Bengal: um sucesso mundial 

Como a raça tem crescido em popularidade, preparamos um guia para que os apaixonados pelo Bengal encontrem o melhor exemplar

Foto: TomiFerr Bengal/ Gato: TomiFerr Skie/ Pror. e criação: Gatil TomiFerr Bengal

O fascínio do ser humano pelos animais de aparência selvagem levou à criação deste felino incrível e que faz sucesso no mundo todo: o Bengal. Raça híbrida, resultado do cruzamento de um gato doméstico com o Leopardo Asiático (Asian Leopard Cat) realizado nos Estados Unidos, o programa de criação do Bengal teve início na década de 1960 e, por isso, ela ainda é considerada uma raça recente. {PAYWALL_INICIO} “Por se tratar de uma raça híbrida e considerada nova na gatofilia, é importante ter rigoroso critério da procedência dos exemplares, pois existem diversas linhas sanguíneas que possuem muita proximidade com gerações iniciais (F1, F2, F3… que são os cruzamentos próximos do Leopardo Asiático), e não é permitida a introdução de gerações iniciais e outras raças na composição do Bengal moderno”, alertam os criadores Edevar Tomiozzo Júnior e Maíra Ferrarin, do gatil TomiFerr Bengal, de Caçador, SC, que se dedicam à raça há 11 anos. “Diversas características da raça Bengal estão mais ligadas à procedência genética e à forma de criação, pois tem muitos exemplares de Bengal que possuem desvios graves de temperamento e standard da raça. Somente o pedigree não é uma garantia de que você terá um gato com boas características da raça Bengal”, continuam os criadores brasileiros.
Ulrica Lindblom Granlid, do gatil S*Kungsgarden Cats, da Suécia, cria a raça desde 2006 e tem boas expectativas para uma consolidação ainda maior da tipicidade da raça no futuro. “Como a raça ainda é recente, não é uma das mais homogêneas ainda, mas estamos chegando lá! Por isso que somos muito criteriosos na escolha dos exemplares de nosso plantel, selecionando gatos com o mesmo padrão de marcação na pelagem, por exemplo”, aponta Ulrica, que diz ser alta a popularidade do Bengal em seu país: a sétima raça mais procurada.
A criadora croata Linda Jurec, do gatil Monteris Bengal Cats, de Kvarner Bay, na Croácia, se dedica ao Bengal desde 2020 e diz que ele ainda não é tão popular em seu país como em outros países europeus, mas que sua popularidade vem crescendo. “Sua beleza de tirar o fôlego e sua personalidade canina são fascinantes”, comenta. “Quando trouxe meu primeiro Bengal em 2021, o Fedele Wild Amber Pride, tínhamos três gatos como pet e duas crianças pequenas e achamos que seria desafiador ter um gato com ancestralidade selvagem em casa. Porém, convivendo com o Fedele, nos apaixonamos ainda mais pela raça, o que me levou a criá-la. Seu temperamento gentil e aparência impressionante de leopardo com pelagem brilhante me fizeram pensar que outras pessoas na Croácia pudessem ter um pet como aquele em casa”, diz.

Foto: arquivo do gatil Monteris Bengal Cats
Beleza de leopardo: mesmo sendo muito atrativo fisicamente, antes de adquirir a raça, é preciso conhecê-la bem

TEMPERAMENTO CORRETO
Segundo Edevar e Maíra, um Bengal de boa procedência genética é super saudável, possui bom temperamento, é sociável, gosta de estar junto com a família, não gosta de ficar sozinho, se adapta facilmente com outros gatos, cães e crianças, dorme menos em relação a outras raças e é extremamente hiperativo e caçador. “O Bengal está entre as 10 raças mais populares do mundo devido à sua aparência exótica, com características selvagens e pela sua inteligência. E isso leva a um problema: muitas pessoas procuram a raça pela aparência, porém esquecem que ele exige cuidados e muito carinho, podendo gerar, assim, alguns problemas de convivência”, ensinam os criadores.
Ulrica enfatiza que é um desafio encontrar o lar ideal para um gato Bengal. “Eles são gatos muito ativos, espertos, sociais e não suportam a solidão. Para o Bengal, todo dia é uma festa! E é muito importante que um candidato a tutor desta raça saiba disso. Se este gato viver num ambiente com baixo estímulo, ele poderá desenvolver problemas comportamentais”, diz a criadora sueca, que continua: “Eles são muito inteligentes! Sou fascinada pela mente deles e a habilidade que têm de entender as vontades e emoções de seus donos. São gatos acrobatas, com excelente controle corporal, e ágeis. Eles precisam ter temperamento estável, ser confiantes e muito amigáveis com pessoas e pets”.

Fotos: arquivo pessoal do gatil TomiFerr Bengal
O Bengal precisa de locais onde ele possa subir, casa telada e segura e estímulo e interação com seus donos

AMBIENTE IDEAL
Pelo Bengal ser um gato mais ativo e explorador, os tutores de exemplares da raça devem prezar por sua segurança no lar. “Antes de adquirir um gato da raça, instale redes de proteção na casa e/ou dispositivos antifuga nos muros. O perfil da família precisa ser mais ativo, gostar de movimento, não ligar para miados, pois ele verbaliza muito. Também é preciso instalar nichos nas paredes, pois eles gostam de ficar no alto, bem como fontes de água, e não se importarem ter água pela casa, pois eles a jogam no chão antes de beber”, listam os criadores brasileiros.
Linda concorda que o desafio de se criar o Bengal é oferecer espaço adequado para eles. “Tivemos que adaptar toda a nossa casa para que nossos gatos pudessem viver felizes e com bem-estar garantido. Isso inclui nichos nas paredes e arranhadores altos para que possam escalar e pular deles, além de área segura onde eles pudessem correr e brincar”, detalha.

Foto: arquivo do gatil Gatil S*KungsgardenCats
Filhotes: para escolher um bom exemplar, precisa pesquisar sobre o gatil e a procedência dos pais

DESMITIFICANDO A RAÇA
Como uma raça popular, muitas informações erradas são difundidas entre os que não conhecem a raça realmente. Maíra e Edevar alertam sobre alguns mitos que rondam a raça. Um deles diz que ela é hipoalergênica. “Não existem comprovações científicas em relação ao Bengal ou qualquer outra raça ser completamente segura em relação a alergias. Porém, ele é considerado hipoalergênico por existirem diversos relatos de exemplares que convivem com pessoas alérgicas. Isso ocorre porque a raça tem pelagem mais curta e fina em comparação a outras raças de gatos, o que pode reduzir a quantidade de proteína Feld1 presente no pelo e na saliva do gato. Ele também não passa horas se lambendo, o que diminui a probabilidade de espalhar esta proteína em sua pelagem. Porém, a capacidade de um Bengal causar reações alérgicas pode variar conforme a alimentação ofertada e de pessoa para pessoa, portanto alguns podem sim ter reações alérgicas ao Bengal”.
Também é muito difundido que a raça tem porte grande, porém seu porte é médio. “Porte grande é o Maine Coon e o Norueguês da Floresta. O peso considerado normal para um Bengal macho é de 4 a 8 kg e, da fêmea, de 3,5 a 6 kg. Tamanhos fora desta margem são considerados raros e muitas vezes trazem problemas de saúde associados”, alertam.

Fotos: arquivo pessoal do gatil TomiFerr Bengal
Como ele adora água e estar nas alturas, se prepare: ele vai subir onde ele quiser e brincar com água!

COR MAIS COBIÇADA
A pelagem do Bengal se divideem dois padrões: spotted – com pintas e rosetas semelhantes à de um leopardo/onça; e marbled – com manchas semelhantes a uma pedra de mármore, segundo explicam Edevar e Maíra. Porém, entre as cores reconhecidas pela Federação Internacional Felina (FIFe), o black (conhecido popularmente como brown, nomenclatura antiga) é a cor mais procurada e popular. “Ela confere um marrom vivo com maior semelhança a uma onça/leopardo ao Bengal”, acrescentamos criadores brasileiros, que continuam: “a coloração silver foi reconhecida pela FIFe somente em 2022, quando passou por diversos processos para aprovação, porém ainda é uma coloração com linhagens de boa procedência extremamente raras. As cores não reconhecidas pela FIFe são: charcoal, blue e melanistic (o preto sólido)”.
Ulrica e Linda concordam que o black spotted ainda é a cor mais popular também na Europa. “A cor mais rara é o blue, até porque não é aceita em muitas associações da gatofilia. Os Cashmere Bengals, que são os Bengals de pelagem longa, também são raros e não têm a aprovação de muitas associações, mas acredito que a tendência é que eles sejam reconhecidos cada vez mais”, opina Ulrica. Linda ainda acrescenta que o Bengal na cor snow é a segunda cor mais cobiçada. “Desde que esta cor foi aceita pela maioria das associações, ela vem crescendo bastante em popularidade”, diz.

Foto: arquivo do gatil Monteris Bengal Cats
Para o Bengal, todo dia é dia de festa!

Foto: Silvia Pratta/ Gatil: TomiFerr Bengal
WW23, NW23, CH, BR*TomiFerr Hércules, JW, do gatil TomiFerr Bengal: campeão mundial da FIFe em 2023

ESCOLHA DO CRIADOR
Como em toda raça, a escolha do criador na hora de adquirir um exemplar deve ser criteriosa. “Recebemos periodicamente diversos relatos de pessoas que, por falta de orientações, adquirem filhotes com sérios problemas genéticos e/ou de temperamento, resultando em altas despesas com tratamentos, quando não ocorre morte precoce. Essas informações são importantes para diferenciar o valor de um excelente filhote, evitando uma grande decepção”, alertam Edevar e Maíra.
Um dos pontos é checar se o gatil participa periodicamente de competições de beleza felina. “Somente participam gatos que estejam com boa saúde e tenham bom temperamento, consequentemente somente têm resultados os gatos que estejam dentro de um padrão desejável para a raça atualmente. Nós participamos frequentemente de competições de beleza felina, nacionais e internacionais da FIFe, onde nossos gatos Bengal são submetidos a avaliações com importantes juízes internacionais, especialistas no padrão da raça, fator muito importante para avaliar as melhores cruzas, realizar melhoramento genético e poder comprovar a qualidade genética, conforme exigências do standard da raça”, revelam Edevar e Maíra, proprietários do WW23, NW23, CH, BR*TomiFerr Hércules, JW, campeão mundial da FIFe em 2023. “Antes de adquirir um gato da raça Bengal, é preciso estudar sobre a raça em fontes confiáveis, evitando comentários de grupos de criadores ‘fundo de quintal’, Facebook e WhatsApp. É preciso procurar um criador sério e dedicado com a manutenção e o desenvolvimento da raça, que esteja registrado em uma federação internacional, seguindo regras éticas e de boas práticas. É importante verificar se os gatos são criados dentro de casa desde filhotes ou se ficam em gaiolas e/ou jaulas no fundo do quintal”, listam.

Foto: Jonsson/Sofi e Bergensjo/ Gatil: S*KungsgardenCats

Foto: Madelene Jonsson/Gatil: S*KungsgardenCats
Gatil S*KungsgardenCats coleciona títulos em competições: logo acima, gato GIC S*KungsgardenCats Knuckles JW Scandinavian Winner 2024; e no alto, Bamboo Shark, Campeã Mundial 2022 e Scandinavian Winner 2022

SAÚDE GARANTIDA
Para adquirir um filhote de Bengal de boa procedência, os criadores brasileiros alertam sobre a importância de se procurar criadores que testam seus gatos para as seguintes doenças:

– Cardiomiopatia Hipertrófica (HCM): síndrome de etiologia desconhecida, entre as raças com maior incidência encontra-se o Bengal, de caráter hereditário, dominante, causada por um gene mutante. Antecedentes devem ser testados anualmente para prevenção da doença através de Ecocardiodoppler realizado por um veterinário cardiologista;

– Deficiência da Enzima Piruvato Quinase (PKDef): esta anemia hemolítica hereditária causada por atividade insuficiente desta enzima reguladora que resulta em instabilidade e perda de células vermelhas do sangue, foi encontrada com frequência significativa na raça Bengal. Um teste de DNA possibilita a detecção da mutação, onde “criadores sérios” e responsáveis, realizam os testes dos padreadores antes do acasalamento;

– Atrofia Retinal Progressiva de Bengal (PRA-b): doença autossômica recessiva que causa cegueira, que pode ser detectada pelo teste de DNA ou por exame de olho antes da idade de reprodução. Provoca a destruição das células que registram luz (fotorreceptores) na parte de trás do olho (a retina);

– Displasia coxofemoral: não é uma doença característica da raça. Os casos encontrados estão mais ligados à introdução de linhagens genéticas de baixa qualidade e, principalmente, fatores de ambiente, assim como taxa de crescimento excessiva, excesso de peso e nutrição desequilibrada.

{PAYWALL_FIM}

Nossos Agradecimentos:
Edevar Tomiozzo Júnior e Maíra Ferrarin: Gatil TomiFerr Bengal (ww.gatiltomiferr.com.br); Linda Jurec: Monteris Bengal Cats (www.monterisbengalcats.com); Ulrica Lindblom Granlid: S*KungsgardenCats (Instagram: @kungsgardencats)


Por Samia Malas


Clique aqui e adquira já a edição 141 da Pulo do Gato!