Gatos que vivem em sítios: que cuidados inspiram?

Publicado em 17/06/2021

Foto da tutora Luana Fernandes Roda e Silva

Criar gato em áreas rurais exige manejo específico e diferente em relação ao trato do felino indoor para garantir a saúde do pet 

A advogada Luana Fernandes Roda e Silva, de Presidente Venceslau, SP, é a feliz tutora de um bichano muito especial, o Nino, de aproximadamente 4 anos, que tem a sorte de viver em um sítio, com muita área verde e cantinhos para explorar. De tão diferente que é a rotina de Nino, sua tutora criou o Instagram @nino__gordo, que mostra um pouco do dia a dia do felino em seu “habitat de gato selvagem”. “Nino apareceu no sítio com sua mãe e mais três irmãozinhos recém-nascidos, mas eram ariscos e não chegavam perto da casa e, muito menos, permitiam aproximação. Depois de alguns meses, a mãe gata e seus irmãozinhos sumiram, e Nino ficou para trás. Comecei a me aproximar e, após um período longo de adaptação, consegui pegá-lo no colo pela primeira vez. Então foi amor ao primeiro abraço”, conta Luana, que como tutora de um felino que não vive indoor, tem muita dificuldade de achar informação sobre cuidados específicos para esse estilo de vida. “Já cheguei a me questionar e pensar se era uma péssima tutora por morar na zona rural e proporcionar uma vida diferente da relatada ser aquela perfeita na internet”, desabafa. Hoje, Nino se tornou um cat influencer e diverte muitas pessoas com suas fotinhos atípicas em meio à natureza. “Mostro toda a rotina do Nino aqui no sítio, com vídeos dele correndo no pasto, brincando, escalando árvores, se sujando e, principalmente, sendo feliz”, acrescenta Luana. Aliás, uma grande vantagem de se criar gatos em áreas rurais é o estímulo que recebem do ambiente, descartando a necessidade de enriquecimento ambiental – que é um grande desafio de lares com gatos indoor. “Gatos que têm contato com o meio externo já possuem ambiente mais próximo do que seria o natural, fornecendo escolhas comportamentais e trazendo à tona comportamentos e habilidades adequados a sua espécie”, comenta a médica veterinária Fabiana Pozzuto Poppi, de Campinas, SP, cirurgiã especializada em Medicina Felina. A seguir, a profissional dá algumas orientações extras para tutores de gatos que vivem em chácaras e sítios. 

Castração

 Um dos principais cuidados para gatos de sítios é a castração, aponta a veterinária, pois, além de evitar crias indesejadas, também previne disputas de território pelos machos. “Após a castração, Nino se tornou um gato muito caseiro. Dorme praticamente o dia inteiro e, no final da tarde, gosta de passear pelo quintal”, revela Luana. 

Caixa de areia

 A recomendação de quem tem gato indoor é manter uma bandeja sanitária para que o pet possa enterrar as fezes e a urina. Porém, gatos como Nino estão acostumados a fazer as necessidades no quintal – na terra mesmo – e não fazem uso desse utensílio. Contudo, a veterinária Fabiana alerta que é importante incentivar o uso desse utensílio colocando-o tanto dentro como do lado de fora da casa, no local onde o gato costuma fazer suas necessidades. “Caixas de areia sanitária são sempre a melhor opção, pois evitam o contato com urina e fezes de outros animais, minimizando o risco de contágio de doenças. Além disso, com elas, os donos conseguem observar frequência e aspecto dos dejetos. Qualquer alteração observada, como cor, aspecto, cheiro, consistência, corpo estranho e até mesmo ausência de dejetos, pode ser sinal de doença”, alerta. 

Teste para FIV e FELV

 “Todos os gatos devem ser testados para o vírus da imunodeficiência felina (FIV) e para o vírus da leucemia felina (FeLV), independentemente do ambiente onde vivem”, enfatiza Fabiana. “Caso o resultado seja positivo para uma ou ambas as doenças, o felino deve ser isolado para evitar a disseminação viral. Gatos negativos devem ser imunizados com quíntupla felina (vacina contra as doenças causadas pelos vírus da rinotraqueíte, calicivirose, panleucopenia, leucemia felina e por Chlamydia psittaci)”, recomenda. 

Higiene e beleza

 Gatos que vivem em sítios se sujam mais, claro, e, portanto, exigem uma rotina de higiene regular. Nino, por exemplo, além da limpeza felina que faz em si mesmo, ainda recebe escovação semanal e banho seco quinzenal. “Banho com água somente em caso de extrema necessidade”, garante Luana, que também higieniza ouvidos e olhinhos semanalmente. Fabiana faz um alerta: “unhas devem ser inspecionadas, mas não aparadas, pois servem tanto como defesa em casos de brigas com outros animais quanto para subir em árvores, principalmente para se proteger quando se sentem ameaçados”.

Atenção aos acidentes

 Fabiana comenta que os maiores perigos para gatos que têm acesso a ambientes externos são envenenamento, ataques de outros animais e atropelamentos, que, muitas vezes, levam o paciente a óbito. “O ideal é telar janelas e parte da área externa, a fim de restringir passeios de longas distâncias, fugas, acesso de outros animais e pessoas mal-intencionadas”, recomenda.

Vermifugação

 A frequência da vermifugação desses gatos deve ser maior, segundo Fabiana. “Grama, areia e terra de ambientes externos, onde vários gatos urinam e defecam, podem estar contaminadas com parasitas internos e externos”, enfatiza.

 Cuidados com fungos

 Fabiana também faz um alerta quanto a um fungo que pode ser encontrado em cascas de árvores e espinhos de plantas, o chamado Sporothrix spp. “Ao afiarem as unhas nesses locais, os felinos podem contrair o microrganismo, que causa graves lesões na pele do gato contaminado. Por se tratar de uma zoonose, ao brincar com seus donos e com outros animais, podem transmitir o fungo, causando sérias lesões em humanos e animais”, adverte. 


Agradecimentos:

Fabiana Pozzuto Poppi
Graduada em Medicina Veterinária pela PUC Minas, pós-graduada em Clínica Médica de Felinos pela Qualittas, mestre em Cirurgia Veterinária pela UNESP/FCAV e doutoranda em Cirurgia Veterinária pela UNESP/FCAV.

@poppivetclinvet
@fabianapoppicirurgiavet

 


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