9 descobertas científicas sobre a espécie felina

Investigamos curiosidades e dados valiosos que pesquisadores têm revelado sobre os incríveis gatos domésticos

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Foto: nataka/iStockphoto.com

Gatos são animais ainda pouco compreendidos por nós. E bem menos estudados que os cães. Isso acontece, em parte, por sua domesticação ter sido mais recente que a dos cães. Por outro lado, segundo explica Carlo Siracusa, professor de comportamento na Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Pennsylvania, os poucos estudos relacionados aos gatos também estão ligados ao fato de que há poucas expectativas em relação ao comportamento felino. “Se um cão late muito e incomoda os vizinhos, o dono procura por ajuda para resolver esse problema comportamental. Mas, se um gato se esconde quando chega uma visita, ninguém se importa”, exemplifica. Além disso, Carlo também destaca que gatos domésticos não desenvolveram comportamentos sociais tão complexos quanto cães pelo fato de seus ancestrais serem animais de vida solitária e não gregários. “Por isso é mais difícil interpretar e estudar os felinos, pois o comportamento social deles é, em sua maioria, baseado em contato não prolongado e distanciamento”, aponta. No entanto, esse cenário vem mudando, e Carlo diz que grupos de estudos voltados para o comportamento de felinos têm surgido pelo mundo afora. “Estudos relacionados à cognição dos felinos serão os grandes destaques dessas pesquisas. É muito interessante estudar como os gatos foram atingidos cognitivamente pela domesticação. Isso vai nos ajudar muito a melhorar o ambiente deles em nossas casas e nossa convivência com a espécie”, garante. “É preciso que tutores entendam que gatos não são pequenos cães com baixa manutenção e poucos cuidados. Gatos são gatos”, ressalta o pesquisador. 

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1. Gatos percebem tempestades

A seguir, veja algumas descobertas feitas nos últimos anos sobre nossos incríveis companheiros bigodudos:

Assim como muitos outros animais, os gatos são mais sensíveis que nós para perceber barulhos, cheiros e mudanças na pressão atmosférica (percebidas por seu ouvido interno), o que os ajuda a antecipar a chegada de uma tempestade. Com seu olfato apurado, é capaz de sentir o cheiro da chuva que se aproxima e o odor metalizado do gás ozônio presente na atmosfera quando há relâmpagos.

2. Caçadores vorazes

Um estudo realizado por pesquisadores da North Carolina State University e do North Carolina Museum of Natural Sciences revelou que gatos domésticos abatem mais presas em sua área do que felinos selvagens de pequeno porte na natureza. Eles chegam a matar 10 vezes mais que um predador selvagem. A pesquisa sugere que as caçadas de nossos pets têm grande efeito na população de animais locais, onde o felino vive. “Como eles caçam em áreas concentradas, em geral em até 100 metros ao redor de suas residências, as caçadas têm efeito muito mais concentrado nas populações de pássaros e pequenos mamíferos daquela região”, aponta Roland Kays, professor, associado, pesquisador e diretor do Biodiversity & Earth Observation Lab, Nature Research Center e NC Museum of Natural Sciences.

Para chegar a tais conclusões, além de monitorar 925 gatos de seis países (principalmente Estados Unidos, Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia) por GPS, os pesquisadores pediram a seus tutores que os notificassem cada vez que o felino trouxesse uma presa abatida em casa. “Humanos dizem gostar de biodiversidade, mas, ao deixar que os felinos domésticos circulem livremente, estão a prejudicando”, aponta Rob Dunn, professor da NC State University e um dos coautores da pesquisa. Está aí mais uma razão para mantermos nossos felinos indoor.

3. Bigodes também servem para caçar

Que os bigodes ou vibrissas felinas são importantes para a locomoção, o equilíbrio e a coordenação dos gatos, muitos tutores sabem. Essas estruturas, localizadas nas bochechas, acima dos olhos, atrás das patas dianteiras e no queixo, estão ligadas a terminações nervosas e ajudam o felino a sentir, literalmente, o caminho que ele deve seguir, inclusive no escuro. Mas você sabia que os bigodes são alinhados com a largura do corpo do gato para que ele consiga calcular a distância da presa e, assim, capturá-la com precisão? Na ponta dos bigodes, há receptores especiais que também são órgãos sensoriais e permitem monitorar a distância, a direção e até a textura da caça. Os bigodes também monitoram o fluxo de ar, para coordenar sua locomoção.

4. Um a cada 10 gatos sofre de ansiedade de separação

A ansiedade de separação é um dos distúrbios mais falados do momento, tanto em cães como em gatos, e foi agravado na pandemia. Um estudo, feito por pesquisadores canadenses do Memorial University of Newfoundland, apontou que os sintomas mais comuns de gatos que sofrem de ansiedade de separação são: comportamentos destrutivos, vocalização excessiva, urinar fora da caixa sanitária, agressividade, apatia e agitação. Os felinos que apresentaram tal distúrbio não viviam em um lar enriquecido, não tinham brinquedos nem outros pets na casa. 

A ideia de que gatos também sofrem de ansiedade de separação se deu após estudos apontarem que felinos ficam mais seguros e relaxados na presença do dono e mais estressados sem sua presença. Contudo, ainda há muito o que se discutir a respeito. O pesquisador norte-americano Carlo Siracusa, por exemplo, é cético em relação a tais pesquisas, pois acredita que o estresse notado do gato nos momentos em que o dono está ausente pode estar relacionado ao fato dele estar em um ambiente que não é o dele durante os testes feitos para tais pesquisas. “Gatos são muito sensíveis mesmo a mudanças de ambiente. Parte disso está relacionada ao fato deles também serem presas na natureza. Então, para eles, estar em um ambiente desconhecido é potencialmente perigoso. E isso pode interferir nos resultados desse tipo de pesquisa”, aponta.

5. Gatos têm tutores como referência

Um outro estudo recente sugere que gatos observam os donos em algumas situações para saber se eles devem ou não ter medo ou permanecer relaxados. Seria algo semelhante ao que crianças fazem com seus pais. No experimento, gatos foram colocados em uma sala com seus tutores, que, diante de uma situação, expressavam medo, alegria, relaxamento ou se mantinham neutros. Percebeu-se então que 79% dos felinos observavam seus tutores para obter informações sobre como deveriam reagir àquela situação.

6. Ele reconhece a sua voz?

Quando você chama pelo seu gato e ele não vem, significa que ele realmente não está a fim de vir. Dois pesquisadores japoneses, Atsuko Saito e Kazutaka Shinozuka, descobriram que felinos reconhecem a voz de seus tutores. Para esse estudo, 20 gatos domésticos foram testados da seguinte maneira: enquanto o tutor estava fora do campo de visão do felino, três vozes humanas distintas (mas do mesmo sexo) que chamavam por seu nome eram tocadas para o pet, sendo a última de seu tutor. Os pesquisadores avaliaram as reações dos gatos nessas três situações. Os gatos respondiam às vozes humanas com a rotação das orelhas e o movimento da cabeça (e não por movimentos de cauda ou vocalização), indicando que as reações eram mais de orientação (de onde está vindo esse som?) do que de comunicação.

Porém, os pesquisadores perceberam que 15 dos 20 gatos testados, ao ouvirem a voz do dono, demonstraram uma maior resposta a esse som. A conclusão da pesquisa é que gatos conseguem usar a voz humana para distinguir seres humanos. Contudo, o pesquisador norte-americano Carlos Siracusa faz uma ressalva: “não é que o felino sabe que Jack é o nome dele. Ele é capaz de reconhecer a voz do dono e sabe que, quando ele escuta aquele som, algo acontece”. “Felinos não têm um repertório de palavras, um vocabulário como os cães, que são capazes de discriminar milhares de palavras humanas”, completa James Serpell, professor de Ética e Bem-estar Animal na Penn’s School of Veterinary Medicine, nos Estados Unidos.

7. Gatos têm expressão facial?

Outro estudo que tem sido realizado no mundo da pesquisa felina é sobre a expressão facial de felinos. Fora o famoso Grumpy Cat, que embora tenha cara de mal-humorado, isso não determina como ele é de fato, gatos, não usam a comunicação facial entre eles. “Os ancestrais dos nossos felinos domésticos eram animais solitários e viviam distantes uns dos outros. Assim, a expressão facial não era importante para comunicar algo a outro felino, mas a postura corporal sim e, principalmente, as marcas visuais e olfativas, como arranhaduras”, explica o pesquisador norte-americano Carlo Siracusa. Contudo, há quem discorde dele… Georgia Mason, uma bióloga comportamentalista da Universidade de Guelph, em Ontário, no Canadá, realizou um estudo com mais de 6 mil pessoas de 85 países, mostrando vídeos de gatos para saber se gateiros são capazes de identificar humores felinos pela expressão facial dos bichanos. O resultado mostrou que poucas pessoas são capazes de identificar a expressão facial em felinos, já que menos de 60% dos indivíduos acertaram o teste.

Mas ela acredita que há sim algo sendo transmitido na expressão felina, mesmo que isso seja difícil de ser reconhecido pela maioria das pessoas. “No meu estudo, percebi que as pessoas mais experientes, que trabalham na área de felinos, como veterinários, conseguem sim identificar emoções na expressão facial deles. Então, isso indica que há algo sendo transmitido ali”, aponta.

8. Gatos não evitam pessoas que se recusam a ajudar seus donos, assim como cães fazem

Aquele mito de que gatos são indiferentes a seus donos felizmente tem sido derrubado pela maior popularidade desse pet nos lares. Quando uma pessoa tem a oportunidade de acariciar um felino ronronante em seu colo, dificilmente acredita em tal falácia. Contudo, um novo estudo realizado no Japão pode, à primeira vista, deixar os felinos em maus lençóis. Os pesquisadores aplicaram um mesmo estudo feito em cães, que visa descobrir se os felinos evitam pessoas desconhecidas que se negam a cooperar com seus donos. E o estudo funcionou assim: o dono do gato tentava abrir uma caixa e pedia ajuda a uma outra pessoa, que o ajudava. Em seguida, na mesma situação, uma outra pessoa permanecia indiferente ao dono, negando seu pedido de ajuda. Por fim, os dois estranhos (o que ajudou e o que não ajudou o dono do gato) ofereciam um petisco ao pet. Se o felino recusasse ou hesitasse mais em pegar o petisco da pessoa neutra (que não ajudou o seu dono), indicaria que felinos possivelmente se sintam mais seguros com pessoas que demonstram comportamentos positivos com seus tutores. Quando esse estudo foi realizado em cães, o cão não aceitou o alimento da pessoa que se recusou a ajudar seu dono. Mas, com os gatos, não se observou nenhuma diferença na reação do pet. Aparentemente, para felinos, comida é comida. No entanto, essa interpretação seria como tratar gatos como pequenos seres humanos, o que eles não são. Assim, o que esse estudo demonstra, na realidade, é que felinos não são tão capazes de identificar ou compreender interações entre seres humanos, embora tenham habilidades em reconhecer emoções humanas e seguir nossos movimentos quando apontamos para algo.

9. Gatos fazem contato visual com donos diante de problemas

Um estudo publicado em abril de 2021 por pesquisadores de uma empresa de alimentação animal revelou que, quando felinos estão diante de um problema ou uma situação que não conseguem resolver, eles encaram por mais tempo o ser humano que está ao lado deles. E mais: eles têm essa atitude quando a pessoa se mostra colaborativa e recíproca ao contato visual.


Por: Samia Malas

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