Cores de pelo de gato é um assunto muito amplo e causa curiosidade nos leitores e na população em geral. Desta vez, vamos abordar um mito cuja origem é desconhecida: afinal, gatos ruivos ou laranjas são sempre machos? Diante dessa pergunta, digo que trata-se de um mito!
A ideia de escrever sobre essa cor em felinos se deu quando, dia desses, me deparei com uma postagem no Facebook que dizia que gatas de cor ruiva (também conhecidas como laranjas ou vermelhas) eram raríssimas. Compartilhei a postagem com uma ressalva: são menos comuns, mas não chegam a ser tão raras. Não podemos comparar, por exemplo, com a ocorrência de machos cálicos (com três cores), sobre os quais já escrevemos; estes sim são incrivelmente incomuns. (Veja na Pulo do Gato, edição 87)
O fato é que a cor dos gatinhos é uma herança genética ligada ao cromossomo X. Para melhor entender, precisamos saber que as cores de pelo de gato básicas se restringem a apenas duas: o preto e o vermelho. Dessas duas cores derivam todas as outras e suas variantes, exceto a cor branca, que não é uma cor, mas sim a ausência dela, conforme já foi tratado em outra dessas nossas conversas. (Veja na Pulo do Gato, edição 88).
O que determina a cor do pelo do gato: fenótipos e genótipos
Todos nós temos características genotípicas que não vemos, mas carregamos geneticamente, e fenotípicas que, junto com a genotípica somadas ao meio em que vivemos, as fazem se manifestar. Por exemplo, uma pessoa pode carregar uma tendência maior à obesidade que outra, mas se essa pessoa pratica atividades físicas e tem uma boa alimentação, ela consegue “driblar” essa característica genotípica e não se tornar obesa.
Dessa forma, mesmo genotipicamente ela tendo tendência a ser obesa, fenotipicamente isso não aparece. Por isso o fenótipo é a soma do genótipo, mais o meio em que o ser vive. Entendeu? Então vamos voltar a falar de cor de gatinhos…
Como as cores básicas dos gatos, a preta e a ruiva, são carregadas genotipicamente pelo cromossomo X, devemos lembrar que as fêmeas são obrigatoriamente XX e os machos XY. Isso significa que, nas fêmeas, um gene com uma determinada cor vem da mãe e um do pai, já no macho basta vir de um dos dois apenas para que a cor seja manifestada.
Sendo assim, para que uma fêmea seja ruiva, ela precisa obrigatoriamente ser XRXR ou XRXC, onde R será o gene referente a cor ruiva e o C será referente à sua diluição que é o creme. Gatas assim serão visivelmente ou fenotipicamente ruivas. Se por exemplo, a mãe for ruiva e o pai for preto, a mãe obrigatoriamente enviará a cor R (ruiva) e o pai a cor P (preta) e a filhote fêmea será escama (ou tartaruguinha). Já no gato macho, basta um dos pais enviar um cromossomo R para que o gato filhote seja ruivo, por isso a cor é muito mais comum nesse sexo.
Em suma, para que uma fêmea seja ruiva, o pai obrigatoriamente deve ser ruivo ou creme e a mãe também deve ser ruiva ou escama.
Ana Cláudia Andrade
Médica veterinária especializada em clínica médica e cirúrgica de felinos pela Qualittas, de Curitiba-PR.