4 hábitos indesejados e as suas soluções

Listamos os comportamentos que gateiros menos apreciam em seus gatos e ensinamos a corrigi-los

Foto: Wenchuan Tian/iStock

Antes de falarmos sobre comportamentos indesejados, precisamos definir o que é um comportamento indesejado em relação aos comportamentos naturais dos gatos, mas que nos incomodam. Ou seja, nem sempre um comportamento indesejado para nós é um mau comportamento para o gato. Por exemplo, o comportamento de arranhar superfícies é totalmente natural para eles, mas pode se tornar indesejado, caso ele arranhe o nosso sofá. O ato de escalar móveis também é natural, mas pode ser indesejável para nós e se tornar até perigoso para o gato. Assim, a seguir, vou tentar explicar um pouco mais sobre o que motiva o gato a ter certos comportamentos e ensinar como o gateiro pode melhorar a convivência com seu felino entendendo e lidando melhor com certas necessidades felinas que podem nos incomodar.

1 – GATOS QUE SOBEM EM TUDO
Os gatos são considerados uma espécie naturalmente semi-arborícola, ou seja, em alguns momentos do dia vão passar um tempo em locais altos para comerem sossegados, dormirem em segurança ou para não serem incomodados. Na natureza ou em ambiente urbano, eles estariam nos galhos de uma árvore ou em algum muro ou telhado, por exemplo. Dentro de casa (indoor), precisamos tentar recriar esse ambiente natural dos gatos para que eles não subam em nossos móveis, até por questões de segurança – gato subindo no fogão, por exemplo.
É muito frequente a queixa do gato subindo em móveis diversos: mesas de jantar, estantes, até mesmo em cima da televisão, mesmo quando temos uma gatificação planejada na casa. Então, o que pode estar acontecendo? Vamos a um checklist rápido de situações que já vi acontecer nos meus atendimentos:
• Gatificação inadequada: as prateleiras não comportam o peso ou tamanho do gato. Não há espaço suficiente para que ele se deite em um nicho, por exemplo. Assim, antes de instalar prateleiras, converse com a empresa de gatificação para confirmar o peso que cada nicho e prateleira comportam;
• Caminho para os nichos tem um vão muito grande entre as prateleiras de caminho: e o gato não consegue chegar! Principalmente gatos acima de 7 anos, que podem ter questões articulares. Por isso, tente diminuir a distância entre as prateleiras.
• Traumas anteriores: o gato já caiu da gatificação e ficou com medo de subir ali novamente.
• Conflitos entre gatos: brigaram na gatificação.
• Falta de rotas de fuga na gatificação: principalmente em casas com mais de um gato, onde há conflito entre eles. Na prática, é quando um gato está descansando na gatificação, outro gato se aproxima e o primeiro gato não tem por onde descer e eles acabam se enfrentando, brigando no meio do caminho, terminando até na queda de um deles.
• Prateleiras ou acessos muito altos: o gato não consegue subir ou tem medo!
• Gatificação em locais incômodos para os gatos: quando elas são instaladas no mesmo cômodo em que ficam as caixas sanitárias ou em locais que podem oferecer insegurança, com muitos ruídos, como a sacada por exemplo. Não estou dizendo que você não pode ter uma gatificação na sua sacada. A preferência por locais de descanso específicos é muito particular de cada gato. Sendo assim, caso você esteja tendo problemas com relação ao local escolhido pelo seu gato para descansar, procure trocar alguma prateleira de lugar para testar temporariamente.
Uma dica muito importante é insistir e aguardar. Às vezes, um gato demora de 15 a 20 dias para conhecer um lugar novo para descansar. Portanto, teste novos lugares por mais tempo: coloque uma caminha em um local novo e aguarde no mínimo 10 dias para mudá-la de lugar. Se ele não subir na primeira semana, não significa 100% que não gostou. Dê petiscos para o gato naquele lugar, mostre a ele a caminha nova. Uma outra ideia é instalar as famosas “camas de janela” nos vidros da sua sacada, por exemplo. Coloque em um ponto mais baixo ou mais alto. Teste!

2 – GATOS ARRANHANDO NO LUGAR ERRADO
O arranhar tem muitos significados fisiológicos e comportamentais. A arranhadura está ligada também ao ato de se espreguiçar, lacerar a superfície com as unhas (deixar referência visual) e depositar o odor social através das glândulas de feromônios presentes nos coxins plantares (almofadinhas das patas). É um dos meios de comunicação entre gatos. Importante ressaltar que a comunicação entre gatos nem sempre acontece quando eles se encontram. E um bom exemplo disso é a arranhadura, onde um gato deixa a referência para outro gato de uma superfície arranhada e com o cheiro dele. Ele quer dizer: aqui, neste território, vive um gato!
É interessante prestarmos atenção de que um filhote, até os seus 3 ou 4 meses, não arranha as superfícies com esse contexto olfatório ou visual, por ser muito jovem. Mas afinal, por que seu gato está arranhando seu sofá, uma poltrona ou o encosto das suas cadeiras da sala de jantar? Os gatos vão sempre preferir locais firmes – que não tombem enquanto eles arranham ou se penduram. Na natureza, seriam os troncos de árvores! E na nossa casa, o canto da sua cama box, seu sofá, poltrona ou uma cadeira fazem muito bem esse papel: são firmes, pesados e não sairão do lugar. São locais estáveis. Bem diferentes daquele arranhador com 30cm de altura que você tem aí que eu sei, não é mesmo? Infelizmente, arranhadores colocados na área de serviço, em um cantinho que ninguém vai ou do lado da caixa sanitária raramente ou quase nunca serão usados.
Se você medir a altura das arranhaduras nos móveis, geralmente, eles seguem um padrão: 60cm a 1m de altura. Esse padrão ajudará muito na hora de comprar o arranhador correto: no mínimo com 1m de altura até uma torre para ele escalar, mas, principalmente, um lugar em que o gato consiga arranhar e se pendurar sem que a peça fique instável ou até tombe. Porém, não basta comprar o arranhador certo e esperar a mágica acontecer! Você precisa remover as referências olfatórias e visuais das superfícies, lembra? Vou dar uma super dica: faça uma mistura de três partes de água morna, uma de vinagre e uma colher de café de bicarbonato de sódio e borrife na superfície lacerada (como o braço do seu sofá, mas teste em um local escondido antes, para ver se mancha!). Após borrifar, cubra a peça com um lençol. Com essas duas medidas, estamos tirando a referência olfatória e visual do gato! Repita até que ele aprenda a arranhar no arranhador certo. Não adianta apenas borrifarmos a mistura e cobrir a peça se não dermos ao gato um arranhador compatível com o nível de atividade dele, peso e padrão de comportamento de arranhadura.

Foto: Elena Perova/iStock

3 – VOCALIZAÇÃO NOTURNA
Uma das queixas frequentes em consultas de comportamento são gatos que acordam seus tutores na madrugada ou muito mais cedo, como 4 ou 5 horas da manhã. Precisamos entender que o gato não é exatamente uma espécie de hábitos noturnos, mas sim crepusculares, ou seja, mais ativos ao anoitecer e ao amanhecer.
A vocalização noturna (miar além do normal), precisa de atenção em todos os casos: desde gatos filhotes, até gatos idosos. No caso dos filhotes (me refiro aqui aos gatos de até 4 meses), estes precisam de atenção, principalmente se foram adotados muito novinhos – antes de 90 dias. Como eles foram separados muito jovenzinhos de suas mães e irmãozinhos, é natural estarem inseguros na casa nova e acabarem chorando se ficarem sozinhos à noite. Então a minha sugestão é ficarmos mais próximos deles à noite. Infelizmente não temos um “adestramento” para filhotinhos. O melhor a se fazer é dormir com o filhotinho até que ele se sinta mais seguro para ficar sozinho. Após 5 ou 6 meses, sugiro fazermos um “desmame” e dormirmos uma noite sim e uma não com ele, para que se acostume a ir ficando sozinho aos poucos.
No caso dos idosinhos – acima de 13 ou 14 anos, quando eles começam a miar à noite é preciso levá-los ao veterinário, pois podem estar sendo acometidos pela Síndrome da Cognição Felina, muito semelhante ao Alzheimer humano. Porém, é importante dizer que somente um veterinário pode diagnosticar o seu gatinho. Um vovô ou uma vovó miando à noite não significa que é comportamental. Pode ser clínico.
Já os gatos adultos que miam à noite ou no amanhecer, geralmente estão pedindo ração ou carinho, e pode haver vários contextos aqui. Vamos fazer um pequeno checklist!
Uma das atitudes que mais vejo dos tutores é acordar e interagir com o gato ao menor sinal de barulho ou miado. E isso acaba condicionando os gatos a acordarem os tutores para ganhar atenção, carinho e até sachê! Então, o gato entende que é só miar que o seu tutor vai acordar para dar o que ele quer e na hora que ele quer. Muito cuidado aqui, pois muitos tutores acabam pensando que é só não acordar que o gato vai parar de miar… e não vai. O motivo do gato acordar na madrugada está ligado, em mais de 90% dos casos, ao alto grau de ociosidade do gato durante o dia todo. O nosso dia típico geralmente é assim: acordamos, trabalhamos, voltamos para a casa e acabamos interagindo super pouco com os gatos ou só ficando com eles para fazer um carinho enquanto assistimos televisão. E pelo gato ser uma espécie que vai despertar no crepúsculo e no amanhecer, vão brincar, miar e querer interagir.

4 – GATOS HIPERATIVOS
Gatos hiperativos ou ociosos com um pico de energia? Antes de rotularmos a hiperatividade nos gatos como algo comportamental, precisamos descartar causas clínicas. Portanto, o ideal é levar o gato ao médico-veterinário para um check-up. Caso as questões clínicas sejam descartadas, podemos cogitar excesso de ociosidade no dia a dia. Mas afinal, como definir hiperatividade? Muitos tutores acreditam que os gatos que correm à noite pela sala podem ser considerados como hiperativos, mas não. Os famosos “zoomies” – ocorrer de forma “maluca e do nada” pela casa, são manifestações de picos de energia ou até mesmo uma caçada, caso o seu gatinho tenha visto um bichinho.
Os “zoomies” são um comportamento normal dos gatos e ocorrem em todas as idades, sendo mais frequentes em gatos filhotes ou adultos. Sendo assim, seu gatinho está apenas ativo por estar saudável! É muito frequente compararmos nosso gato “hiperativo” com um gato mais velho, dizendo: “mas fulano não era assim quando filhote”. Pois é… temos personalidades diferentes! O mais importante é identificar o padrão de atividades dos gatos da casa para definirmos e implementarmos ações de manejo corretas.

Colaboradora:
Valéria Zukauskas, Bióloga, Consultora Comportamental de Felinos Domésticos, Terapeuta Integrativa de Pets e de seus tutores, Terapeuta Floral, Comunicadora Intuitiva. Trabalha com comportamento desde 2001 e exclusivamente com felinos desde 2005. Foi sócia do CBG por 10 anos e lá também atuou como expositora e auxiliar de julgamento de todas as categorias. Tem mais de 6 mil gatos atendidos em consultas comportamentais e mais de 250 profissionais formados em 4 países.

Instagram: @gatosnodiva

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