Bullying alimentar: como lidar com esse problema?

Um dos tipos de bullying que pode existir entre os felinos é o alimentar, quando o gato dominante impede ou retarda a alimentação do outro, o submisso.

Especialistas em felinos contam que esta é uma questão territorial e apontam possíveis soluções

Foto: HendrikSulaiman/iStockphoto.com

Apesar do termo bullying ser usado nas relações humanas, ele também serve para descrever situações vividas entre animais quando há uma relação hierárquica muito desequilibrada que pode prejudicar uma ou mais partes envolvidas. Um dos tipos de bullying que pode existir entre os felinos é o alimentar, quando o gato dominante impede ou retarda a alimentação do outro, o submisso.

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PROBLEMA TERRITORIAL

Em primeiro lugar, é preciso entender que este é um problema relacionado ao domínio do território pelos gatos da casa. “Isso se desenvolve em ambientes que chamamos de ‘multicat’, ou seja, casas onde há mais de um felino domiciliado, não sendo necessariamente um local muito populoso. Se há mais de um gato na casa, já existe um compartilhamento de território”, explica a médica-veterinária Andréa Alves Pereira, especializada em Medicina de Felinos e patologista clínica no laboratório do Hospital Veterinário Taquaral, em Campinas, SP. De acordo com a médica-veterinária, uma residência com dois gatos já é suficiente para ter disputas territoriais. Mas, claro, quanto mais felinos dividindo um mesmo espaço, menor é o território e, portanto, maior pode ser a concorrência.

NEM SEMPRE É BULLYING

É preciso entender, no entanto, se realmente há um bullying dentro de casa. Segundo Carlos C. Alberts, professor de Zoologia e Comportamento Animal da Unesp, de Assis, SP, uma hierarquia na hora da alimentação não significa necessariamente um problema entre os felinos. “Somos nós que tratamos eles como filhos, que nos incomodamos quando um sempre vem comer antes do outro porque não queremos que entre eles exista uma noção de preferência ou privilégio, afinal para nós eles são igualmente importantes e devem receber tudo ao mesmo tempo”, conta o zoólogo. Porém, Carlos explica que é comum na natureza, que se estabeleça uma hierarquia entre um grupo de felinos, onde o dominante passa a comer sempre antes dos demais. E isso não é um problema para os animais, mas uma forma de convivência natural entre eles que não deve ser problematizada pelos tutores. “Também existem aqueles que, talvez por serem mais jovens, são mais afoitos na hora da comida e comem primeiro e mais rápido. Outros têm preferências e podem querer a ração mais crocante, que acaba de ser retirada da embalagem. Às vezes, ainda, um gato, que come uma ração diferente do outro porque é castrado, obeso, ou tem algum problema de saúde, vai preferir se alimentar com a ração do outro. Tem casos em que o tutor acha que um está atrapalhando o outro, mas nem sempre é uma questão de bullying. É preciso observar bem qual é a real situação”, descreve Carlos.

QUANDO É UM PROBLEMA?

O bullying alimentar de fato está presente quando há um comportamento agressivo de um dos felinos da casa para impedir o outro de se alimentar. Há intimidações? Um gato encurrala o outro no local de se alimentar? O pet fica com os pelos arrepiados, as orelhas para cima e para frente, vocaliza sons altos, fica com o corpo elevado? Diante da postura do dominante, muitas vezes pode até não existir brigas, já que ela por si só é o suficiente para mostrar “quem manda na hora de comer primeiro. “Precisamos avaliar o comportamento de cada gato dentro do grupo e identificar quem come mais, quem come menos, o que acontece no momento em que cada um procura o alimento. Alguém come de forma mais ansiosa? Esses são pontos a serem observados para a condução das adaptações necessárias”, avalia Andréa. A veterinária pontua que casos mais sérios de bullying alimentar podem acarretar problemas de saúde, “tais como sobrepeso ou má nutrição devido à alimentação em excesso ou insuficiente, além de tensão, conflitos, desarmonia constante e machucados decorrentes de possíveis brigas”.

BUSCANDO SOLUÇÕES

Algumas situações podem acirrar a disputa alimentar dentro do ambiente doméstico. Uma delas, é a atitude de deixar a comida dos felinos no comedouro o dia todo. “Quando a comida fica exposta, ela perde crocância, sabor e odor. Aqueles que preferem comer a ração com essas características, portanto, vão ficar ansiosos para comer primeiro quando o alimento fresco for colocado, enquanto os outros, submissos, vão ficar relegados a ter que comer depois, com menos crocância e sabor”, explica Carlos. Uma das soluções, neste caso, é oferecer o alimento mais vezes ao dia e em menor quantidade. Outra opção fortemente sugerida pelos profissionais é oferecer a comida ao mesmo tempo, mas em diferentes espaços da casa. “Mas é preciso se atentar à quantidade de gatos dividindo um mesmo espaço pois, dependendo do número, mesmo que se espalhem os comedouros, ainda assim teremos animais se alimentando próximos uns dos outros”, alerta Carlos. Andréa reforça, lembrando que este é um problema de disputa territorial que vai além do momento da alimentação. “A estratégia é também ampliar a oferta dos itens nos quais eles suprem suas necessidades básicas, como bebedouros, caixas de areia e locais de descanso e de brincadeiras. Todos devem ser distribuídos em vários pontos ou ambientes para que os felinos definam quem vai ficar com qual e não precisem disputá-los”, completa ela.

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Agradecemos a colaboração de Andréa Alves Pereira, Médica-veterinária com especialização em Medicina de Felinos pela Anclivepa/SP, especialização em Patologia Clínica pelo IBVET e mestrado em Saúde Coletiva pela FCM Unicamp. Faz atendimento clínico especializado em felinos e é patologista clínica no Hospital Veterinário Taquaral e de Carlos C. Alberts Professor de Zoologia e Comportamento Animal da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pesquisador do Laboratório de Evolução e Etologia (LEvEtho), da universidade.

 Por Aline Guevara


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