Muitas pessoas foram conquistadas pelos felinos e adotaram um gatinho pela primeira vez durante o isolamento
Você já teve um primeiro amor pet arrebatador? Pois muitas pessoas vivenciaram este sentimento por gatinhos durante a quarentena. O período de isolamento social e a solidão provocada por ele fizeram bastante gente cogitar adotar pets, e, para alguns, pela primeira vez, a escolha foi por dividir a casa com um felino. “Eu nem gostava muito de gatos” é uma frase que costuma se repetir em muitos dos relatos, que invariavelmente terminam com declarações de amor pelos pets e muitas fotos dos bichanos. Alguns desses novos tutores de gatos na quarentena compartilharam com a Pulo do Gato a sua história.
Presente de Natal
A bióloga e pesquisadora Carolina Frandsen, de Campinas, SP, nunca gostou muito de gatos. “Fui uma criança muito medrosa e sempre tive medo de bichos. Para mim, os gatos eram imprevisíveis e antipáticos. Mas claro que era puro desconhecimento”, compartilha. Foi durante a quarentena que ela mudou definitivamente sua opinião. “Passei por uma fase bem conturbada no começo da pandemia. Estava me divorciando no final de fevereiro, em 2020, e quando o anúncio da OMS e o home office chegaram, resolvi sair da minha antiga casa o mais rápido possível. Fui morar numa república, para poder ficar mais próxima da Unicamp, onde estava terminando o doutorado, e nessa casa moravam três gatas adultas. Três senhoras de meia-idade”, afirma. Carolina ainda conta que uma delas, a mais arisca e medrosa, ignorou a sua rinite e a aflição que tinha de barulhos à noite e se mudou para o seu quarto. A partir de então, a gatinha contava com a bióloga para lhe dar comida, água e até proteção contra a outra gata dominante da casa. “Em troca, ela amassava vários pãezinhos, trazia caças, sentava no teclado quando eu tinha trabalhado demais, me dava colo quando estava triste, mesmo as donas dizendo que ela nunca fazia isso com ninguém.” Depois de um tempo, Carolina nem mais sentia a alergia surgir. Mas ela se mudou novamente ao ir morar sozinha, e sua companheira felina ficou para trás na casa das tutoras. Naquele momento, porém, o amor felino já tinha atingido Carolina, e ela percebeu que queria adotar um gatinho. Apesar das dúvidas em relação aos gastos extras, da vontade de ir para fora do Brasil e do recente luto pela perda da irmã, a bióloga acabou se apaixonando pela foto de uma gata filhote tigrada que estava para adoção. Matilda, com todas as suas listras e pintas, chegou na véspera de Natal e foi o presente da nova tutora. “Me apaixonei muito, não sei se pelas pintas na barriga, não sei se pelas patas pretas. Ela entrou em casa e resolveu que era tudo dela. A gente se apegou muito, e muito rápido”, lembra. Mas a gatinha não veio sozinha. Preocupada em como Matilda ficaria com a rotina sem a quarentena, Carolina decidiu adotar mais uma gata, a Nanica. As duas hoje ocupam lugar cativo na casa, nas fotos do celular e no coração de Carolina. “Tutelar duas gatas adolescentes é o que me ajuda a sair da cama e me dá esperança de acreditar que essa pandemia vai melhorar algum dia”, finaliza.
Legenda foto: Matilda (tigrada) e Nanica (laranja) foram o presente de Natal de Carolina
Fotos: Arquivo pessoal
Amor à primeira vista
“Eu era um pouco ‘avessa’ aos felinos, mas, em contato com alguns deles, eu comecei a aceitá-los e eles a mim”, descreve a artesã Tânia Maria Corrêa, de Campinas, SP, que ajudava a cuidar dos gatinhos da filha. “Muitas vezes reclamei do comportamento deles, achava que não ‘se ajeitavam’ comigo. Sempre tive cachorros, o que dificultava um pouco mais”, conta. Após começar a morar sozinha, ela acabou convencida de que seria bom ter um pet como companhia, e a ideia de ter um gato no seu apartamento começou a soar mais atrativa. Além da filha, o namorado, Augusto, tutor de uma gata, incentivava Tânia, mostrando o lado carinhoso dos felinos. Foi durante a quarentena que finalmente a artesã encontrou sua “cara-metade” felina: ela decidiu adotar, escolheu um filhote disponível através de foto e, quando chegou para buscá-lo, teve uma grata surpresa: “ele veio direto andando para os pés do Augusto. Não tive dúvidas, peguei no colo e comecei a chorar de emoção”, relembra. Elvis ganhou esse nome pelos seus olhos azuis – que mudaram de cor depois que ele cresceu. “O amor foi crescendo de tal maneira, que hoje não consigo mais me imaginar sem ele me mordendo, arranhando, mas também procurando colo para dormir e se ajeitando na minha cama, quietinho. Temos uma troca de carinho imensa. Até renunciei aos enfeites e vasinhos que tinha pela casa para que ele pudesse subir e pular em todos os lugares”, brinca.
Paixão por felinos está liberada – mas com responsabilidade
Durante os primeiros meses de quarentena, muitas ONGs e protetores perceberam o aumento da procura pela adoção de gatos. Foi o caso da protetora Carolina Marcondes, conhecida como “Carol dos Bichos”, que resgatou Matilda e Nanica antes de serem adotadas por Carolina Frandsen. “No primeiro ano de pandemia, a partir do segundo mês de isolamento social até o final de 2020, a quantidade de gatos doados dobrou em relação a 2019. Este ano, estou percebendo queda nos números, mas ainda estão superiores aos que tínhamos antes da pandemia.” Infelizmente, no entanto, o número de abandonos também foi perceptível. De acordo com Carol, os abandonos sempre ocorreram, mas a diferença provavelmente está relacionada ao aumento do desemprego, da insegurança financeira e também das mortes de tutores, que deixam pets sem alguém que se responsabilize por eles. Antes de intermediar a adoção dos animais que resgata e cuida, a protetora avalia se o futuro tutor está preparado para assumir a responsabilidade pela vida do pet. “Muito se fala das condições financeiras, e está certo colocar isso como um critério decisivo, porém a responsabilidade vai além do dinheiro. Hoje você pode estar estável financeiramente e, de repente, acontece algo inesperado que acaba com seu patrimônio. E aí vem a questão: na adversidade financeira, de saúde, de término de relacionamento, você está ciente de que tem uma ou mais vidas sob sua responsabilidade e que precisa fazer o que for melhor para ela?”. Carol reforça que o pet é parte da família e deve ser respeitado como tal, sendo que cabe ao tutor zelar por ele e suprir suas necessidades, que incluem alimentação, segurança, assistência veterinária e vacinas. Além disso, ela alerta para a necessidade de o tutor considerar o animal como parte dos seus planos no longo prazo, considerando casos de mudanças e até de possíveis adversidades.
A escolha perfeita
Apesar de apaixonada por animais, a publicitária Gláucia Junqueira, de Campinas, SP, admite que a preferência sempre foi pelos cachorros. “Eu sempre convivi com eles, então quando me vi sozinha em casa na quarentena, fazendo home office, eu pensei em adotar um cachorrinho de porte pequeno, pois moro em apartamento”, compartilha. Contudo, como a publicitária fazia questão de adotar, ela tinha receio de levar para casa um filhote que cresceria mais do que o previsto. “Comecei a achar que o gato seria mais adequado para o meu espaço e estilo de vida, inclusive para quando eu precisasse voltar a trabalhar fora”, diz. Os amigos gateiros de Gláucia começaram a incentivá-la e a apresentaram para alguns gatinhos que logo estariam prontos para a adoção. “Quando vi a foto da Mel, toda linda, laranjinha e dentro das condições que eu precisava, sabia que era ela.” A publicitária logo foi comprar tudo o que a gatinha filhote precisava e foi buscar sua pet. “Desde esse dia, tem sido apaixonante ter a Mel. Eu precisei aprender sobre ela, sobre a sua natureza, os hábitos, os cuidados que ela precisa, o que come e que tipo de areia comprar”, diz.
A tutora conta que Mel é bastante bagunceira e adepta de tombar os vasos das plantas. Portanto, o apartamento organizado que tinha não existe mais. “A minha maior surpresa foi descobrir o quanto o gato é ‘grudentinho’ e carente, companheiro mesmo. Se eu estou trabalhando, ela quer ficar perto, deitar-se em meu colo ou subir no computador. Se eu vou ao banheiro, ela vai junto. Se estou na cozinha, ela está comigo. Onde eu estou ela também está”, relata. A publicitária conta que Mel, agora com 5 meses, está completamente à vontade no espaço e com ela. A relação desenvolvida entre as duas é de muita confiança e carinho. “Foi fácil se apaixonar pela Mel. Ela vai entendendo a minha natureza, eu a dela. Desenvolvemos um amor bem rapidamente e uma convivência gostosa. Não me arrependi nem um pouco de decidir adotar uma gatinha em vez de um cachorro. Ainda gosto deles, sei que um não substitui o outro, mas adoro ter a Mel do meu lado”, finaliza.
Adoção às Avessas
A história aqui começou um pouco antes da quarentena, mas seguiu por ela. Em fevereiro de 2020, a contadora Maria de Fátima Miguel e seu marido, Rômulo Lapa, de Paulínia, SP, começaram a comprar ração para felinos para alimentar alguns gatinhos que pulavam o muro e surgiam no quintal. Um deles, no entanto, era diferente. “Ele vinha, comia e passava muito tempo dormindo no nosso quintal. Ia embora só mais tarde, mas sempre voltava no dia seguinte e repetia a rotina”, lembra a contadora. Os dias foram passando e o gatinho de temperamento dócil e carinhoso começou a conquistar os donos da casa. “Ficamos com dó, pois todo dia ele aparecia com um machucado diferente. Foi quando nós decidimos que iríamos adotá-lo e cuidar dele.” Com tutores e cuidados veterinários, o gatinho – agora chamado de Toddynho – passou a ficar dentro de casa e sem acesso ao quintal. “Tínhamos medo de deixá-lo sair e fugir. Fora que vários gatos continuavam aparecendo para comer a ração no quintal. Então decidimos telar todo o espaço para a segurança do Toddynho”, lembra. Antes da tela ser colocada, no entanto, outro gatinho chamou a atenção do casal: uma pequena frajola peluda, tão dócil e carinhosa quanto Toddynho, que várias vezes vinha até a casa acompanhada de outro gato filhote e apresentava um comportamento curioso. “Às vezes, ela nem comia, para deixar a ração para o gatinho, dava espaço para o pequeno chegar na comida. Ficamos com pena e nos apaixonamos por ela também”, conta. O casal continuou trabalhando fora de casa na pandemia e, portanto, Toddynho passava o dia sozinho em casa. Então os dois decidiram que ele precisava de uma companhia. A escolhida foi a gatinha frajola, que veio para a casa, ganhou o nome de Meg e foi levada ao veterinário. “Foi quando tomamos um susto, pois fomos alertados de que ela estava grávida. Acontece que um mês se passou e nada desses filhotes chegarem. O veterinário, desconfiado, decidiu fazer um ultrassom e constatou que, na verdade, ela tinha um bolo fecal acumulado por causa da má alimentação que tinha quando estava nas ruas”, recorda Fátima. Com os cuidados dos tutores, a vida dentro de casa e uma alimentação de qualidade, o organismo de Meg foi se recuperando e se regularizando. “Passado quase um ano que temos os dois em casa, vemos que essas belezinhas são nossa alegria. Eles brincam juntos, são muito amorosos um com o outro e com a gente também”, descreve com afeto a contadora. Rômulo lembra que a esposa, antes da dupla de gatinhos, não gostava de animais dentro de casa. Hoje Meg e Toddynho dormem na cama junto com a tutora.