Para que o pet fique bem enquanto você viaja é preciso que ele receba cuidados de quem entende de gato

Gatos são animais caseiros, territoriais, e preferem mil vezes ficar em casa no seu edredom durante as férias do que passear por aí feito cães. Neste ponto, todos os gateiros concordam. Porém, infelizmente, ainda existe uma cultura forte entre os donos de gatos em acreditar que o pet fica bem em casa sozinho por alguns dias, basta deixar ração, água e uma caixa de areia extra. “Deixar um gato sozinho com um vizinho apenas alimentando-o pode não ser a melhor solução para o bem-estar do animal. Embora a alimentação seja essencial, os gatos também precisam de interação social e estímulo mental. A falta de companhia e brincadeiras pode levar o gato a sofrer com tédio, estresse e solidão. Os gatos são animais sociais que, embora possam ser independentes, também apreciam a interação com os humanos. Se o vizinho não puder dedicar tempo para brincar, acariciar ou observar o gato, ele pode se sentir negligenciado”, aponta Dulce Cristina Bonilha Oscar, médica-veterinária especializada em Medicina Felina e cat sitter desde 2017, em São Paulo.
Existe ainda a hospedagem para gatos, onde o pet fica em um hotel durante a sua ausência. “Esta é uma opção ainda pouco procurada por tutores, pois existe um senso comum de que é uma situação de estresse alto tirar um gato da sua própria casa. Essa linha de raciocínio só faz sentido se for para levá-lo a um ambiente que não esteja preparado para acolher e respeitar sua natureza felina”, aponta Laraue Motta, comportamentalista animal e sócia da Vila Anima Cat.
Antes de tudo, preparar-se para as férias de fim de ano com antecedência é essencial, mesmo se a opção for deixar o gatinho em casa com um cat sitter. “É sempre importante planejar uma hospedagem pet com antecedência suficiente para preparar o animal para a estadia pensando em questões de saúde como protocolo vacinal em dia, realização de exames de Five Felv, para que seja possível fazer alguma adequação comportamental, caso necessário, e para que o tutor possa tirar todas as dúvidas antes de deixar o animal sob cuidados de terceiros. Considero uma boa antecedência um prazo de 15 dias a um mês antes do dia do check-in!”, aconselha Laraue.
POR QUANTO TEMPO DEIXAR O GATO?
Mesmo gatos sendo, geralmente, mais independentes do que cães, conseguindo ficar sozinhos por períodos mais longos (claro, sempre com a companhia diária de um cat sitter), Dulce aponta que a quantidade de dias que um gato pode suportar sem seus humanos de estimação varia de acordo com a personalidade do animal, seu nível de socialização e a qualidade dos cuidados recebidos. “Alguns gatos conseguem ficar até 30 dias em sua própria casa, com os cuidados de um cat sitter indo duas vezes ao dia. E claro, com um feromônio ligado direto na tomada. Em geral, muitos gatos podem se sentir confortáveis por até uns 10 dias com um cat sitter visitando eles. Claro, desde que recebam alimentação, água, atenção e brincadeiras. Alguns gatos mais tímidos ou apegados aos humanos de estimação podem começar a sentir estresse ou ansiedade após três a cinco dias”, comenta a profissional. Assim, antes de contratar tais serviços, Dulce alerta que é importante observar o comportamento do gato e preparar o ambiente para que ele se sinta seguro e confortável durante a ausência dos donos. “Se a viagem for mais longa, considerar uma visita diária do cat sitter ou até uma estadia em um local de cuidados para animais pode ser uma boa alternativa. Sempre precisa levar em consideração cada gato, gatos idosos ou muito jovens podem precisar de mais atenção e cuidado. Gatos com condições médicas crônicas podem precisar de mais monitoramento e cuidado. Gatos mais ansiosos ou estressados podem precisar de mais atenção e interação. É importante considerar as necessidades específicas do seu gato e planejar de acordo para garantir que ele esteja seguro e feliz”, acrescenta.
CUIDADOS PARA ESCOLHER O HOTEL
Laraue Motta ensina algumas dicas para fazer uma boa escolha:
• Avalie a estrutura física: veja se o gatinho terá um lugar privativo só para ele, sem que seja obrigado a dividir espaço com animais desconhecidos ou se terá contato visual com outros gatos;
• Equipe qualificada: avalie o conhecimento dos cuidadores em relação às necessidades e características específicas dos felinos, se o animal terá interações saudáveis com a equipe do hotel durante o período da hospedagem e se há uma preocupação em tratar cada gatinho de acordo com a individualidade de sua personalidade, pois gatos são animais de temperamentos muito diversos e adequar a experiência para cada perfil é essencial para garantir uma estadia satisfatória e que prioriza o bem-estar de cada hóspede;
• Exclusividade para gatos: é essencial também que o espaço seja destinado exclusivamente a hospedar gatos, sem que seja frequentado por outras espécies como cães, aves ou outros pets (em estabelecimentos que atendem diversas espécies, é importante que haja um bom distanciamento nos espaços de cada uma, evitando assim que odores e estímulos auditivos comprometam a segurança e o bem-estar de cada animal);
• Confiança: pesquise bem as opções e avalie onde sente mais confiança para hospedar seu gatinho;
• Supervisão 24 horas: a constante supervisão num hotel pode proporcionar ao tutor uma tranquilidade maior num momento em que ele não poderá estar presente pessoalmente para cuidar do seu gatinho, evitando emergências e recebendo atualizações diárias sobre seu felino!
PERSONALIDADE DO GATO: ELA TAMBÉM INFLUENCIA!
Outro ponto a se considerar antes de optar por um serviço ou pelo outro é a personalidade do felino. “É importante sempre conversar com o estabelecimento para avaliarem em conjunto cada caso mas os casos mais delicados geralmente são de animais que tenham alguma questão de saúde ligada diretamente à imunidade, animais que estejam em condições de cuidados clínicos em que sua condição demande a supervisão e intervenção de um médico veterinário e de animais que sejam ferais ou semi-ferais de modo que não permitam nenhum tipo de manipulação de pessoas, o que pode comprometer a higiene do espaço e a manutenção de itens primordiais e, consequentemente, o bem estar desse animal”, alerta Laraue.
Gatinhos naturalmente sociáveis, continua Laraue, costumam aproveitar demais a experiência no hotel desde o início, gatinhos mais inseguros precisam ser respeitados nos momentos iniciais e assim que percebem que não estão em ambiente ameaçador e que não serão manipulados sem que estejam dispostos a isso, tendem a vir procurar interações de forma tranquila e saudável! “É importante entender e ponderar os benefícios em relação a toda a rotina do animal, não apenas a mudança do ambiente! Por exemplo, para um gatinho que tem uma rotina onde a presença humana é constante, onde a reposição da ração acontece com frequência, que está acostumado a usar caixa de areia sempre limpinha e a interagir e brincar todos os dias, ter essa dinâmica mantida, ainda que em um lugar diferente, pode ser muito mais benéfico para ele do que ter toda essa rotina interrompida”, pondera.
ADAPTAÇÃO NO HOTEL
Laraue dá algumas recomendações para quem pretende deixar o felino de estimação em um hotel para gatos. Uma delas é fazer o check-in pela manhã, para que a equipe do hotel tenha tempo de acompanhar os primeiros momentos do gatinho na hospedagem e adaptar tudo o que for preciso para favorecer uma estadia tranquila e segura de acordo com cada hóspede. “Também é importante levar uma cobertinha e/ou uma peça de roupa do tutor para que o gatinho tenha uma referência olfativa conhecida e, assim, possa realizar uma associação de segurança num primeiro momento dessa nova experiência. Fazer uso de feromônios alguns dias antes, ainda em casa, e no momento do transporte pode favorecer que o gatinho se adapte mais rapidamente ao hotel e crie confiança e segurança no espaço e no manejo dos cuidadores de forma mais rápida! Nesse primeiro contato, o estabelecimento deve contar com toquinhas/esconderijos onde o gatinho possa recorrer caso sinta necessidade de se abrigar até que entenda a dinâmica da situação e possa ficar confiante para explorar tudo e desfrutar do tempo que passará no hotel! Normalmente, entre 1 e 2 dias de hospedagem os gatinhos já estão super a vontade e adaptados!”, acrescenta.
COMO ESCOLHER O CAT SITTER?
Dulce Bonilha listou alguns pontos para te ajudar a encontrar a cat sitter ideal:
• Veja suas referências: verificando as avaliações de outros clientes em plataformas de serviços de pets ou redes sociais; entrar em contato com essas referências pode fornecer informações importantes;
• Experiência com gatos: certifique-se de que o profissional está familiarizado com a espécie felina;
• Marque uma entrevista: converse com o cat sitter para discutir suas necessidades e expectativas, e verifique se ele se sente confortável com a responsabilidade de cuidar do seu gato; observe como ele interage com o gato e se ele demonstra conhecimento sobre cuidados felinos; pergunte sobre a experiência do cat sitter com gatos, incluindo situações específicas, como administração de medicamentos;
• Prepare a casa: certifique-se de que sua casa esteja livre de objetos perigosos, como plantas tóxicas, fios expostos e produtos de limpeza em locais acessíveis;
• Garanta tudo que o gato vai precisar: deixe um espaço onde seu gatinho se sinta à vontade, com sua cama, brinquedos favoritos e arranhadores; deixe uma quantidade suficiente de ração, sachê, petiscos e areia para a duração da sua ausência, além de instruções claras sobre a quantidade a ser oferecida; deixe objetos que tenham o seu cheiro para ajudar o gato a se sentir mais seguro; ofereça uma variedade de brinquedos para manter seu gatinho entretido e ativo enquanto você estiver fora;
• Hidratação: garanta que seu gato tenha sempre água fresca; considere usar uma fonte de água para gatos, que pode incentivar a hidratação, além de um pote de água, caso acabe a energia;
• Informe o cat sitter: forneça ao cat sitter todas as informações sobre a rotina do gato, incluindo horários de medicação, se for o caso, e quais brinquedos seu gato mais gosta; deixe informações sobre o veterinário e um contato de emergência em caso de qualquer imprevisto. Combine com o cat sitter a frequência das visitas, idealmente, ele deve visitar o gato pelo menos uma vez ao dia, todos os dias;
• Emergências: certifique-se que o cat sitter saiba lidar com emergências;
• Você informado: verifique se o cat sitter oferece atualizações regulares enquanto você estiver fora, como fotos e mensagens, pois isso pode ajudá-lo a se sentir mais tranquilo;
• Faça um contrato: certifique-se de que todas as expectativas, como horários, serviços prestados e taxas, estejam claramente definidas em um contrato. Isso ajuda a evitar mal-entendidos.
Nossos agradecimentos;

Dulce Cristina Bonilha Oscar
Cat Sitter desde 2017, é movida pela paixão por gatos. É médica-veterinária com especialização em Medicina Felina. Além disso, é formada em administração de empresas e está cursando uma pós-graduação em Comportamento de Cães e Gatos.
Instagram: @Docecatsitter

Laraue Motta
Sócia da Vila Anima Cat, em Osasco-SP. É adestradora, comportamentalista, já atuou na Cão Cidadão, foi revisora da 2ªedição do livro “Os segredos dos gatos” e é especialista em gestão de mercado Pet pela USP-FMVZ.
Instagram:@vilaanimacat