Enriquecimento ambiental e manejo correto tornam os exemplares da raça mais felizes

O Bengal é o mais tradicional gato doméstico híbrido de um felino silvestre (no caso, o Leopardo Asiático): começou a ser desenvolvido em 1963. Sua saúde física, bem-estar emocional e temperamento estão intrinsecamente ligados ao grau de conforto com seu habitat. Assim, atender tais necessidades é essencial. E elas incluem tanto as relacionadas ao ambiente físico como também as que afetam a interação social, incluindo o contato humano. A seguir, confira cuidados essenciais para ter um Bengal feliz em casa.
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VIDA COM OUTROS PETS
“O Bengal é extremamente dócil e companheiro, gosta muito de interagir com humanos, outros gatos e, inclusive, cães”, afirma a graduanda em Medicina Veterinária Bruna Monticelli, criadora da raça pelo gatil Monticelli, de Sapiranga, RS. “Ao contrário do que muitas pessoas pensam, são sociais e vivem bem com outros felinos, principalmente os de parentesco, como irmãos. A companhia de outro gato traz diversos benefícios ao convívio e a rotina da raça, evitando o tédio e o estresse”, reforça a veterinária Aline Rempel, de Canoas, RS.
Bruna orienta fazer a introdução do filhote no novo ambiente de forma gradual, visando minimizar ao máximo o estresse dele e dos bichanos já residentes. “É mais fácil para gatos adultos aceitarem filhotes do que outros felinos maduros. Com paciência e dedicação, aos poucos, eles vão se aproximando, se familiarizando e sendo integrados ao grupo já residente”, afirma.

BRINCADEIRAS
O Bengal ainda tem características do felino selvagem ao qual se originou e, assim, é caçador: possui forte instinto predatório, que consiste em localizar, capturar e comer suas presas. Isso ocorre mesmo em exemplares bem alimentados. “Assim, os brinquedos devem incentivar o instinto de caça, pois esse gato necessita disso – a brincadeira dele não deve ser igual a de raças mais calmas como um Persa ou Ragdoll. O Bengal tem muita energia e necessita gastá-la liberando o seu lado caçador”, ensina Aline. “Tenha em mente que todas as brincadeiras devem ser incentivadas pelo humano, pois gatos geralmente não saem caçando um brinquedo parado e sem movimento”, acrescenta ela.
Os exemplares da raça são caçadores de extrema inteligência e, portanto, apreciam interações que exijam busca, localização e captura. “Um exemplo de brincadeira que imita o comportamento predatório é a de esconder comida em vários locais, espalhando o alimento seco pela propriedade ou jogando alguns petiscos para eles perseguirem”, comenta Bruna. Ela acrescenta: “É possível também esconder brinquedos e/ou petisco sem caixas interativas, ou seja, com orifícios onde os gatos conseguem enfiar a pata para pegá-los – elas podem ser feitas de papelão em casa mesmo, mas já há empresas que estão produzindo caixas interativas prontas. O tutor ainda pode adquirir comedouros interativos para promover refeições mais frequentes, em pequenas porções”.
As entrevistadas afirmam que também é possível mimetizar o comportamento predatório movendo uma varinha com um brinquedo de pelos ou penas na ponta, imitando uma presa voadora passando pelo ar ou presa rasteira, movimentando-se em linhas retas rapidamente para longe do gato. Por simular a caça, esse tipo de brincadeira é essencial para os momentos de interação com a raça e deve ser finalizada de maneira que se deixe o Bengal pegar e prender o objeto na ponta da varinha com as patas e/ou boca, para que não se sinta frustrado e sim orgulhoso e satisfeito pela conquista de ter apreendido aquela presa, simulando uma captura, e depois o recompensando com um petisco ou alimento. “Os brinquedos com laser também geram efeito similar e assim devem fazer parte do dia a dia de um Bengal”, diz Aline.
“Como tendem também a gostar de interação com água, é interessante proporcionar bacias com bolinhas e água potável”, ilustra Bruna. “O gosto por água vem do seu ancestral e por isso é importante disponibilizar a presença dela nos ambientes, por meio de fontes e bacias, que podem proporcionar momentos de lazer ao Bengal”, confirma Aline que, ainda sobre brinquedos, comenta que eles não devem conter peças muito pequenas ou que possam ser engolidos pelo felino. “Também é interessante o cat wheel – roda de gato –, que estimula o gasto energético, simulando uma corrida”, finaliza ela.

ARRANHADORES
Arranhar faz parte do comportamento natural dos felinos em geral e envolve marcação territorial. “O hábito de arranhadura faz também os gatos alongarem os seus músculos, o que é muito importante para as demais atividades”, explica Bruna. Assim, arranhadores são ótimas opções para se investir. “Recomendo para os tutores de exemplares da raça arranhadores de papelão, material que o Bengal normalmente gosta bastante, e os em forma de torres, revestidos com corda de sisal”, relata Bruna. “Aconselho os de tamanho grande, permitindo assim que o exemplar da raça – forte e robusta, com peso médio de 3,5 a 7 kg – consiga se alongar e arranhar: eles devem ser disponibilizados em vários pontos do ambiente e nos locais em que o gato mais interage”, diz Aline.
PRATELEIRAS
Para o Bengal, um lugar elevado é privado e seguro, de maneira que, quando ele está relaxado, também pode funcionar como área de descanso ou sono. “Deve ter largura e comprimento suficientes para permitir que o exemplar da raça se estique completamente”, ensina Bruna, que completa: “As prateleiras ideais são as com capa acolchoada, por questão de conforto, e depressão estilo rede para fornecer uma sensação de esconderijo”. E acrescenta: “Nichos elevados com mantas ou almofadas também são ótimas opções”. Aline complementa: “Por serem ótimos caçadores adoram escalar e saltar, algo que o tutor deve estimular escolhendo prateleiras suspensas com diferentes alturas, tamanhos e formatos”. E finaliza: “Algumas prateleiras contam com arranhadores, simulando a escalada em uma árvore, sendo ótimas opções”.



AR LIVRE
A raça possui muita energia e por isso é interessante que frequente lugares ao ar livre. Assim, deve ter acesso a ambientes externos, que proporcionam maior espaço para brincadeiras interativas e estimulam comportamentos como perseguir a caça e pular. “Dispor de um jardim ajuda muito na rotina de manejo de um Bengal, garantindo melhor qualidade de vida, mas ele deve ser telado, evitando possíveis fugas e acesso a outros animais externos”, diz Aline. Bruna corrobora: “Cercados com telas na parte externa protege o Bengal de ferimentos e do contato com gatos andarilhos que podem aumentar o risco de exposição a doenças infecciosas”.
Devido à verticalização das cidades, muitas pessoas acabam não tendo um jardim presente em seus lares. Aí resta a oportunidade de o exemplar ter acesso a áreas externas a casa. “Caminhadas com guia peitoral é uma opção segura, desde que o gato tenha sido treinado anteriormente com resultados positivos”, avisa Bruna. A criadora orienta a quem quer proporcionar essa experiência começar com o exemplar ainda filhote e de maneira gradual, fazendo inicialmente a adaptação do peitoral dentro de casa e realizando ao mesmo tempo brincadeiras com varinhas ou bolinhas, dando reforço positivo, como um petisco, depois. “Após essa adaptação com o peitoral é que se começa a fazer a apresentação ao ambiente externo por meio de passeios curtos em locais seguros e calmos, como o pátio do condomínio, sempre lembrando que ao caminhar com o gato na guia se deve respeitar onde o felino quer andar”, finaliza Bruna.
MANUTENÇÃO
As entrevistadas garantem: não há necessidade de dar banhos periódicos em exemplares da raça saudáveis e que vivem dentro de casa. A própria rotina de limpeza felina é suficiente. Ainda que a raça solte poucos pelos, a escovação semanal é bem-vinda como forma de carinho e momento agradável de interação. Aline comenta: “Gatos são animais estritamente carnívoros e o Bengal, por si só, possui essa característica ainda mais acentuada pela proximidade de seu ancestral selvagem. Por isso deve receber rações super premium com alto teor de proteína, além de alimentação úmida diariamente, que promove uma maior ingestão hídrica, visando à prevenção de doenças renais”.
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Agradecemos a colaboração de Aline Rempel, Clínica Exclusiva para Gatos – (51) 98254-2111, [email protected], Instagram: alinerempel.medicinafelina e Bruna Monticelli do gatil Monticelli – (51) 99505-1651, www.gatilmonticelli.com, Instagram: @gatilmonticell
Por Fabio Bense