De malas prontas: relatos de tutores de gatos viajantes

Criadora Iemanjá Cristiane Santos e Sousa conta um pouco sobre seus cuidados com os gatos e rotina do gatil

Gateiros compartilham histórias sobre seus felinos acostumados a colocar o pé na estrada com a família

Imagem de Alexa por Pixabay

Pode parecer muito estranho para tutores de gatos que passam o tempo todo dentro de casa e que sofrem ao terem que sair do conforto do lar, mas os felinos domésticos podem sim ser bons companheiros de viagem. Ainda que não seja tão comum os vermos como “mochileiros”, alguns deles acompanham seus humanos em aventuras através de passeios por terra, em carros e motorhomes, e até mesmo pelo ar, dentro de aviões. Conheça algumas dessas histórias.

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ASAS NAS PATAS

Foto: Arquivo Pessoal

A publicitária Patty Roman decidiu acostumar desde cedo o gatinho Duque (Instagram: @duque.cat), que hoje tem 7 anos, a barulhos, pessoas e saídas. Nascido em Florianópolis, ele já ia para a praia e começou a viajar de avião comum ano de idade – e até roupa de piloto ele chega a vestir para fazer fotos temáticas. Existem alguns cuidados básicos antes de cada passeio aéreo. “Claro, ele sempre está com as vacinas e visitas ao veterinário em dia. Nunca viajo em trechos de mais de uma hora e converso com ele antes e durante o voo para que fique tranquilo. O Duque sempre fica com um peitoral com guia presa à bolsa de transporte, coleira com identificação e sempre vai na cabine comigo.
Também escolho companhias aéreas confiáveis”, compartilha a tutora, que também conta que prefere horários de voo em que o gatinho costuma estar mais calmo, segundo sua rotina, e evita alimentá-lo logo antes da viagem. Patty lembra de uma vez que o gatinho chegou até mesmo a acalmar uma passageira que parecia apreensiva. “Ela fez carinho nele – Duque é muito dado e adora receber atenção – e ele passou tranquilidade para ela”, conta. As irmãs de Duque, Pantera e Mel, já estão quase se tornando viajantes como ele. Pantera já fez sua primeira viagem de avião, e Mel viajou de ônibus de Florianópolis à São Paulo – ambas passearam tranquilas e deixaram a tutora orgulhosa.

ESTRELA DO AEROPORTO

Fotos: Arquivo Pessoal

O gatinho Ravioli, de 4 anos, chama atenção e faz sucesso entre as pessoas que frequentam os aeroportos por onde ele passa. Viajando sempre ao lado de sua tutora, a influenciadora digital Bárbara Danich, de Balneário Camboriú, SC, o pet fica bem-comportado ao ser transportado na cabine do avião nos pés de sua humana durante o voo. Para dar vazão às aventuras do bichano, que já conhece inclusive cidades no Uruguai, a influenciadora criou o Instagram @ravioliogato e, eventualmente, eles encontram fãs no caminho de suas viagens. “Uma vez uma comissária de bordo me entregou a documentação do Ravioli com os olhos cheios de lágrimas dizendo que não acreditava que era ele, pois já nos seguia na internet e desejava nos ter no voo dela. Tiramos até foto. Eu fico muito emocionada e feliz em ver que fazemos isso com as pessoas. ”A tutora lembra que percebeu o interesse dele em viajar quando, ao se preparar para sair, o felino ficava entrando em sua bolsa. Ela decidiu levá-lo e surpreendeu-se com a postura tranquila do pet mesmo diante de muitas pessoas estranhas e barulhos. A tutora explica que a conexão entre eles surgiu logo que Ravioli nasceu. Afinal, o felino precisou de ajuda para sair da barriga de sua mãe. “Ao observar a sua mãe, a Julieta, vi que ela estava em trabalho de parto, mas não nascia nenhum filhote. Liguei para a veterinária, pedi instruções, coloquei uma luva e ajudei uma bolinha laranja bem gordinha que estava obstruindo a passagem dele e dos irmãos. Era o Ravioli”, brinca Bárbara. Desde então, nunca mais se separaram. E ela foi adaptando o felino às viagens, primeiro com trechos mais curtos, depois aumentando percursos. Ravioli não é o único gato de Bárbara, que tem os irmãos Ricota, Manteiga, Tia Bambina e Romeo, mas ele é o único da turma com “rodinhas nos pés”. “Eu tentei adaptá-los para sair na rua, mas eles não gostam, ficam com medo e nervosos. Preferem passear na escada do prédio, onde não tem ninguém, nem barulhos. E está tudo bem. Cada gatinho tem uma personalidade especial. E a gente precisa respeitar isso”, reflete.

SEM ROTEIROS

Foto: Arquivo Pessoal

Foi na pandemia da Covid-19, no entanto, que algo mudou. O casal se viu preso dentro de casa, vendo a vida passar e com receio de não conseguir realizar seus sonhos. “Resolvemos, então, ir atrás e começar essa etapa de nossas vidas. ”Foi quando os seis bichanos, todos resgatados e SRDs, iniciaram a adaptação para gatos viajantes. São eles: Preto, de 9 anos; Léia, de 8; Bruce, de 6; Luke, de 5; Kitty, de 4; e Mini, de 2. O motorhome foi adaptado para os pets: quase sem paredes divisórias, para que eles possam correr e pular de um ponto a outro; todas as janelas com grades de proteção; duas varandas com espaços para eles olharem para fora e tomarem sol; nichos e tocas espalhados; e vários pontos que podem ser usados como arranhadores.

Fotos: Arquivo Pessoal

“A adaptação deles sempre foi nossa maior preocupação. Então, desde o início da construção, pelo menos uma vez por semana, levávamos eles no veículo, para conhecerem. Quando finalizamos, eles já conheciam o espaço e já se sentiam em casa”, compartilha a tutora. A adaptação também se deu na viagem, que começou em janeiro de 2022, quando a família passou dois meses estacionada em um mesmo lugar. No segundo mês, faziam apenas passeios curtos e começaram, aos poucos, a se acostumar com o novo ritmo. “O que mais demorou para se acostumar foi o Luke. Diferente dos outros, ficou bem agitado e irritado nos primeiros dias. Ele é o mais difícil de todos. Mas hoje já está 100% adaptado, assim como todos os outros.” O casal precisou ter paciência com as diferentes personalidades dos filhos felinos, dos mais aventureiros aos mais medrosos. E toda a rotina, mesmo durante a viagem, é pensada em torno dos pets. “Nós sempre procuramos lugares onde não exista muito fluxo, nem de carro nem de pessoas, para passear com eles na coleira. Geralmente, passeamos de dois em dois, cada humano com um gato – eles não saem do motorhome sozinhos ou sem coleira. Para não perder nenhum, é atenção 100% do tempo, neles e no ambiente, para prever alguma possível situação adversa.” O grupo já está há seis meses na estrada, e os planos são viajar por todo o Brasil e, depois, seguir para outros países. Mas sem pressão ou planos fixos. “Nossa vida é assim, cada dia uma nova aventura”, conclui Camila.

VIDA SOBRE RODAS

Fotos: Arquivo Pessoal

O casal Margaret e Achiles tomou uma decisão em 2018: eles abandonaram a vida em Salvadore embarcaram em um motorhome para conhecer o Brasil, seus muitos lugares, pessoas e costumes. “Nós sempre gostamos de viajar e tínhamos esse sonho. Mas sempre fomos adiando, até que tivemos câncer. Eu, em 2011, e o Achiles, em 2015. Depois do sufoco, pensamos que poderíamos ter morrido sem realizar nosso sonho. E foi aí que tomamos a decisão de morar na estrada”, explica Margaret. Junto com eles, foram a gatinha Pirata, de 8 anos, e seus irmãos caninos, Brad, de 14 anos, e Jujuba, de 16. A pet passou no teste de adaptação para viver no motorhome e embarcou na aventura junto com seus tutores. “Pirata sempre foi tranquila. Fizemos uma espécie de bancada ao lado do meu banco e, ao ligar o motorhome, ela já vai para lá, onde fica praticamente a viagem inteira”, conta a tutora sobre o temperamento da gatinha. Mas, se ela traz calmaria, a mais nova integrante da família é pura agitação. Afinal, a pequena Pipoca tem apenas 8 meses e a energia de um filhote brincalhão. “A adotamos em janeiro deste ano. Estávamos em um camping onde não tinha gatos e um dia ela apareceu magrinha e esfomeada. Foi amor à primeira vista. Meu marido diz que foi um anjo que enviou ela porque eu estava doida para ter outra gatinha”, compartilha Margaret. Mesmo na estrada, o cuidado com os pets é prioridade: a família costuma estacionar em campings, uma vez que oferecem mais segurança para os animais. “Em cada cidade que passamos, já vemos um veterinário, caso seja necessário. Temos um cercadinho para que os cachorros possam ficar do lado de fora do carro e, quando o camping permite, a Pirata também sai. A Pipoca ainda não deixa o motorhome sozinha porque é muito novinha, mas passeamos com ela na coleira”, descreve. A pequena ainda sente um pouco de medo quando o veículo está em movimento, mas já está se acostumando com as viagens. E já deixou a vida de gata de rua para trás. “Quando ela era da rua, a gente dava ração de cachorro para ela. Hoje só quer ração especial, escolhe o tipo de petisco e não come mais nada”, brinca.
A família compartilha suas andanças e sua rotina no canal Viver Sem Roteiro, que já acumula quase 200 mil inscritos no YouTube. Foi o amor pelas viagens que fez a tatuadora Camila Pedrassoli e o desenhista Luiz Fernando Coury da Silva Somos, de Valinhos, SP, embarcarem na ideia de viajar comum motorhome. Mas, como tutores de gatos – na época tinham quatro, hoje são seis –, eles não conseguiam ver como seria possível ajustá-los a essa rotina de aventuras. “Nunca tivemos muito dinheiro para viajar. Passeávamos uma vez por ano apenas, sempre com duração de uma semana ou 15 dias, e a madrinha dos gatos vinha em casa cuidar deles”, lembra Camila.

DE MUDANÇA

Foto: Arquivo Pessoal

Algumas viagens são necessárias. Foi o caso do grande trecho de avião, de São Paulo ao Canadá, que os gatinhos Abu e Rafik, ambos com 7 anos, precisaram percorrer. Afinal, a tutora, a gerente de varejo Ana Mattos Faraz, estava de mudança e não deixaria seus filhotes peludos para trás. Eles nunca haviam viajado de avião, apenas de carro, então houve uma série de protocolos que foram novidade para eles, mas a tutora conta que os seguiu à risca: “eu segui tudo passo a passo. Fiz toda a documentação necessária, deixei a carteira de vacinação em dia e participei de grupos sobre como levar pets para o Canadá. Me atentei às medidas das bolsas de transporte, que a companhia aérea especificou, já que variam a cada modelo de aeronave. Só é permitido viajar comum pet na cabine por adulto, então eu trouxe um e meu marido o outro”. A tutora buscou preparar os bichanos antes de embarcarem também, no dia a dia. Ela deixava as caixas de transporte abertas e disponíveis para utilizarem como refúgio, passeava com os pets dentro delas e fez uso de hormônios felinos associados aos espaços. Todo o esforço, associado a uma boa dose de carinho e atenção durante o trajeto, resultou em uma viagem quase 100% tranquila. Rafik acabou sujando a caixa com suas necessidades, mas bastou uma limpeza com lenços umedecidos para resolver a situação. “Acho que a viagem foi mais difícil para mim”, brincou Ana. “Eu me surpreendi demais com eles. Acho que a gente subestima a capacidade de adaptação dos animais. Acredito que minha ansiedade foi mais forte e me preocupei em excesso. Claro que o animal se estressa fora do ambiente dele, mas eu tentei ao máximo amenizar isso para eles.” A chegada ao Canadá exigiu mais um pouco de paciência em relação à adaptação da família. Enquanto Rafik sentiu-se já em casa no espaço novo, Abu passou muitas horas escondido até se sentir confortável. A tutora aponta que essa hora é “de muito amor e muita paciência e de saber respeitar o tempo de adaptação de cada um”.

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Por:  Aline Guevara

 


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