Tem quem mude de objetivos e até mesmo a profissão depois de ser transformado pelo amor aos bichanos

Se você é tutora ou tutor de gatos, certamente deve pensar que esses seres repletos de personalidade e fofura mudaram a sua vida. Mas para alguns essa transformação pode ser bastante intensa, alterando completamente sua rotina, prioridades e até mesmo profissões. Descubra algumas destas histórias.
Do escritório para o Instagram
Rafael Maidl, de Curitiba, no Paraná, ou simplesmente Rafa do Mika, como é conhecido nas redes sociais, sempre viveu rodeado de gatos. {PAYWALL_INICIO}
Sua lembrança mais antiga é aos 5 anos, quando levava um pratinho de água para a gatinha cega da sua tia. “Eu lembro desse sentimento de profunda compaixão pelo sofrimento que ela estava passando. Infelizmente poucos dias depois ela foi colocada para descansar. O nome dela era Mika, e por isso carrego ela no meu nome artístico como Rafa do Mika”, revela. Como felinos estavam presentes na sua vida desde a infância, ele conta que percebeu a transformação em como os bichanos eram tratados, de ferramentas para controle de ratos à filhos, como ele prefere chamar seus três gatinhos. Foram eles que mudaram drasticamente seu dia a dia. O primogênito, Mits, foi adotado por acaso quando uma amiga não pôde ficar com ele; Bob, o “gato alaranjado padrão obeso”, chegou filhote para fazer companhia ao outro, que o acolheu prontamente; já Gatão era um gato de rua adulto que sempre aparecia com machucados no local de trabalho de Rafael e ele decidiu acolher o bichano. Hoje, Rafa cria conteúdos para as redes sociais com base no dia a dia de sua casa ao lado do marido e de seus filhos felinos, com conteúdos bem humorados e emocionantes. “Acredito que eu consegui tocar em uma parte das pessoas que gerou muita empatia e reconhecimento com as histórias e, talvez, fiz elas verem sua própria relação com seus gatos de uma forma diferente e engraçada, o que causou identificação entre eles e nossa família”. O crescimento foi bem impressionante até para Rafael, que em poucos meses viu os números de seus perfis saltarem: no Instagram acumula quase 100 mil seguidores e mais de 500 mil no Tik Tok. Formado em administração, ele utilizou seus conhecimentos em marketing para impulsionar um conteúdo que já criava por brincadeira em casa, contando histórias sobre como seus gatos se reuniam em assembleias ou disputavam a caixa de papelão. “Sempre imaginava essas situações e narrava na minha cabeça a vida deles. Já havia começado um livro contando uma história com eles em estilo de contos, mas acabei não finalizando. Estou pensando em escrever novamente esse livro depois da popularidade deles na internet”. Hoje ele deixou totalmente a vida como empregado para empreender como influenciador digital.

Aprendizado com amor
Desde os sete anos Renata Porto, de Brasília, Distrito Federal, tem uma relação especial com os bichanos. Ela e sua “sialata” Josefina, presente de sua avó, eram muito próximas. “Ela me trouxe um entendimento que só agora, depois de conhecer diversos gatos, pude perceber racionalmente o que era. Um aprendizado de amor verdadeiro, respeito e confiança”, compartilha ela. Depois de Josefina vieram, já com Renata adulta, os felinos Tobias, Batatinha, Miguel, Mila, Vicente e Platão, cada um com uma história e todos ensinando e transformando a tutora. A consultora comportamental conta sobre como a proximidade com a única fêmea da casa, que chegou até ela numa noite chuvosa, fez com que desenvolvesse uma afinidade diferente, mais carinhosa. E como ela precisou lidar com o luto pela perda de Batatinha, e ainda lutar contra a terrível doença, a Peritonite Infecciosa Felina (PIF), de Vicente. O relacionamento com eles em sua diversidade, a aproximou da profissão em que atua hoje, como consultora comportamental exclusiva de gatos. “Comecei a me dedicar integralmente ao comportamento e bem-estar felino em 2005 e nunca mais parei. Desde então, atendo gatos todos os dias e, na pandemia, fiquei sem atendimentos apenas por 15 dias”, conta. Ainda que seus gatinhos a tenham levado para este caminho, ela não depende só da experiência e frisa a importância do estudo. “Não basta fazer um curso, precisamos fazer vários e eu sempre gostei muito de estudar. Só assim teremos informações concretas e com base científica. Hoje em dia vejo muitas informações equivocadas sendo disseminadas nas redes. É preciso procurar as fontes, sempre”, alerta Renata, que estuda a partir de livros de medicina felina, participa de cursos, workshops, palestras, e trabalha como auxiliar de veterinário.

Fotografias que carregam histórias
A fotógrafa Renata Mendes, de Belo Horizonte, uniu a paixão pelo seu trabalho ao amor que sentia pelos gatinhos. Esse sentimento vem da infância, quando achava os felinos animais misteriosos e exóticos. Infelizmente, os pais nunca a deixaram tê-los como pets, em parte, por causa de preconceitos contra eles. “Foi depois de adulta, já com três filhas, que tive meu primeiro gato”, conta ela sobre Martin, um filhote alaranjado. Dali, não parou mais, e não se contentou em simplesmente adotar os bichanos: ela começou a amparar animais de rua e trabalhar para que fossem adotados. Uma história marcou a fotógrafa: ao tentar, por meses, se aproximar de um gatinho medroso, Renata desenvolveu um laço de confiança com ele. “Com jeitinho consegui ganhar a confiança e o amor dele. Acho que foi a primeira vez que senti um amor tão recíproco vindo de um animal”. Infelizmente, ele sumiu antes que ela pudesse resgatá-lo e foi adotado por outra pessoa. A perda fez com que a fotógrafa se dedicasse a cuidar dos animais de rua de seu bairro e criasse o projeto “Gatinhos em Minha Vida”, onde ela fotografa pets e seus tutores, e usa as legendas das imagens, que são postadas no Instagram, para compartilhar um pouco da história da adoção desses animais. “Ultimamente fiz alguns resgates e tenho postado também. O projeto tem o intuito de incentivar a adoção e os cuidados com os gatos”, explica.

Guinada felina na vida
Para Marla Rodrigues, de Salvador, tudo começou com uma promessa: “Há quase 10 anos, em um momento de grandes mudanças em minha vida, prometi que se tudo desse certo, eu iria adotar um bichinho”, lembra ela. No caso, foi o recém-nascido abandonado Jaguá, que precisava de ajuda, um lar e uma tutora. Ela diz que foi neste momento que nasceu uma gateira. “Quando o adotei, conheci a realidade dos animais abandonados e me tornei defensora da adoção, da tutela responsável e do método C.E.D. (captura, esterilização e devolução). Isso me levou a adotar, com responsabilidade e planejamento prévio, mais duas gatinhas, a Irá e a Totí. Foi aí que se deu outra enorme ‘guinada felina’ em minha vida”, diz Marla. Isso porque as bichanas não se entendiam, a ponto de precisar separar completamente o espaço das duas. E Marla precisou estudar sobre comportamento felino para conseguir harmonia na família. “Foi uma verdadeira ‘formação prática’. Foram 2 anos vivendo com a casa dividida, com uma rotina bem definida de exercícios de convivência feitos com muita paciência e dedicação. Um período cheio de erros e acertos, de descobertas, aprendizados e vitórias”. E deu certo. Mas ao mesmo tempo em que ela celebrava a conquista, percebia que muitas pessoas estavam passando pelos mesmos problemas com seus animais de estimação.
Marla decidiu então compartilhar sua vivência e pesquisas no blog Gatinhos Problema, que criou em agosto de 2016. “Desde então frequentei os primeiros cursos abertos sobre Comportamento Felino, associei-me a uma grande instituição internacional de consultores de comportamento animal e comecei a frequentar os eventos profissionais nacionais e internacionais sobre Comportamento Felino. No momento, estou finalizando uma pós-graduação lato sensu em Comportamento Animal”, compartilha a tutora, que ainda atua como arquiteta e ambientalista, mas pretende continuar se aprofundando na nova profissão. “Além da ocupação nova, os gatos também me deram uma nova perspectiva sobre os animais. Conhecer essa realidade fez-me tornar vegana, uma das mudanças mais profundas e maravilhosas que já vivenciei”, celebra ela, que ainda é tutora de Dudu, um gatinho que tem sequelas neuromusculares dos maus-tratos que sofreu no passado e não anda. “Mas hoje ele é muito feliz e saudável e só pensa em brincar, comer sachê e receber carinho na bochecha. Dudu me ensina diariamente sobre amor e dedicação”, finaliza.
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Por Aline Guevara