Tutores devem estar atentos ao sobrepeso e à obesidade – doenças que podem ter consequências graves e diminuir a expectativa de vida dos animais

Em 2019, uma pesquisa realizada pela empresa Mars Petcare divulgou números preocupantes: mais de 52% dos gatos em todo o mundo sofrem de algum grau de obesidade. A doença, assim como em humanos, pode ocasionar problemas graves e até levar ao óbito.
Diabetes, dificuldade de locomoção e problemas respiratórios são apenas alguns exemplos. Diarreia, inflamação das glândulas circum-anais, constipação e doença inflamatória intestinal também podem aparecer em gatos que comem demais. A obesidade resulta também na dificuldade de locomoção e acentuação dos problemas relacionados aos tecidos ósseos, o que pode resultar na incapacidade desses animais cuidarem eficazmente de sua higiene. Além da diminuição da expectativa de vida dos pets, o excesso de peso pode ainda causar ansiedade e depressão. Ou até mesmo ser uma consequência delas.
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Sabendo da gravidade dessa condição, a redação da Pulo do Gato conversou com duas veterinárias sobre o assunto e trouxe informações importantes sobre como identificar se o pet está comendo demais, quais as possíveis causas e, claro, como minimizar as consequências do problema.
EMPOBRECIMENTO AMBIENTAL
Uma das principais causas do aumento de apetite é a falta de enriquecimento ambiental. A especialista Juliana Gil, cofundadora da Psicovet entro, em São Paulo, destaca que grande parte dos felinos que comem de forma desregulada não possuem um ambiente integrativo, capaz de suprir suas necessidades mais instintivas. “Existe uma lenda de que gato não dá trabalho, que é apenas deixá-lo com comida, água e caixa de areia e estará tudo bem. Isso não procede e é necessário falar sobre o assunto para desmistificá-lo”, diz.
Esses gatos que vivem dentro de casa, mas em ambiente empobrecido, sem brincadeiras e estimulação de atividade predatória, sem uma planta para cheirar, sem enriquecimento do espaço, acabam comendo mais porque ficam entediados. “Na falta do que fazer e com alimento disponível por todo o tempo, ele vai comer o dia inteiro”, esclarece. Assim, a especialista acredita que o primeiro passo para combater o problema é justamente eliminar as crenças de que o animal é fácil de cuidar. “Os felinos dão trabalho, precisam de carinho, atenção, uma rotina de atividades e alimentação. Esses pets necessitam de estímulos olfativos, de interação com o ambiente. Para isso, é necessário ter uma casa com recursos distribuídos estrategicamente”, acrescenta.
Para que um gato tenha uma vida mais saudável, ele precisa de um ambiente mais próximo do que seria a natureza dele, com arranhadores para que possa escalar, plantas não tóxicas que possam despertar sua curiosidade, tocas e esconderijos e muitos outros recursos que enriquecem o espaço deles. Além do local mal projetado, da falta de exercícios e da má alimentação, algumas doenças também podem predispor o animal à fome em excesso.
DOENÇAS QUE PODEM AFETAR O APETITE
A desordem hormonal, resultante do funcionamento inadequado da glândula tireoide, causa, geralmente, o acúmulo do alimento que o gato ingere, causando sobrepeso. É o caso do hipotireoidismo. Nesses casos, outros sintomas costumam aparecer junto ao aumento do apetite, como falta de energia para brincar, correr e fazer exercícios.
A melhor forma de identificar essas doenças é, além de atentar para mudanças no comportamento dos felinos, visitar regularmente o veterinário. A identificação precoce de qualquer enfermidade é essencial para ter sucesso no tratamento. Além disso, Juliana alerta que o ganho de peso piora doenças às quais o felino já tenha predisposição, como problemas nas juntas, diabetes, acúmulo de gordura no fígado, entre tantas outras. Vale dizer que gatos castrados são mais propensos a comer em excesso e ganhar muito peso – tudo porque o metabolismo do felino fica mais lento.
Problemas genéticos também são fatores de risco para os pets.

CUIDADO COM A OBESIDADE
“A cada dez gatos, seis estão com sobrepeso ou obesidade”, aponta Carla Maion, nutricionista veterinária, empresária e consultora técnica no mercado veterinário e de novos negócios. A veterinária explica que identificar que o pet está comendo demais é tarefa simples. O próprio tutor perceberá que o potinho esvaziou mais cedo do que o habitual. “Após identificar que o pet está ganhando peso, o primeiro passo é buscar um profissional especializado para analisar o animal, ver como está a sua saúde e se existe alguma doença por trás do apetite desregulado”, diz Carla.
CAUSA EMOCIONAL
Não identificando problemas específicos, é possível que o transtorno seja emocional. Juliana explica que gatos em habitat natural passam 80% do seu dia se aventurando pela selva. “Eles não passam dormindo, passam tentando caçar, com cerca de 20% de sucesso. Ou seja, eles não comem o dia inteiro também”, alerta.
Carla concorda que, se a causa do excesso de ingestão alimentar não for de ordem metabólica, é preciso ir além, e investigar inclusive uma possível compulsividade associada a estresse, ansiedade, inserção de um animal novo, ausência do tutor ou outras alterações que podem fazer o animal comer mais ou menos.
COMO PREVENIR?
Para Carla, deixar a comida disponível o tempo inteiro é um dos maiores gatilhos para que o animal coma além do que precisa. “Deixar a ração à vontade impede que o tutor tenha uma noção mais precisa do quanto o pet come diariamente, mais ainda quando outros felinos dividem a mesma casa. Em casas com mais gatos, um sempre vai comer menos que o outro”, diz.
Para evitar esse problema, separar os gatos na hora da refeição pode ser uma opção. Carla também indica alimentos light, rações específicas para animais castrados, entre outras, pois assim é possível oferecer mais volume e menos calorias.
Juliana acrescenta que pesar a quantidade que o pet deve comer por dia é essencial para que ele consuma apenas o que necessita, nem mais, nem menos. Para saber qual é essa quantidade, o tutor deve levar em consideração o peso do animal e a indicação da quantidade de alimento (mencionada nas embalagens de ração). No caso de tutores que associam alimento úmido à rotina do seu pet, o indicado é combinar com o veterinário como ajustar a quantidade diária.
Comedouros inteligentes podem ajudar e tornar o processo de alimentação mais desafiador, divertido e menos compulsivo. Outros produtos disponíveis no mercado pet também auxiliam nesse processo de enriquecimento alimentar.
ANIMAIS OBESOS NÃO SÃO SAUDÁVEIS
Um gato mais gordinho sempre chama a atenção das pessoas. “É fofo, bonitinho.” Pode até ser, mas é necessário prestar atenção nas causas e consequências da fome em excesso, pois um animal saudável come apenas o que necessita. A obesidade é uma doença e, como tal, precisa de tratamento médico.
Lembre-se de fazer os exames de rotina, identificando possíveis doenças e mudanças comportamentais o mais cedo possível. Um animal saudável se alimenta equilibradamente, bebe água regularmente e tem espaço e companhia para brincar e se divertir.
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Agradecemos a colaboração de:
– Juliana Gil, Médica-veterinária (UNIP) e Cientista Social (PUC-SP). Mestrado em Etologia e Bem-Estar Animal (Universidade de Zaragoza, Espanha). Pós-graduada em Etologia Clínica (Qualittas). Certificação Avançada em Comportamento Felino pela ISFM (International Society Feline Medicine). Pós-graduada em Neurociências e Comportamento (PUC-RS). Cofundadora da Psicovet Centro. Atua no atendimento veterinário comportamental de cães e gatos desde 2014.
– Carla Maion, Formada pela UNESP Botucatu em 2009. Pós-Graduação Latu Sensu em Nutrição de Cães e Gatos pela Qualittas. Atuação na área de Nutrição Animal desde 2011 com ênfase em nutrição clínica estratégica em cães e gatos. Comunicadora e colunista da Rádio Mix FM – cobertura nacional. Influenciadora digital na medicina veterinária. Speaker e parceira de grandes marcas e inovações. Empresária e consultora técnica no mercado veterinário e novos negócios.
Por Ju Farias