É preciso saber se os passeios seriam benéficos para o seu felino e se você está preparado para isso

Ensinar gatos a passearem de coleira na rua é um hábito que vem ganhando força entre os gateiros de todo o mundo. Antes, tal costume estava ainda muito restrito aos donos de algumas raças, como o Bengal, porém, hoje, muitos se interessam em acostumar o felino a andar na guia feito cães. No entanto, será que todo e qualquer felino deveria passear de coleira? Marla Rodrigues, Consultora de Comportamento e Bem-estar Felino, de Salvador, ensina que, antes de tudo, devemos nos perguntar: por que quero passear com meu gatinho? O que acho que ele precisa? Estou realmente pronto para assumir todos os compromissos necessários e suas consequências? Ao responder a essas questões, Marla diz que os gateiros podem refletir sobre a “parte boa”, que é sair na companhia do seu melhor amigo de quatro patas para novas aventuras, com muitos estímulos diferentes, contato com a natureza, lindas fotos e várias pessoas curiosas parando para ver.
Marla comenta que ela, particularmente, nunca precisou recomendar passeios para nenhum gato em seus atendimentos como consultora. “Mesmo que tenhamos em casa um gatinho muito ativo, brincalhão e sociável com humanos e outros animais, podemos promover uma ótima qualidade de vida e atender às suas necessidades ambientais dentro de seu território. Em contrapartida, já atendi muitos tutores que passeavam com seus gatinhos, e as queixas mais frequentes estavam relacionadas aos comportamentos apresentados quando esses tutores não puderam mais manter a rotina de passeios. Geralmente, o pedido do tutor é sobre o que fazer para parar de passear com o gato”, diz.
1. ROTINA DE SAÍDAS
Consistência é a palavra de ordem para quem quer iniciar uma rotina de passeios com o felino! “Afinal, rotina e controle ambiental são a base do bem-estar felino. Se é algo tão bom e estimulante, então deve fazer parte da rotina diária dos gatos. Isso deve ser cumprido, não importa se está chovendo, se tem reunião, com preguiça ou não. O compromisso do tutor deve ser com o passeio do gatinho! Por isso, peço que o tutor se pergunte, antes de começar, se terá disponibilidade para proporcionar essa atividade diariamente, preferencialmente no mesmo horário”, alerta Marla. Ainda segundo ela, a quebra da rotina — especialmente quando ela é satisfatória para o gato — pode desencadear emoções como frustração, por não conseguir o que quer na hora que deseja, ou mesmo insegurança, ao passar a achar sua rotina ou ambiente imprevisíveis e fora de seu controle. “Se não for possível sair de jeito nenhum com o gato naquele momento, o tutor deve buscar compensar oferecendo atividades igualmente prazerosas, como uma boa sessão de brincadeiras que estimulem os comportamentos de caça. E, no final, é claro, um petisco!”, acrescenta.
BENEFÍCIOS DO PASSEIO
Considerando uma situação de passeio totalmente ideal, Marla cita os seguintes pontos positivos de se passear com gatos:
•Estímulos cognitivos: explorar novos ambientes, lidar com situações diversas, oportunidades de socialização com humanos e animais;
•Atividade física: pode ajudar no controle do peso do animal de estimação;
•Enriquecimento da rotina: sendo mais um recurso oferecido e não o único;
•Oportunidade de convívio: possibilidade de estreitar os laços entre gato e tutor, criando uma relação de confiança;
•Oportunidade de contato com a natureza: possibilidade de o gato expressar comportamentos naturais da espécie como espreitar “presas”, arranhar, cavar, forragear etc.
2. OBSERVE AS REAÇÕES
Para saber se os passeios são realmente benéficos para os gatos, Marla aponta que é preciso observar os comportamentos deles antes, durante e depois do passeio. “Se, em alguma dessas fases, ele apresentar comportamentos ligados à ansiedade ou à frustração, esse é um sinal a ser considerado”, diz a comportamentalista felina, que ainda descreve as fases do passeio e como elas devem ser: “antes do passeio, o gatinho deve estar tranquilo porque tem certeza de que vai, como vai e quando vai passear e não apresentar sinais de ansiedade, como vocalizar, andar de um lado para o outro e se esfregar excessivamente. Quando percebe que a hora do passeio está chegando, ele se esconde? Quando o peitoral é colocado, ele ‘congela’ ou fica se movendo desengonçado? Quando é levado pela guia, ele fica confuso, parado ou tenta ir para outra direção? Durante o passeio o gatinho deve estar tranquilo, andar à vontade, se deitar, rolar, farejar, brincar e demonstrar interesse pelas coisas e pelo ambiente, e não ficar o tempo todo em alerta, se assustar com facilidade, andar com cautela, ‘congelar’ ou pedir colo para voltar. Por fim, depois do passeio o gatinho deve se sentir satisfeito e se engajar em outras atividades, como tomar banho ou descansar. Se ele se esconder quando chega em casa e só reaparecer um tempo depois, o passeio não foi uma boa”. “Portanto, se o gato considera o passeio como uma das várias – e não as únicas – coisas boas que lhe acontecem no dia, e se ele foi bem treinado e está seguro, pode-se dizer que o passeio está sendo benéfico para ele nessas condições”, resume Marla.
3. PARA ONDE LEVAR O GATO?
Marla ainda destaca ser igualmente importante avaliar o local onde o gato vai passear. “Um ambiente com muitos estímulos ou com situações potencialmente perigosas — como o encontro com cães soltos, o trânsito de intensidade média a alta, a presença de grande número de pessoas ou ambientes não naturais, como shopping centers — dificilmente promoverá o bem-estar de um gato”, ensina. Assim, o local do passeio deve ser muito seguro. “O tutor deve conhecer bem os locais que pretende frequentar com seu gato. De preferência, ele deve ir com antecedência para poder avaliar os perigos em potencial, como a circulação de cães e outros animais (soltos ou não), a quantidade de pessoas, a intensidade do tráfego, a existência de abismos ou alturas perigosas, e as possíveis rotas de fuga e esconderijos”, enfatiza.
Marla também diz ser importante evitar locais em que o gato possa ter contato com comidas expostas, lixo e entulhos. “Avaliadas estas questões, o tu-deve mapear os possíveis pontos de interesse do seu gatinho, como árvores para arranhar, locais para sentir odores e lugares confortáveis para deitar um pouco e aproveitar a natureza”, acrescenta.
4. ESTUDE SOBRE REFORÇO POSITIVO
Todo dono de gato que decide passear com seu animal de estimação deve, antes, aprender sobre treinamento utilizando reforço positivo, diz Marla. “Resumidamente, reforço positivo significa recompensar (reforçar) um comportamento desejado com a adição de um estímulo (petisco, carinho ou elogio) que cause uma boa emoção, de modo que o gatinho deseje repetir aquele comportamento para ser recompensado mais vezes. Utilizando esse conceito, o tutor pode elaborar o treinamento para o uso do peitoral, da guia, da caixa de transporte e para algumas situações durante o passeio, como voltar para a caixa ou subir no colo”, aponta Marla.
“Qualquer treino com os gatos deve ser feito em casa, em um ambiente que eles se sintam à vontade e com poucas distrações, para que possam focar no aprendizado e no ganho de recompensas”, reforça a consultora.
5. SEGURANÇA EM PRIMEIRO LUGAR
Para garantir a segurança do pet, os passeios devem ser realizados sempre com guia! “Infelizmente, quem acompanha os grupos e perfis de gatos nas redes sociais sabe que os pedidos de ajuda para encontrar gatos perdidos durante passeios são cada vez mais frequentes. Geralmente, os gatos se perdem quando a guia se quebra ou se solta. Passear com o gato solto da guia pode parecer ser uma ‘evolução’ comum entre tutores que já têm mais prática e gatos que estão bem habituados aos passeios. A verdade é que cada tutor conhece seus limites e imagina até onde pode arriscar com seus gatos. Eu, como tutora e profissional, prefiro não expor meus gatos, nem os gatos de outros tutores, a riscos que considero desnecessários”, opina Marla.
Para adaptar um gato ao uso do peitoral e à guia, comece apresentando cada equipamento gradativamente. “É importante observar as reações do gato a cada passo do processo, sempre recompensando todos os avanços e mantendo as sessões de treinamento curtas e prazerosas. O prazo de adaptação depende do temperamento do gato, da sua capacidade de lidar com a sensibilidade ao tato e com as limitações de movimento causadas pelos equipamentos, além da habilidade do gateiro em interpretar as reações do pet e realizar um treinamento eficaz”, finaliza.
Agradecemos a colaboração de
Marla Rodrigues,
Consultora de Comportamento e Bem-estar Felino; Especializada em Comportamento Animal (PUC Minas); Certificada AAFP Cat Friendly Veterinary Advocate; IAABC Supporting Member; Autorado Blog Gatinhos Problema.
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