Cornish Rex, mais chicletinho impossível!

O Cornish Rex foi uma das primeiras raças de gato de pelagem ondulada a ter sucesso mundial.

Conheça a origem, o comportamento e os cuidados desse gato de aparência exótica que cativa a todos pelo afeto com o tutor

Foto: Alexandre Gonçalves/
Gatil Segata Rex/ Gato: Segata Onix

Eis um gato de fantástico visual: pelagem ondulada e muito curta, cabeça oval com orelhas grandes inseridas no topo do crânio, corpo delgado e elegante, costas arqueadas e pernas longas. “O Cornish Rex lembra um pouco os cães galgos justamente por essa estrutura mais esgalgada”, comenta Alexandre Gonçalves, do gatil Segata Rex, de Juiz de Fora, MG. Ao conviver com um exemplar da raça, o tutor constata então os destaques comportamentais. “Eles são destemidos e interagem com todos, não são nada tímidos, inclusive com desconhecidos, e isso os torna ainda mais cativantes e apaixonantes – quem tem um não para no primeiro”, afirma Alexandre, atualmente o único criador da raça no Brasil. “Realmente, por ser tão afetuoso e com diversas outras qualidades, todos que tiveram um Cornish Rex consideram obter um novamente”, confirma Jean-Pierre Filippi, do gatil Des Nesmes, da França.
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HISTÓRIA

O Cornish Rex se originou de uma mutação genética espontânea, ocorrida em 1950, em uma fazenda de Bodmin Moor, área remota no condado da Cornualha (Cornwall), no sudoeste da Inglaterra. “Em uma ninhada de gatinhos Sem Raça Definida, nasceu um filhote de pelagem ondulada. A mutação foi então fixada e trabalhada por criadores, chegando-se ao Cornish que conhecemos atualmente”, diz Adriana Peres, que, de 2013 a 2018, criou Cornish Rex pelo gatil Vales do Zagro, de São Paulo. “Houve um grande esforço por parte dos primeiros criadores afim de preservar o tipo do Cornish e para que ele fosse reconhecido como raça”, acrescenta Alexandre. Ele explica que exemplares das raças Siamês e Oriental foram muito usados para ampliar as linhas de sangue: “Na formação do Cornish Rex, embora tenham entrado também o Russian Blue, o British, o Burmês e alguns gatos Sem Raça Definida, os mais usados foram o Siamês e o Oriental”, explica o criador.

Foto: Arquivo de Adriana Peres

Foto: Arquivo de Adriana Peres

O Cornish Rex foi uma das primeiras raças de gato de pelagem ondulada a ter sucesso mundial. “Desde o começo de sua trajetória, contou com um grande número de gatis nos Estados Unidos”, afirma Alexandre. No Brasil, o Cornish Rex foi introduzido nos anos 1980, porém, atualmente, é raro e pouco conhecido por aqui. “Na Europa, ele não é uma raça tão popular como Maine Coon, Ragdoll ou British Shorthair, mas pode-se encontrar um bom número de criadores na Polônia, Finlândia e alguns poucos na Suécia, na República Tcheca e França”, comenta Anna Wilczek, do gatil Cattus de Lux, da Polônia, onde ela estima haver de 10 a 12 gatis se dedicando à raça. “Realmente, na França a raça permanece rara e pouco conhecida”, confirma Jean-Pierre. Ainda assim, houve um aumento dos registros de nascimentos em território francês. “Se, em 2003, houve 40 deles, em 2021 foram 126. Porém, somente 17 criadores registraram pelo menos uma ninhada nos últimos dois anos na França”, relata Jean-Pierre, também vice-presidente do Passion Cornish Rex Club. “Mas há muitos gatis nos países nórdicos, além de alguns poucos no sul da Europa – Itália e Espanha, entre outros – e na Nova Zelândia e Austrália. Recentemente, a Rússia vem também exportando reprodutores”, completa ele. No Reino Unido, a terra de origem do Cornish Rex, o Governing Council of the Cat Fancy, uma das mais importantes entidades do segmento por lá, registrou 80 exemplares da raça em 2021, o que deu ao Cornish Rex a 25ª posição entre 46.

Fotos: Alexandre Gonçalves/Gatil Segata Rex

Foto: Alexandre Gonçalves/Gatil Segata Rex

TEMPERAMENTO ÍMPAR

O Cornish interage com todos da família. “Ele é extremamente colado ao dono, faz de tudo para ter contato físico com seus tutores”, diz Adriana, que ainda possui um exemplar da raça, castrado. “Quando o tutor chega, ele vem correndo, abanando a cauda de felicidade, passa o corpo em suas pernas, se joga aos seus pés e, depois, o segue pela casa de móvel em móvel para se acomodarem algum ponto bem perto ou em seus ombros, chegando ao ponto de andar empoleirado nele”, complementa Adriana. “O Cornish Rex é ideal para quem deseja um gato parceiro, interativo, amigo de todos e afetuoso, do tipo que gosta de colo”, afirma Alexandre. “Eles realmente amam colo e carinho, são dengosos. Adoram dormir junto do dono e, como são quentinhos, no frio é uma delícia”, relata Adriana.

Foto: Alexandre Gonçalves/ Gatil Segata Rex

Foto: Alexandre Gonçalves/
Gatil Segata Rex/Gato: Segata SnowFlake

“Tudo para o Cornish é motivo de diversão”, comenta Alexandre, que considera a raça ainda mais ativa que o Siamês e o Oriental. “Esses últimos têm mais momentos de tranquilidade que o Cornish, que possui uma carga de energia um pouco maior”, afirma ele, que é proprietário de dois Orientais. “O Cornish realmente está sempre pronto para uma brincadeira e, verdadeiro malabarista, nos faz rir de suas peripécias – pode se preparar para chegar em casa um dia e encontrar o estoque de sachês devorado”, diverte-se Adriana.
Mas, para Alexandre, o que faz a raça ser fora da curva é gostar do contato próximo com as pessoas independentemente de conhecê-las ou não: “Isso não ocorre, por exemplo, com os meus exemplares de Oriental – essa proximidade e interação que o Cornish busca com os humanos são característica únicas”, diz ele. “De fato, são gatos que possuem uma constante necessidade de contato na presença de um humano e que adotam instintivamente os visitantes da casa: nunca têm uma reação ruim aos humanos e jamais se viram ou mostram as garras quando brincam com uma criança pequena, mesmo que esta nem sempre seja gentil com o felino”, garante Jean-Pierre. “O Cornish realmente é boa-praça, de temperamento equilibrado e se dá muito bem também com outros gatos, cães e crianças, sendo bastante sociável e companheiro com eles”, confirma Adriana. “Eles são de fato muito dóceis, bastante ligados à família e bem sociáveis com os seres humanos em geral”, corrobora Anna. “É também uma raça única com relação à adaptação, pois aceita com muita facilidade mudanças de rotina, enquanto os meus Orientais são mais sensíveis a isso”, comenta Alexandre. Jean-Pierre, que já criou Siamês e Oriental, relata que o Cornish causa menor estresse com os vizinhos em relação à frequência de miados. “Ele realmente mia pouco”, confirma Adriana.

MANEJO

Adriana, que é veterinária especializada em felinos, define o Cornish Rex como muito saudável. Ela afirma ainda que a raça também se destaca pela fácil manutenção: “A pelagem, macia como seda, solta muito poucos fios”, garante.
Alexandre ressalta o fato de a pelagem da raça ser composta exclusivamente de subpelo, camada mais próxima à pele geralmente ocultada por pelos principais ou externos, inexistentes no Cornish Rex. O criador, pondera, no entanto, que exemplares para reprodução – não castrados – apresentam uma dificuldade maior quanto a manter uma boa pelagem intacta. “É que eles produzem mais oleosidade e, assim, o subpelo deles retém mais sujeira e gordura, que predispõem a quebra ou até mesmo perda de pelos”, explica ele, que acrescenta: “Já os pets são vendidos castrados e: ou não produzem essa oleosidade, ou a produzem em escala inferior – com isso, esse problema é bem menor”. Para esses últimos, Alexandre comenta que, embora possa haver variação de exemplar para exemplar, são necessários banhos apenas mensais ou duas vezes ao mês. “Eles não levam mais de dez minutos e nem precisam de um secador: usar uma boa toalha para tirar o excesso de água já é suficiente”, relata Alexandre, que indica também limpeza semanal dos ouvidos do Cornish. Eretas, grandes e praticamente desprovidas de pelos na região interna, suas orelhas favorecem o acúmulo de cera. “Realmente, os ouvidos devem ser limpos com regularidade”, confirma Adriana, que também costuma dar pelo menos um banho mensal ou então banhos quinzenais. “E entre eles eu faço escovações ocasionais, por meio de escova bem macia, para manter a pelagem do Cornish em dia”, relata Adriana.
Para Adriana, o maior desafio é manter esses gatos seguros em relação a rotas de fuga e acidentes domésticos. “Quando se tem um Cornish, todo cuidado é pouco: eles são ótimos equilibristas, capazes de escalar grandes alturas e saltar longas distâncias. Além disso, são extremamente inteligentes e curiosos, aprendem observando o tutor e usam seus dedinhos muito longos e hábeis para abrir trincos, portas, trancas, gavetas, torneiras e o que mais lhes convier”, diz ela. “Para mim, o cuidado maior e mais importante se refere às mudanças bruscas de temperatura no dia a dia, pois a pelagem da raça não a protege”, diz Alexandre. Ou seja, o Cornish costuma ser friorento. Criadores costumam mantê-lo vestido em dias de inverno, além de providenciar camas quentinhas.

Fotos: Arquivo do criador (gatil Des Nesmes) e Alexandre Gonçalves/ Gatil Segata Rex respectivamente

CORES

“O Cornish Rex é aceito em todas as colorações existentes na gatofilia”, ressalta Adriana. “Ou seja, os criadores podem acasalar um exemplar de uma cor com um de qualquer outra cor”, acrescenta Anna. “Com isso, eles possuem uma diversidade de colorações e marcações incríveis”, conta Alexandre. “São muitos genes combinados, gerando uma infinidade de cores”, complementa Jean-Pierre.
“Cores recessivas como o lilás são mais raras”, explica Adriana. Alexandre já gerou Cornish lilás e de outras seis cores básicas: preto, branco, vermelho, azul, chocolate e bege/creme – as únicas que não teve são a cinnamon (canela) e afawn (fulvo, uma diluição da canela). “O cinnamon é realmente a cor mais difícil de obter na raça. Ela foi primeiramente produzida por Susan Luxford-Watts, da Inglaterra, que foi gentil o bastante para confi ar a mim, em 1991, o exemplar Amaska Glimmer, portador da cor. Acredito que todos os cinnamons fora da Inglaterra são descendentes de Glimmer e são encontrados na França, nos países nórdicos, na Nova Zelândia e na Austrália. Em virtude de sua raridade, é a cor mais pedida na França”, relata Jean-Pierre. Mas Anna, também juíza de gatos pela FIFe, pondera: “A cor é um tópico sem nenhuma importância quando o Cornish está sendo julgado em exposições: o que interessa é a pelagem, sua textura e o padrão regular das ondas”.

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Agradecemos a colaboração:

Passion Cornish Rex Club – cornishrexpcr.com
Adriana Xavier, Amado Bicho Centro Veterinário – (11) 2386-8113, ou (11) 99336-6977 Instagram: @amadobicho
Alexandre Gonçalves, gatil Segata Rex – (32) 99957-9205, www.segatarex.com, [email protected], www.facebook.com/segatarex Instagram: @gatilsegatarex
Anna Wilczek, gatil Cattus de Lux – (00486) 9154-2364 [email protected]

Por Fabio Bense



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