
Entenda quais são as principais preocupações com a saúde do gato dependendo da sua idade
Os gatos podem ser nossos companheiros durante muitos anos, afinal, dentro de casa, eles podem viver até 20 anos ou mais. Segundo o livro dos recordes, o Guinness Book, o gato mais velho do mundo, a sem raça definida Crème Puff, morreu aos 38 anos nos Estados Unidos. E um dos grandes motivos por trás dessa longevidade é o zelo dos tutores com seus bichanos. Contudo, apesar de alguns cuidados valerem para a vida toda, cada fase da vida felina exige responsabilidades diferentes.
Filhote (Até 1 ano)
Esta é uma das fases mais importantes da vida do felino e está entre as que mais demandam atenção e cuidados. “Nas primeiras semanas do gatinho, precisamos ver se o desenvolvimento está acontecendo corretamente. Caso contrário, temos que procurar o auxílio de um veterinário especializado em Medicina Felina”, explica Victoria Pereira, médica veterinária membro da American Association of Feline Practitioners e proprietária da clínica The Cat Doctor, de São Paulo. Fazem parte do desenvolvimento saudável do gato a queda do cordão umbilical aos três dias de vida (aproximadamente), o abrir das orelhas aos nove dias (mas ele só começa a ouvir com cerca de quatro semanas), o início da evacuação das fezes e urina na terceira semana e o aparecimento dos dentes entre a terceira e quarta semana.
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Vários cuidados são necessários com gatos recém-nascidos, mas um dos mais importantes é o relacionamento saudável entre a mãe e seus filhotes. “O gato filhote, do nascimento até aproximadamente 30 dias de vida, depende exclusivamente dos cuidados maternos, e toda alimentação provém da gata lactante, pois a ingestão do colostro nos primeiros três dias de vida será fundamental para que ele adquira imunidade materna para protegê-lo nos primeiros meses de vida, até que termine o esquema de vacinas”, relata Marcelo Quinzani, médico veterinário formado pela Unesp de Jaboticabal-SP com residência em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais pela USP.
Ainda que o leite materno seja fundamental para o início da imunização, algumas doenças infecciosas merecem atenção nesse período, como a FIV (imunodeficiência felina) – também conhecida como AIDS felina – e a FeLV (leucemia felina), males que podem ser bem graves. A FeLV pode ser transmitida pela saliva durante a lambida, pela amamentação ou pela placenta, caso a mãe tenha a doença. A FIV também é disseminada pela saliva, mas através de brigas e mordidas – ela raramente é transmitida por via materna.
Victoria lembra que muitos gatos filhotes são resgatados das ruas, e a situação pode levar a outros problemas clínicos. “É comum encontrarmos pulgas, piolhos e vermes nos filhotes. Anemia também é um quadro recorrente. Um animal que chega na clínica veterinária muito anêmico ou com muitos vermes nem pode ser vacinado, é preciso curá-lo primeiro”, alerta.
Se o filhote está saudável, com 60 dias deve iniciar a vacinação. São duas as vacinas necessárias, sendo a primeira a quíntupla V5, que protege contra agentes do complexo respiratório (que causam doenças respiratórias), panleucopenia (doença viral que leva a diarreia com sangue e até alterações neurológicas), além da própria FeLV. A segunda é a vacina antirrábica, que pode ser aplicada no terceiro ou quarto mês do gatinho.
A castração também é importante entre o sexto e o oitavo mês do pet. Nas fêmeas, além de eliminar o ciclo do cio e deixá-las mais calmas, a cirurgia pode evitar câncer de mama, câncer nos ovários e infecções uterinas. Nos machos, o processo evita os comportamentos típicos como marcação de território através de urina e até fezes.
Marcelo explica que os primeiros meses de vida do gato também são essenciais para o comportamento que ele terá no futuro: “É fundamental que esse processo de aprendizado materno junto da ninhada se mantenha pelo menos até o terceiro mês de vida para que ele tenha um correto desenvolvimento físico e psicológico”. Durante a fase, o gatinho aprende com a mãe e os irmãos de ninhada a se relacionar com membros da mesma espécie, além de pessoas e outros animais que estejam no mesmo ambiente. “Esse período será determinante para que o gato adulto se torne um animal sociável e amigável, sentindo-se seguro no seu ambiente e entornos.”
De acordo com Victoria, o período de socialização dos gatos ocorre até os quatro meses de vida e, apesar de não ser comum promover exercícios para os felinos serem socializados, estes poderiam ajudar a evitar problemas de comportamento na vida adulta. “O gato deve ser acostumado a todo tipo de coisa: andar de carro, fazer viagens, socializar com cachorros e outros animais, crianças, idosos, adultos. Até com o veterinário. Caso contrário, quando chegar na fase adulta ele não vai estar acostumado com tudo isso. É preciso acostumá-lo também a comidas, como sachês e petiscos”, comenta a veterinária. Ela alerta para a importância do pet adquirir gosto pelo sachê, pois este é o alimento mais próximo àquele que ele consumiria na natureza, uma comida úmida que auxilia na sua hidratação. “O sachê tem quase 80% de água. A ração seca tem de 10 a 15%. Ele nunca vai ficar bem hidratado só com a ração seca”, adverte.
Jovem adulto (1 a 3 anos)
Passados os primeiros meses de vida, o gato já tem a imunidade fortalecida, portanto tem menos riscos de ser acometido por doenças. Além disso, seu comportamento está mais definido. “Nessa fase, ainda observamos muito do comportamento de filhote nos jovens adultos com atividade física intensa, muitas brincadeiras e ganho de peso pelo crescimento físico normal”, lembra Marcelo.
Cuidar da saúde do pet nesse período costuma ser mais fácil. A vacinação deve ser anual, assim como a visita ao veterinário para um check-up, que vai acompanhar qualquer eventual alteração. Mas Victoria alerta que é preciso tomar um cuidado: “a doença mais comum de gatos, mesmo em jovens a partir de 1 ano, é a doença renal crônica. Por isso o check-up é fundamental”.
Com tanta energia acumulada, este é um excelente momento para intensificar as brincadeiras e atividades que exercitem o pet. A “gatificação” do ambiente, com a inclusão de móveis altos onde o gato possa subir e prateleiras, é importante tanto para incentivar o exercício quanto para promover comportamentos naturais da espécie. “Na natureza, eles ficam em árvores, portanto temos que dar a possibilidade de ficarem no alto em casa também, assim como fornecer tocas para que possam se esconder”, diz Victoria. Assim, o pet fica mais confiante e seguro no seu espaço. Comedouros lentos, em formato de labirinto, podem ser usados tanto com rações secas quanto com sachês, e também são ótimos estimulantes físicos e cognitivos.
Adulto (3 a 7 anos)
Marcelo explica que na fase adulta o gato “entra no piloto automático”, uma vez que é um animal extremamente metódico e adora rotinas. As suas atividades, no entanto, tendem a diminuir de intensidade. “Não se assuste ao vê-lo dormindo por longos períodos. É muito comum ele dormir em torno de 15 a 20 horas por dia, principalmente se houver poucos estímulos ambientais ou se não tiver outro companheiro na casa”, aponta o veterinário.
O padrão de uma visita anual ao veterinário para check-ups e vacinações da V5 e da antirrábica deve continuar, assim como a vermifugação a cada seis meses. “Diferente do cão, o gato é um animal extremamente discreto e não manifesta sinais clínicos de doenças de forma evidente ou visível. Dizemos que ele costuma esconder que está doente”, conta Marcelo ao explicar por que a frequência de exames é importante para a manutenção da saúde felina. “Somente com um exame clínico adequado, com verificação de parâmetros e exames complementares, é que podemos identificar que algo não está indo bem com o gato. Nessa fase, o animal tende a ganhar muito peso, pois a atividade física diminui sensivelmente, portanto os cuidados de prevenção de obesidade são muito importantes”, acrescenta.
Sênior (a partir dos 7 anos)
A partir do sétimo ano, o gato já é considerado idoso. Mas não se engane pensando que é o final da vida dele: a fase sênior pode se prolongar por mais de 10 anos. “Gatos domiciliados que não correm riscos nas ruas, com alimentação correta e visitas periódicas ao veterinário, podem viver em torno de 20 anos com saúde e qualidade de vida”, afirma Marcelo.
Nessa fase, o acompanhamento veterinário passa a ser necessário a cada seis meses, já que o risco de desenvolvimento de doenças é muito maior. “Cerca de 60% dos gatos idosos desenvolvem doença degenerativa articular, a artrose. Tratamentos crônicos ou com medicação, acupuntura e fisioterapia podem ajudar nesses casos”, conta Victoria. Mudanças no ambiente do felino também são recomendadas para que não forcem as articulações, como incluir escadas e rampas que levem aos seus lugares favoritos. A caixa de areia deve ter laterais mais baixas, enquanto o comedouro precisa ficar elevado do chão.
“As doenças mais comuns em gatos idosos são: doença renal crônica (que eles podem ter desde jovens), hipertireoidismo, doença intestinal inflamatória e linfoma alimentar. Todas essas doenças causam vômito. É importante frisar que vômitos não são normais nos gatos. Em gatos de pelo curto é aceitável ter vômito para eliminação de pelos (bola de pelo) até duas vezes ao ano, e em gatos de pelo longo até quatro vezes”, ensina Victoria.
Nessa idade, os pets também têm diminuição de massa muscular, agilidade e movimentos, além da perda da visão e da audição. Já em relação à saúde bucal, problemas na dentição e na gengiva, como doença periodontal e sinais de dor de dente, são comuns.
Victoria reforça que a vacinação em gatos idosos deve continuar, pois as vacinas podem evitar agravamentos na saúde do animal. “Vamos imaginar que o gato idoso tem uma doença renal crônica. Antibióticos podem prejudicar a função renal dele. Se ele não toma a vacina e desenvolve um complexo respiratório, a ‘gripe’ felina, a gente vai ter que entrar com antibióticos e isso vai prejudicar a sua função renal, piorando a doença renal. Tudo porque não tomou a vacina”, aponta a veterinária.
Com a diminuição de vigor físico e disposição, os gatos idosos tendem a ser muito mais tranquilos e reservados. “Nessa fase o gato dorme com certeza em torno de 20 a 22 horas por dia, e a tendência a ‘esconder’ possíveis doenças se torna muito mais evidente”, conclui Marcelo.
Cuidados por toda a vida
Apesar dos felinos exigirem cuidados específicos a cada idade, alguns são indispensáveis durante
a sua vida inteira:
• Vacinação anual da V5 (quíntupla) e da antirrábica.
• Vermífugo a cada 6 meses.
• Aplicações de antipulgas.
• Sem acesso à rua – a medida ajuda a evitar doenças, atropelamentos, envenenamentos, fugas.
• Brincadeiras diárias com estímulo a caçadas.
• “Gatificação” da casa (prateleiras, nichos, tocas, arranhadores, locais confortáveis para dormir).
• Estímulo da hidratação com o uso de sachês, fontes de água corrente, potes com água espalhados pela casa ou até água com pedras de gelo (em dias mais quentes).
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Por: Aline Guevara
Agradecimentos:
Marcelo Quinzani – Formado pela Unesp de Jaboticabal-SP com residência em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais pela USP e especialização em Administração Hospitalar pela FGV-SP. Foi diretor do Pet Care Morumbi até 2018 e hoje responde pela gerência comercial e de cultura voltada para o Atendimento ao Cliente (Client Experience) da Rede Pet Care.
Victoria Pereira – Médica veterinária pela UNIABC, pós-graduada em Clínica Médica de Felinos pelo Instituto Qualittas Veterinária, mestre em Ciências Veterinárias pela USP, membro da American Association of Feline Practitioners e idealizadora e proprietária da Clínica The Cat Doctor.
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