American Shorthair: dócil e deslumbrante

Publicado em 28/05/2024

Desenvolvido nos Estados Unidos, ele tem expressão doce, porte médio e temperamento sociável

Foto: Thábia Padoin/ Gato: Odin/Propr.: Sonia Ornelas, gatil DeAlles/DeAlles Odin III foi
o 4º melhor gato da América do Sul pelo ranking Tica 2023

Eis uma raça da gatofilia que encanta a todos que a conhecem. “O que chama muito a atenção à primeira vista é a marcação do pelo do American Shorthair, que, mais comumente, exibe desenhos de forte efeito, formados por listras e manchas que podem ser de várias cores”, comenta Sonia Ornelas, do gatil DeAlles, de Morro Reuter, RS. “Aí, com a convivência, o deslumbramento passa a ser geral, por ele ser companheiro, interativo com todos da família e muito dócil: ele não arranha ou morde de propósito”, completa ela.
Sonia ainda explica que quem adquire um American Shorthair não o troca por outro gato. “Tenho clientes com três ou quatro exemplares da raça”, diz a criadora.
A criadora norte-americana Carol Johnson, do gatil Melody-garden, confirma: “Uma vez que a pessoa possui um American Shorthair como pet passa a querer sempre um gato da mesma raça”.

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POPULARIDADE

Sonia, que adquiriu seus primeiros gatos da raça há mais de 30 anos, vindos dos Estados Unidos, relata que, por lá, a raça conta com criação bastante desenvolvida e é muito apreciada. Ainda assim, em 2022, o último ano em que tais dados estiveram disponíveis, o American Shorthair não ficou entre as dez raças mais registradas pela Cat Fanciers’ Association (CFA), que tem sede nos Estados Unidos e clubes afiliados em todo o mundo. Por vários anos da década de 2000, ele esteve entre as top ten. “A raça ainda é bastante popular em meu país”, garante a norte-americana Robin Higgins, do gatil Sartoris. Carol concorda e acrescenta: “Mas seus criadores estão envelhecendo, e há poucos novos surgindo”. Robin completa: “Surgiram várias novas raças nos últimos anos, além de outras mais exóticas, e elas atraem muitas pessoas no mundo todo”.
Carol menciona como exemplo a China, onde, até pouco tempo, o American Shorthair também era bastante popular. “Mas ele tem perdido espaço para o gato Ragdoll e outras raças por lá”, completa ela, que também é secretária do conselho da raça na CFA e presidente do National American Shorthair Club. Carol relata: “Ambas as organizações contam com membros da Austrália, China, Hong Kong, Indonésia, Japão, Tailândia e de toda a Europa. Em todos esses lugares, há muitos criadores bons, assim como nos Estados Unidos, onde há gatis que criam, expõem e registram exemplares da raça pela CFA e outros pela The International Cat Association (Tica)”. Robin, que é afiliada a esta última, explica: ”Os padrões da raça dão margem para estilos individuais dentro das características do American Shorthair, e cada país pode dar peso a determinados traços desse gato de maneira diferente, com base em seus próprios interesses quanto aos rumos da criação”. Sonia, por exemplo, viu e gostou muito de alguns exemplares do Japão. “No Brasil, a procura por gatos da raça continua constante e, desde que comecei a criar, em 1993, estou sempre com pessoas esperando filhotes”, garante.

Foto: David Macias/Gato: GC Melodygarden California Bulrush/Criadora: Carol Johnson
Exemplar silver ticked tabby & white: em gatos ticked tabby as
listras são mais disfarçadas, quase não visíveis

RAÇA MUITO USADA EM COMERCIAIS: FACILMENTE TREINÁVEL

Um fator que contribuiu para a popularidade do American Shorthair em nosso país foram os comerciais de TV com a participação de adultos e filhotes da raça de criação e/ou propriedade de Sonia. Eles estiveram no ar entre o início dos anos 2000 e a segunda metade da década passada. “A maioria foi para a marca Whiskas, mas houve também exemplares meus que fizeram comercial para o café Pilão e para o lançamento do carro Honda Fit”, conta ela, que acrescenta: “A Whiskas, nos Estados Unidos, já realizava esse tipo de filmagem com espécimes da raça e, depois que eu participei de exposição em São Paulo, o pessoal daqui viu que eu criava American Shorthair e começou a querer fazer também. Assim, na época, muitas produtoras passaram a me ligar procurando exemplares da raça para comerciais”, conta Sonia. “Quando a Whiskas lançava um, o público corria atrás desses gatos. Acredito que um dos de maior repercussão foi o que envolveu a minha American Shorthair Volga, que descia de um sofá e corria atrás de um novelo de lã. Volga ficou sempre comigo, mesmo depois de ter sido castrada. Ela já faleceu, assim como os demais gatos meus que participaram de comerciais”, completa Sonia, que finaliza: “Outro que marcou foi o do gato que subia no telhado em protesto pelo fato de a ração Whiskas ter acabado. O exemplar se chamava Abdu e foi treinado pelo especialista em comportamento animal Gilberto Miranda, que inclusive o adquiriu”.
Robin informa: “Mesmo nos últimos anos, exemplares da raça estrelaram publicidades em revistas e até comerciais de televisão nos Estados Unidos, mas já faz algum tempo que não há muitos anúncios de alimentos para gatos por aqui, principalmente em se tratando de comida seca”. E acrescenta: “Eles se saem muito bem ao participar dessas filmagens para a TV graças às atraentes marcações listradas que costumam exibir e ao fato de serem sociáveis e tranquilos. Os machos castrados são os melhores candidatos, já que as fêmeas costumam ser mais independentes e menores”.
Carol tem uma amiga que regularmente leva os exemplares da raça dela para produtoras que fazem comerciais: “O American Shorthair se destaca também por ser bem treinável, conforme atestou o próprio adestrador que trabalhou com esses gatos”, relata a criadora.

Foto esquerda: Arquivo da criadora (Sonia Ornelas, gatil DeAlles)/Exemplares black silver classic tabby, a cor mais
popular da raça, que apresenta listras larga
Foto direita: Foto: Guilherme Fuentefria/Gato: Shonners Outrigger of DeAlles/
Criadora: Sonia Ornelas/Os gatos classic tabby exibem desenho que lembra uma
asa de borboleta em cada uma das laterais do corpo

DESTAQUE EM EXPOSIÇÕES

A aparência atraente desse gato, quando associada à tipicidade, tem feito com que espécimes brasileiros da raça se destaquem em exposições da gatofilia realizadas pelo mundo afora. “Em 2023 o meu exemplar DeAlles Odin III se consagrou o 4º melhor gato entre todas as raças pelo ranking sul americano da Tica, entidade a qual sou filiada, que tem sede nos Estados Unidos e conta com muitos clubes afiliados espalhados pelo mundo”, informa a criadora brasileira.

Foto: Guilherme Fuentefria/Gato: DeAlles Odin III/Criadora e prop.: Sonia Ornelas
Exemplar black silver classic tabby com os típicos olhos verdes

COLORAÇÕES

“O espectro de cores que o American Shorthair pode apresentar é muito amplo: vai do branco ao preto”, diz Sonia. “Tanto nas exposições da Tica como nas da CFA, a maioria dos pontos concedidos levam em consideração o tipo e a estrutura corpórea e não a cor. Mas, para as pessoas que querem comprar pets, a coloração é um atrativo e tanto”, afirma Carol. “Na raça, há mais de 200 combinações diferentes de cores e marcações”, conclui. ”Nas exposições dos Estados Unidos, é possível observar na prática uma maior variedade em relação às colorações dos exemplares da raça, enquanto alguns países se concentram em cores mais tradicionais”, acredita Robin.
No mundo todo, a coloração mais conhecida no American Shorthair é a black silver classic tabby. “Acredito que isso ocorra em virtude do contraste entre as listras pretas e pratas e também porque a maioria das pessoas associa a raça com tal cor, que, na CFA, é chamada simplesmente de silver tabby”, justifica Carol. Robin completa: “A impactante contraposição das listras tornou tal cor a mais identificadora do American Shorthair – nos anúncios publicitários, os exemplares da raça mostrados frequentemente exibem esta coloração, que, assim, sempre foi muito popular”. Carol finaliza: “Outra questão envolvendo esta cor é que nela os olhos são verdes”.
O termo classic tabby se refere à marcação caracterizada pelo desenho de asa de borboleta nas laterais do corpo e pelas listras largas, diferindo do mackerel tabby, que as apresenta mais finas, no estilo das dos tigres.
“Tenho certeza de que a cor mais rara do American Shorthair no Brasil é a branca e acredito que o mesmo ocorra no mundo todo”, relata Sonia. Carol concorda: “Exemplares da raça brancos são realmente muito raros, inclusive nos Estados Unidos. Considerando os gatis associados à CFA, tenho conhecimento de apenas um único criador trabalhando com a coloração. Não é de fato uma cor popular e eu não sei o motivo ao certo. Talvez esteja relacionado ao fato de que, ao se acasalar dois gatos brancos, isso pode causar olhos azuis e surdez, mas, se um exemplar cruzar com um gato de outra coloração, não haverá problema”. Robin comenta: “O American Shorthair branco não é visto muito frequentemente de fato. Eu, por exemplo, nunca tive um, embora as minhas cores favoritas sejam as com branco”. Carol explica ainda que outras cores/marcações raras na raça são a silver shaded (na qual o exemplar não exibe listras: cada fio de pelo é branco em boa parte de sua extensão, sendo que a outra parte é colorida, gerando um efeito sombreado bastante intenso) e a ticked tabby, na qual o gato exibe listras na cabeça, pernas e cauda, exceto se apresentar branco nesses locais. “Há apenas eu e outro criador de American shaded em meu país. Inclusive não há gatos shaded suficientes para acasalá-los sem que as linhagens se tornem muito consanguíneas”, diz Carol, que também cria gatos ticked tabby e mackerel tabby. “Embora eu não trabalhe com as cores mais populares, como as classic tabby, recebo diversos pedidos de pessoas que já possuem um American Shorthair e querem um da mesma raça mesmo se ele não exibir a coloração do último que teve”, finaliza Carol.

Foto esquerda: Mark McCullough/Gata: GC RW Melodygarden Virginia’s Creeper/Criadora: Carol Johnson/
Fêmea Silver Shaded: efeito sombreado bastante intenso
Foto direita: Larry Johnson/Gata: Sartoris Arreba, suprema grande campeã e campeã regional na Tica/
Criadora: Robin Higgins/Black silver classic torbie & white – mistura de preto, prata, vermelho e branco, a
cor é geneticamente ligada ao sexo: aparece 99% das vezes nas fêmeas
Foto: David Macias/Gato: GC Melodygarden O’Henry /Criadora: Carol Johnson
American Shorthair shaded cameo: “Na CFA, a cor vermelha-prata (red silver) é chamada de cameo”, informa Carol

COMPANHEIRO IDEAL

Quando se trata de fazer companhia, o American Shorthair mostra um estilo afetivo e bastante animado com todos os membros da família e com outros pets da casa. “Ele é bem alegre e brincalhão e, ao mesmo tempo, bastante companheiro. Também se dá muito bem com crianças”, garante Sonia. “Realmente se trata de um gato especialmente bom com crianças, se tornando um pet maravilhoso para famílias”, concorda Carol. Com relação às visitas, eles costumam ser amigáveis e receptivos.

Foto: Thábia Padoin/ Propr. e criadora: Sonia Ornelas, gatil DeAlles
Enquanto filhotes, os exemplares da raça não perdem pelo

MANUTENÇÃO DA PELAGEM E SAÚDE

O American Shorthair é resistente a doenças e, assim, os principais cuidados que ele exige são aqueles básicos. “Ou seja, manter as vacinas e o vermífugo em dia e oferecer sempre uma ração superpremium”, diz Sonia. A criadora ainda relata que muitas pessoas pensam que um gato de pelo curto não perde pelo. “Sempre esclareço que o American perde sim”, conta ela. “Todos os gatos perdem pelos”, confirma Carol.
Sonia explica ainda que, como o American Shorthair foi desenvolvido na parte fria dos Estados Unidos, a região norte, ele tem subpelo e é este último que cai depois do inverno. “A queda começa a ocorrer principalmente depois que os gatos entram na adolescência, porque enquanto são filhotes eles não perdem o pelo”, informa Sonia. “A maior queda ocorre no início do verão, quando o felino perde a pelagem de inverno, seguido por uma muda menos intensa no outono, quando são os pelos de cobertura que caem”, acrescenta Carol.
Como se vê, a escovação é importante, pois, com ela, os fios soltos irão aderir à escova em vez de se espalharem pela casa. A frequência ideal é duas vezes por semana e aumenta para três em época de muda. “Assim, durante a época de queda mais intensa, a maior parte do pelo solto desaparecerá em duas semanas”, diz Carol, que recomenda para tanto uma rasqueadeira. Já Sonia indica pentes de cerdas finas e juntas. “Eventualmente, um banho pode ser necessário. Ele irá ajudar a remover fios soltos. Não há necessidade que seja dado em pet shop, já que hoje há produtos especiais para essa finalidade que tornam o banho em casa mais fácil, caso do banho a seco, que muitas lojas vendem em gel, spray ou em pó”, diz Sonia.

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Associação:
National American Shorthair Club – www.nasc.club


Nossos agradecimentos:
Carol Johnson, gatil Melodygarden – [email protected];
Robin Higgins, gatil Sartoris –[email protected], [email protected];
Sonia Ornelas, gatil DeAlles – (51) 98651- 9731, www.gatildealles.com.br, [email protected], Instagram: @gatildealles


Por  Fabio Bense


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