a popularidade desse gato cresceu na Suécia desde 2010, quando começou o gatil. Andrea tem o mesmo sentimento: “O Kurilean tem tido maior visibilidade e representatividade, pois, entre 2017 e 2023, dois exemplares da raça se consagraram campeões mundiais pela Fife, na categoria castrados”. Um deles, Kot-à-Kuril Kassanova, é de criação de Malin: “Ele é o primeiro Kurilean nascido em meu gatil a obter o título de campeão mundial e atualmente pertence à Mira Niininen, da Finlândia”, conta a sueca. “Kassanova é irmão de um de meus gatos”, diz Andrea.

Com a atual dificuldade de se adquirir gatos da Rússia, poucos filhotes da raça vêm sendo gerados em vários países

As orelhas, inseridas em uma cabeça grande, podem apresentar tufos de pelos nos exemplares de pelagem longa
NAÇÕES
Maria afirma: “Na Rússia, há cerca de 40 gatis trabalhando ativamente com o Kurilean Bobtail e quase todos são afiliados à WCF, enquanto no resto da Europa existem ao redor de 25 gatis, e 90% deles são registrados na Fife”. Quanto a esses últimos, a maioria está localizada nos países nórdicos – Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia (onde há seis criadores ativos). “E 11 gatis estão situados no resto do continente, espalhados pela Bélgica, Espanha, França, Inglaterra, Itália, Letônia e Lituânia”, completa Maria. Antes da guerra, havia criadores na Ucrânia. Nos Estados Unidos, existe ao menos um gatil trabalhando com a raça.
Andrea afirma que a procura no Brasil vem aumentando: “Tenho clientes aguardando filhotes e, com a divulgação nas exposições, as pessoas costumam perguntar mais sobre a raça”. Em nosso país, o Kurilean chegou em 2015, por meio de um exemplar importado do gatil de Malin por Andrea. “Ele se chama Touché e ainda vive comigo. Além dele e de minhas três importações da Rússia, possuo mais três gatos que nasceram no Brasil e ficaram na minha criação. Já tive seis ninhadas ao longo desses anos, com os filhotes indo principalmente para tutores no estado de São Paulo. Um deles inclusive compete em exposições, e a gata dessa tutora costuma ganhar o best in show como fêmea castrada, dado ao melhor de sua categoria”, relata Andrea, cujo gatil é o único trabalhando com a raça no País.
Outra federação do segmento que reconhece o Kurilean, desde 2008, é a The International Cat Association (Tica), que tem sede nos Estados Unidos e conta com muitas associações afiliadas pelo mundo. “Mas na Rússia praticamente não são promovidas exposições da Tica”, informa Maria. Já a Cat Fanciers’ Association (CFA), que também é sediada em território norte-americano, ainda não reconhece o Kurilean Bobtail. Aliás, há informações que gatis registrados nessa associação utilizam exemplares da raça em programas de acasalamentos de outro gato de cauda curta, o Japanese Bobtail – na CFA, o Kurilean acaba sendo considerado como um Japanese Bobtail existente em ambiente natural. “Na criação de Kurilean, é proibido acasalá-lo com outras raças”, informa Maria. Siv relata: “Na Tica, WCF e na Fife, o Kurilean Bobtail e o Japanese Bobtail são considerados raças inteiramente diferentes”. Ela ainda diz: “Pelo que observo, a única característica que eles compartilham é a cauda curta, não se parecem em nada quanto ao resto”. Andrea explica: “O gene que determina a cauda curta no Kurilean Bobtail é diferente em relação aos de outros gatos com essa característica, como o Japanese Bobtail e também o Manx e o Pixiebob. Além disso, o corpo do Kurilean é mais forte do que o dessas raças, pesando de 4 a pouco mais de 7 kg”.
Todas as entidades mencionadas que reconhecem o Kurilean aceitam tanto a versão com pelagem longa quanto a com a curta. “O de pelo comprido é o mais popular em meu país e em todo o mundo. Ele é mais elegante e exibe visual espetacular para exposições”, explica Maria. Alguns países com gatis de Kurilean nem possuem exemplares de pelo curto, caso da Suécia e do Brasil.

“Alguns exemplares gostam especialmente de água”, conta Malin

“Esses gatos gostam de estar entre um grande grupo de felinos”, afirma Malin
CARINHOSO
“O apego com a família do Kurilean Bobtail é algo especial. As pessoas para as quais vendi filhotes relatam que nunca haviam tido a experiência de conviver com gatos tão afetuosos. Essa raça realmente adora fazer parte da família”, diz Siv. “Quando recebo visitas, eles sempre vêm junto, a fim de demonstrar que estão próximos e que gostam de receber carinho e atenção”, reforça Andrea.
Siv tem um macho de pelo curto. “A afeição dele com a família é igual à do pelo longo, mas ele tem mais energia – os de pelo longo também são ativos, mas não na mesma proporção e, assim, se a pessoa for dona iniciante, eu recomendaria o mais peludo, pois o de pelo curto precisa de uma família que possa acompanhar seu pique”, diz ela. A norueguesa acrescenta: “Mas o de pelo curto será absolutamente ideal no caso de a pessoa já ter tido gatos e saber como mantê-los ocupados – eu, por exemplo, tenho uma roda de exercícios similar às de hamster, para poder liberar um pouco da energia dele. Também recomendo um poste para arranhar em forma de torre ou de árvore de escalada e uma variedade de brinquedos apropriados para gatos, ainda que às vezes apenas uma caixa de cartolina seja suficiente”. Todos os exemplares de Andrea são de pelo longo e ela define o nível de atividade deles como mediano. Malin comenta: “O temperamento do Kurilean Bobtail é parecido com o dos cães”. Maria concorda: “De fato esses gatos possuem diversas características caninas – eles são devotados a seus donos e escolhem um líder para seguir comandos”. Malin afirma que os exemplares da raça gostam de conviver com grandes grupos de gatos. “Eles apreciam a companhia de outros felinos e até de cachorros – não os encaram como inimigos e sim como amigos em potencial”, afirma ela. “São realmente sociáveis, convivem bem com crianças e cães, mas, com outros bichos, recomendo sempre tomar cuidado por conta do instinto de caça”, pondera Andrea, que completa: “Eles miam muito pouco e o fazem apenas se estão caçando e/ou se têm interesse em demonstrar algo, como chamar atenção quando querem carinho”.
Malin afirma que os machos da raça são excelentes pais. Siv concorda: “Eles inclusive ajudam outros membros da família a criaremos filhotes. Na minha ninhada mais recente, o tio dos gatinhos achava que era o pai e ajudou na limpeza dos filhotes e brincando com eles”. Malin conta também que alguns exemplares gostam de água e que o Kurilean pode facilmente pular 2 metros de altura e escalar cercas. “Eles são realmente ótimos em subir em locais inusitados com a intenção de caçar insetos. E de fato gostam de água. Assim, não se surpreenda ao vê-los brincando com o bebedouro ou indo até uma pia enquanto o líquido estiver escorrendo”, confirma Andrea.

Exemplar tortie (ou seja, que combina duas cores, blue and cream) mackerel (caracterizada pelas listras mais finas)
PELAGEM SEDOSA
Alguns cuidados garantem que o pelo deste felino fique livre de nós e sedosos. “Os exemplares de Kurilean dotados de pelo longo devem ter a pelagem escovada uma ou duas vezes por semana e, se ela estiver com nós, um pente deve ser usado para desfazê-los”, orienta Siv, que acrescenta: “Já o de pelagem curta é mais fácil de manter no dia a dia. Mas, para ter certeza de se evitar fios embaraçados, é bom escovar a pelagem a cada 10 ou 15 dias”. Ela finaliza: “Banhos são necessários em exemplares que participem de exposições”.
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Agradecimentos:
Andrea Valete Machado, gatil Sons of Avalon – (11) 99157-7407, Facebook: Kurilian Bobtail Brasil
Malin Levinsson, gatil Kot-á-Kuril – http:// kurileanbobtail.dinstudio.se, www.facebook.com/groups/kurileanbobtail, [email protected]
Maria Epifanova, gatil Free Hunter – (00XX790) 6095-6067, www.bobhunter.ru,[email protected] Maria Epifanova
Siv Cath Brauter, gatil Siv Cat’s – www.kurilean.no, www.facebook.com/sivcats.kurileanbobtail, [email protected]