Veja o que a Ciência sabe sobre o assunto e alguns testes de inteligência para fazer em casa!
O gateiro que nunca se vangloriou da capacidade intelectual elevada de seu bichano que atire a primeira pedra! Quando nossos felinos abrem torneiras, portas, encontram brinquedos escondidos, entre outras fofuras espertinhas, ficamos todos derretidos e orgulhosos. Mesmo quando usam sua inteligência para aprontar, achamos lindo! Toda essa sagacidade nos leva a pensar: qual seria, efetivamente, o nível de inteligência deles? Segundo Carlos C. Alberts, coordenador do Laboratório de Evolução e Etologia (Levetho), da Universidade Estadual Paulista (Unesp), especialista em felinos, a resposta para essa pergunta a Ciência ainda não tem. “Nem em seres humanos conseguimos medir inteligências, até porque existem diferentes tipos. Alguém que tenha inteligência social acima da média, por exemplo, pode não ser bom em outros campos, como exatas”, explica. Ainda segundo ele, até o famoso teste de Quociente de Inteligência (Q.I.) não é capaz de cumprir tal tarefa e é criticado por cientistas. “Esse teste foi criado apenas para medir a capacidade que crianças têm de reter informações e aprender”, afirma. Outro ponto é que os graus de inteligência diferem entre indivíduos da mesma espécie. Assim, tentar “medir” ou entender a inteligência de gatos e outros animais é um constante e bastante complexo desafio para pesquisadores. Contudo, existem pesquisas que revelam meios e testes para investigar algumas capacidades intelectuais em felinos.
Conheça-os e veja o que já se sabe sobre o assunto nesta reportagem.
Cognição Felina
Em animais de estimação, como nossos amados felinos e também os cães, o objeto de estudo quando se quer avaliar inteligência são suas capacidades cognitivas. A cognição, de forma ampla, pode ser definida como os meios pelos quais animais adquirem informação pelos sentidos, a processam e a retêm. Ela envolve habilidades como memória, associação, raciocínio, linguagem, pensamento, imaginação, juízo, percepção e atenção. “Gatos têm essa capacidade altíssima. Uma prova disso é a convivência com o ser humano”, revela o especialista, que atribui o sucesso do relacionamento entre Homem e felino (bem como Homem e cão), a essa grande capacidade desses animais de aprender e reter informações, da mesma forma como nós aprendemos. “Gatos conseguem criar a imagem de um objeto ou de uma caça no cérebro e ter a percepção de que se um rato entrou em um buraco, por exemplo, ele não desapareceu. Isso pode parecer banal, mas não é. Muitos outros animais não têm essa capacidade, isto é, a partir do momento que não veem mais o objeto diante deles, esquecem que ele existe”, ilustra Alberts.
Um outro exemplo é o de gatos que aprendem a bater na porta ou até abrir portas. Para tal feito, o gato precisa fazer diversas associações: saber que existe algo atrás da porta que o interessa (relação de prazer e motivação) e aprender como se abre a maçaneta observando como o dono faz (por imitação). Alberts ressalta que essa é uma habilidade muito bem desenvolvida em gatos.
Outro ponto já estudado sobre a cognição felina é que ela se mantém igual até a velhice. Em virtude disso, cães tendem a estar mais sujeitos a doenças cognitivas que os gatos. “Gatos mais velhos perdem a audição e a visão, mas a cognição deles não costuma ser afetada”, argumenta Alberts. Ainda no que tange a saúde mental dos felinos, cientistas também descobriram que gatos com pouco estímulo no ambiente, ou seja, sem enriquecimento ambiental, tendem a perder capacidades cognitivas. Mais um motivo para que tutores não deixem de oferecer estímulos como arranhadores, prateleiras, brinquedos e atividades interativas para que o felino não caia no tédio. “O estímulo é muito importante para os gatos. Recém-nascidos que não recebem estímulos de outros gatos ou de humanos, como os animais criados em biotérios e laboratórios, demoram mais para abrir os olhos e têm prejuízos na reação e discriminação a estímulos visuais, prejuízos no aprendizado, no visual associativo de cor com o alimento, por exemplo, e respostas tardias a sinais auditivos”, ilustra Alberts.
Comportamento inato
Como no exemplo dado acima, sobre a caça ao rato muitas das aptidões e habilidades dos gatos estão atribuídas ao seu comportamento inato, ou comportamento não aprendido. São como nós, humanos, que possuímos habilidades comunicativas que são aprimoradas por cada indivíduo ou não. Por exemplo, gatos solitários são caçadores oportunistas, quer dizer que quando caçam sozinhos na Natureza, não perseguem uma caça em que precisarão dispender mais energia (ou que represente mais risco) para capturá-la do que obterão ao comê-la. Preferem esperar por uma presa mais fácil para dar o bote a correr por quilômetros em uma perseguição.
Gatos (quase) nunca esquecem
A memória felina é muito boa e o que aprendem fica por muito tempo. Até técnicas de caça enterradas na mente felina podem emergir em sua mente caso o felino precise em alguma situação. Assim, quando se sente ameaçado, lembra-se de uma má experiência constantemente. Basta um encontro desagradável com um cão, por exemplo, para perceber que toda a espécie canina pode ser perigosa. “Ainda que, quando percebe que um cão grande e ameaçador não pode realmente pegá-lo, caminha calmamente pelo muro acima, uma atitude difícil até para humanos”, acrescenta Alberts. Por outro lado, experiências positivas são igualmente assimiladas, especialmente se estiverem relacionadas com comida e brincadeiras. Por terem uma boa memória, gatos respondem bem a ruídos da casa, como quando abrimos o saco de ração e já vêm correndo ou quando encostamos em seu brinquedo favorito.
Cães x gatos
Quando se trata de inteligência entre espécies, existe ainda a eterna disputa entre cães e gatos, sobre qual é o mais esperto. Como cães foram usados por séculos na caça, em esportes, para farejar e ainda aprendem truques e comandos com maior facilidade que gatos, muitos os consideram mais perspicazes. Entretanto não é tão simples assim. Apesar de felinos não terem o mesmo repertório de cães, isso não significa que sejam inferiores intelectualmente, nem superiores. Por exemplo, gatos, muitas vezes, podem até entender o que está sendo solicitado pelo dono, mas simplesmente não querem fazer. “Até em crianças humanas, que também não gostam de seguir ordens, e entre cães isso pode acontecer”, ressalta Alberts. O especialista dá um exemplo clássico: o ranking de raças mais inteligentes feito por Stanley Coren em seu livro A inteligência dos cães. Nele, as raças Border Collie e Pastor Alemão configuram como as mais inteligentes da espécie canina. Isso porque esses cães, nos testes realizados, conseguiram aprender algo com apenas uma repetição, enquanto o Dachshund, por exemplo, que ocupa o 49ª posição, precisou de cerca de 30 repetições para aprender o exercício proposto. Isso mostra que a vontade de obedecer é uma variável importante a ser considerada quando se avalia a inteligência de uma espécie. Neste quesito, cães têm vantagem sobre os gatos. “Quando vamos fazer testes com cão, ele está lá, abanando o rabo, e colabora muito mais que os gatos, que somente o fato de terem de sair de casa já causa estresse”, diferencia. Desse modo, cães são mais fáceis de serem estudados e, por conta disso, existem muitos mais estudos sobre a cognição canina. “Mas isso está mudando”, revela Alberts.
Tamanho do cérebro
Outro fator interessante é que a inteligência de uma espécie não está associada ao tamanho da massa cerebral. “Existem espécies com cabeças grandes, mas não são tidas, necessariamente, como muito espertas”, diz Alberts, que dá como exemplo as aves. Pequenas, seu cérebro é proporcional ao tamanho do corpo. “Aves precisam ter um cérebro pequeno para que possam voar. Por consequência, ele é bastante flexível”, ponta. Assim, quando ela está em época de acasalamento por exemplo, a parte do cérebro que apura a audição da fêmea para escutar e selecionar o melhor canto do macho é ativado. Quando ela está cuidando de filhotes, a mesma parte é desativada para dar lugar à capacidade de procurar limento para os bebês. Não à toa, o corvo é considerado um dos animais mais inteligentes que já foi estudado. Pesquisas mostram que sua inteligência é compatível com a de uma criança de 7 anos de idade. Esses animais possuem consciência sofisticada de “causa e efeito” e alto nível de capacidade cognitiva.
Teste seu gato
Permanência do objeto: Coloque um objeto na frente de seu gato. Em seguida, esconda-o com algo que impeça sua visão, como um biombo. Ao retirar o biombo, garanta que o objeto não esteja mais lá. O gato, normalmente vai procurar o objeto, graças à capacidade deles de criar a imagem do objeto em sua mente e saber que ele está lá, em algum lugar.
Permanência de um objeto invisível: Faça o mesmo que o anterior, mas em vez de um biombo, use dois. Coloque dois obstáculos visuais, na frente do objeto. Em seguida, mova esses dois anteparos para um local diferente junto com o objeto. Se existe um objeto atrás de dois biombos que se movem e o objeto não aparece quando ocorre essa movimentação, um humano iria imaginar que o objeto segue os biombos. Em geral os gatos imaginam o mesmo.
Depois, retire o primeiro obstáculo, deixando o objeto invisível apenas pelo outro biombo. Esconda o objeto de interesse do gato e, então, retire o último anteparo visual. Ele deverá tentar procurá-lo como se este também tivesse se movido com os dois biombos.
Este é um teste mais sofisticado, pois o gato não só não imagina a permanência de um objeto que desaparece atrás de um biombo (como no primeiro teste). Ele terá de visualizar na mente que o objeto está ligado ao primeiro biombo e este estará ligado ao segundo. Então, mesmo sem ver, ele sabe que o objeto está ligado ao segundo biombo, o que não é pouca coisa.
Memória: Para testar a aptidão da memória em felinos, é feito o mesmo procedimento do teste Permanência do objeto. Contudo, antes de retirar o biombo, o animal é retirado da sala por algum tempo. Depois disso, ele é recolocado na mesma situação. O esperado é que ele ainda se lembre que havia um objeto ali e que o procure. Varie a quantidade de segundos em que o gato fica fora da sala.
Quantidades: Gatos, em geral, conseguem contar até três objetos, mesmo que eles sejam iguais. Os mais espertos, conseguem contar até 10 objetos. Esse teste é bem mais difícil de fazer em casa porque depende de treinamento do gato para receber uma recompensa quando percebe que há uma diferença no número de objetos. No geral, é feito com diferentes associações para cada número. Por exemplo, se ele vir uma imagem com dois pontos, ganha comidas gostosas, se forem três pontos, não ganha nada, etc.
Tempo: Gatos têm noção de tempo e têm a capacidade de perceber se passaram 20 segundos ou minutos. Ainda não se sabe se conseguem perceber as horas exatamente. Esse teste também depende de treinamento prévio semelhante ao do tópico anterior.
O que se sabe é que um gato percebe diferenças muito pequenas de tempo em que ficaram presos, indicando que possuem um relógio interno, como muitos outros animais, que permitiria distinguir tais intervalos de tempo.
Cognição social: Uma forma de testar essa capacidade em gatos é por meio da vocalização. Gatos reconhecem a voz dos donos e entendem o que queremos dizer pela entonação com que falamos. Para testar essa capacidade, tente dizer a mesma frase para seu gato, algo do tipo “não faça isso gatinho”, com dois tons de voz diferentes. O desafio é dizer a frase com o cuidado de não mudar sua expressão facial e corporal, pois elas dão dicas
ao bichano. Sim, gatos e cães também são capazes de encontrar as respostas em nossa linguagem corporal. Testes mostram que quando escondemos algo, um alimento por exemplo, eles tendem a olhar para o dono para tentar descobrir onde está. Se olharmos para onde está o esconderijo eles provavelmente irão checar aquele local.
Criar laços: Felinos podem se relacionar com humanos, com dois gatos ou até com animais de outras espécies, como cães. Existem várias formas de perceber laço com humanos. Uma delas é colocar um gato em um ambiente estranho sozinho e neste mesmo ambiente com o dono. Percebe-se que com a presença do dono ele se sente mais encorajado a explorar o local do que quando está só.
Matéria escrita por Samia Malas
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