Fatos que devemos considerar antes de trazer mais um felino para casa

É muito difícil conseguir ter apenas um gato em casa. Quando convivemos com felinos, tendemos a querer ter sempre mais de um bichano por perto. Porém, a decisão de adotar ou adquirir um segundo (ou terceiro, quarto…) felino deve ser muito bem pensada, pois ela pode trazer problemas de saúde e comportamentais ao gato mais antigo. “Quando falamos de trazer um novo gato para dentro de uma casa que já tem um ou mais gatos é fundamental relembrar que a casa é o refúgio, o local de segurança do gato residente, e a entrada de um novo gato gera desafios olfativo, auditivo, visual e físico. O gato residente, se não for devidamente acompanhado e preparado, assim como o ambiente, as chances de que ambos sejam negativamente afetados é grande. O estresse vai estar envolvido em qualquer novidade. A orientação, o preparo e o comprometimento dos humanos responsáveis são a chave do sucesso na introdução de um novo gato na família”, ensina Débora Paulino, médica-veterinária especializada em Medicina Felina e comportamentalista.
AVALIE BEM A DECISÃO
Como saber avaliar se o seu gato aceitaria bem um segundo felino? Débora destaca que os gatos têm perfis comportamentais, ou seja, há o gato mais tímido, o gato mais sociável etc. E esta configuração comportamental e temperamental é complexa, pois envolve desde fatores epigenéticos (ou seja, como o ambiente e o estilo de vida podem influenciar a forma como os genes são ativados ou desativados, sem alterar o código genético em si) até o ambiente que este gato já está inserido. “O ideal é que o gato residente tenha já o seu perfil comportamental (personalidade) definido antes da chegada do novo gatinho. Vale salientar que nada é estático. Então, como a vida é dinâmica, não podemos classificar o gato apenas pela sua personalidade sem levar em consideração todos os estímulos ambientais que o cercam. Assim, o ambiente influencia na demonstração/expressão de determinados comportamentos”, comenta Débora.
ENCONTRE GATOS QUE SEJAM COMPATÍVEIS
Outro ponto é, conhecendo o gatinho residente, tentar trazer um animal de estimação que tenha um perfil mais compatível com o pet que já está em sua casa. “Assim como já existe uma ferramenta utilizada em abrigos para auxiliar o ser humano responsável a encontrar um gato mais compatível com o estilo devida do mesmo”, compara Débora.
Ainda segundo ela, a idade do gato mais antigo da casa não é um fator determinante para o sucesso da adaptação, mas pode sim influenciar. “Por exemplo, um gato idoso que sempre viveu sozinho, não é interessante o gateiro chegar com um gatinho filhote em casa, como novo membro da família. Agora, em um outro contexto, em que temos um gato idoso que sempre teve companhia de outros gatos e gosta desta relação social, para este idosinho, a sugestão de aumentar a família felina com um gato adulto seria uma possibilidade a ser estudada com todos os critérios. Tem gatos idosos que se dão bem com filhotes, tem gatos adultos que não se dão, tem filhote que não gosta de contato com outros gatos, e assim por diante”, diz. Assim, há muitas variáveis que precisam ser pensadas e avaliadas pelo dono do felino antes de se tomar uma decisão.
FILHOTE OU ADULTO COMO SEGUNDO PET?
A resposta para esta pergunta depende de quem já mora em casa e o contexto de vida deste residente, aponta Débora. “Como são os humanos responsáveis que tomam esta decisão é interessante um processo de educação relacional da família multiespécie, para que esta escolha não esteja pautada apenas em uma necessidade criada unicamente pelo ser humano, e não de um desejo genuíno. Coloco as palavras necessidade e desejo, porque a necessidade gera o senso de urgência, então, esta pessoa tende a querer acelerar os passos fundamentais da introdução de um novo membro à família. Quando falamos em desejo, a escolha é pautada na vontade, mas analisando todo o ambiente, o contexto de vida deste gato residente e do ser humano, o responsável deve ser perguntar: um novo gato faz sentido em meu atual estilo de vida?”, provoca Débora.
Já para quem pretende inserir um cão na casa que tem apenas gatos, a chegada de um novo animal de estimação também deve levar em consideração o temperamento do gato e do cão. “Muitas vezes, há necessidade de ter um profissional realizando o acompanhamento para a construção de uma família multiespécie harmônica e equilibrada, saudável a todos os envolvidos”, finaliza a profissional.
Por Samia Malas
Nossos agradecimentos:

Débora Paulino
Formada em Medicina Veterinária pela Universidade Anhembi; pós-graduada em clínica e cirurgia de felinos pela Equalis; pós-graduada pela ISFM em Advanced Feline Behaviour; docente no curso técnico de veterinária do Colégio Tableau e no curso de pós-graduação em Clínica de Felinos das Famesp. Criadora da Mais Gato.
Instagram: @vet.debeepaulino ou @maisgato/ E-mail:[email protected]