Gatos comunitários: pesquisa do CEUB mostra estratégias para manejo seguro e humanizado para felinos

Estudo mostra avanço populacional de gatos soltos em áreas urbanas e alerta para impactos na saúde pública, no meio ambiente e na convivência social

Foto: divulgação

A superpopulação de felinos em áreas urbanas é um desafio sanitário e ambiental no Brasil. Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que entre 10 e 30 milhões de cães e gatos vivem hoje em situação de rua no país, sendo de 2 a 7 milhões apenas de felinos. O problema cresce em ritmo acelerado, impulsionado pelo abandono e pela reprodução sem controle: uma única fêmea não castrada pode gerar até 5 mil descendentes em cinco anos. No Distrito Federal, o cenário se repete, especialmente em condomínios horizontais que convivem com um aumento constante de gatos ferais e comunitários circulando livremente.

Foi diante desse quadro que os estudantes de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Maria Eduarda Boni, Eduarda Holanda, Flavia Baron, Michela Timo, David Gamarski e Julia de Medeiros, decidiram investigar a presença de felinos em condomínios do DF e analisar práticas eficientes de manejo populacional. Os autores alertam que o crescimento acelerado de gatos sem qualquer tipo de controle ou planejamento atinge não apenas os animais, mas também o equilíbrio ambiental e a convivência entre os moradores.

A professora e orientadora da pesquisa, Francislete Melo, reforça o vínculo com o conceito de Saúde Única, que integra saúde humana, animal e ambiental. “Não existe saúde plena se qualquer uma dessas dimensões está desequilibrada. O gato comunitário faz parte do ecossistema urbano e precisa ser manejado de forma ética e responsável”, afirma ela, que atua na interface entre bem-estar animal, saúde pública e participação comunitária.

Condomínios como laboratório vivo
O foco da pesquisa foram os condomínios de Brasília, onde o grupo estabeleceu aproximação gradual com o Villages Alvorada e o Ouro Vermelho II. No Villages, moradores acolheram prontamente o projeto, compartilharam informações e participaram ativamente do processo. Já no Ouro Vermelho II, embora houvesse disposição em colaborar, predominou mais cautela quanto à divulgação de imagens e dados, receio motivado por possíveis críticas externas ou interpretações equivocadas das ações já em andamento.

Para Francislete Melo, a reação é compreensível e frequente em estudos que envolvem animais comunitários. “As pessoas se sentem mais seguras quando percebem transparência, seriedade e respeito com os animais e com quem cuida deles. Entender essas sensibilidades foi parte importante do amadurecimento da equipe”, explica.

Manejo ético e impactos positivos
Em ambos os condomínios, a aplicação da metodologia de Captura, Castração e Soltura (CCS) apresentou resultados consistentes. O retorno dos animais ao território após a cirurgia reduziu o estresse, estabilizou a população e diminuiu comportamentos agressivos. “Com menos disputa por alimento e sem reprodução descontrolada, os gatos passaram a ter melhores condições de saúde. Moradores também relataram queda significativa em ruídos, brigas e marcação de território, o que favoreceu uma convivência mais tranquila”, relatam os estudantes.

O engajamento comunitário se mostrou decisivo. No início, as ações eram conduzidas apenas por voluntários, que arcavam com os custos e realizavam desde a captura até o pós-operatório. Com os primeiros resultados, os próprios condomínios passaram a destinar recursos financeiros e contratar equipes especializadas, ampliando o alcance e a segurança do manejo. A postura mais reservada na divulgação permaneceu como estratégia de proteção do trabalho, para evitar interpretações distorcidas e garantir que a iniciativa fosse reconhecida como ética e ambientalmente responsável.

Políticas públicas e responsabilidade compartilhada
Os pesquisadores destacam que o manejo de populações felinas exige sensibilidade, técnica e participação social. Para a docente do CEUB, a continuidade das ações depende de políticas públicas permanentes de castração, programas de educação ambiental e promoção da guarda responsável. “Controlar populações de gatos comunitários é, ao mesmo tempo, proteger os animais, as pessoas e o ambiente. A experiência mostra que o manejo só se sustenta quando poder público, profissionais de saúde e comunidade atuam de forma integrada”, conclui Francislete Melo.

Por assessoria de imprensa

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