Para manter nossos gatos saudáveis, é preciso ficar atento a alguns pontos fundamentais, como a vacinação, alimentação e saúde bucal.

Segundo o imaginário popular, os gatos têm sete vidas. Ao observá-los saltar com graciosidade e evitando obstáculos, caindo (quase) sempre em pé, nós podemos até ficar tentados a acreditar que o dito é verdadeiro. Mas ainda que os bichanos impressionem com suas excelentes habilidades motoras, isso não significa que não precisem de muitos cuidados com a sua saúde. Entenda quais são os pontos essenciais desses cuidados.
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1 – CONSULTAS AO VETERINÁRIO
A visita ao médico-veterinário, para avaliar a saúde do felino e direcionar medidas que atendam às suas necessidades, é um dos primeiros passos para começar a cuidar da saúde do seu animal. A periodicidade, no entanto, só será definida conforme as demandas do pet. Caso o gato esteja saudável, explica a médica-veterinária Estela Pazos, pós-graduada em Medicina Felina, até os 10 anos de idade é indicada uma consulta anual. “Mas como eles escondem sintomas, sempre que possível, é recomendado encurtar esse período, principalmente após os 7 anos”, indica Estela, que atende em uma clínica exclusiva para gatos em São Paulo. Conforme a idade avança, a frequência desse check-up deve ser ainda mais curta: “após os 12 anos, indicamos uma consulta a cada seis meses; depois dos 15 anos, consultas a cada 4 meses; em gatos acima de 18 anos, indico consultas a cada três meses, pois as alterações ocorrem em um período muito curto de tempo”, alerta.
2 – VACINAÇÃO
Este é um dos primeiros cuidados na vida de um gatinho, que desde os primeiros meses precisa iniciar um protocolo de vacinação. De acordo com Estela, este protocolo deve ser individualizado de acordo com o histórico e riscos do paciente, mas existe um padrão básico: uma dose de vacina polivalente aos 60 dias com um reforço após 30 dias e depois manutenção anual. “Alguns veterinários podem optar por fazer três doses nos filhotes: aos dois, três e quatro meses”, alerta.
Existem três tipos de vacinas polivalentes para gatos – a Tríplice felina (V3), Quádrupla felina (V4) e Quíntupla felina (V5) – e o número de cada uma corresponde à quantidade de doenças que ela protege. “A V3 protege contra rinotraqueíte, calicivirose e panleucopenia. A V4 protege contra todas as doenças da tríplice mais a clamidiose. Já a V5 protege contra todas as doenças da V4 e mais da leucemia felina. Quando a V5 é dada em um animal adulto, é necessária uma dose de reforço para ter maior proteção contra a leucemia felina”, explica a veterinária. Além da polivalente, o pet ainda deve receber a vacina antirrábica, que pode ser dada a partir dos três meses de idade e depois aplicada uma vez por ano. Estela descreve que esta “é de extrema importância, pois a raiva é uma zoonose, doença que pode ser transmitida aos humanos”.
3 – VERMIFUGAÇÃO
Assim como a vacinação, a vermifugação surge como um dos principais cuidados iniciais que são destinados aos filhotes e é importante para eliminar parasitas presentes no organismo do animal. Exatamente por isso, ela não uma medicação preventiva, como explica Andréa Alves Pereira, médica-veterinária especializada em Medicina de Felinos pela Anclivepa-SP e em Patologia Clínica Veterinária pelo IBVET. “A vermifugação inicial, do filhote, pode ser feita com 3 semanas de vida e repetida mensalmente até seis meses de vida. Após esse período, idealmente, deve-se fazer uso de vermífugos mediante a realização periódica prévia de exames de fezes, em média a cada seis meses, se o gato adulto tem acesso a áreas externas ou contato com outros animais”, aponta Andréa.
4 – EXAMES DE ROTINA
Os exames médicos são fundamentais para detectar doenças, alterações, inflamações ou qualquer indício que possa determinar que existe algum problema na saúde do pet. Assim como os pontos anteriores, a frequência da avaliação médica e de exames está diretamente relacionada às fases da vida do animal. Os básicos, que podem ser feitos em qualquer idade, inclusive enquanto o gato é filhote. São eles: hemograma completo, ureia, creatinina, Urina I, ALT, FA, GGT, Albumina, Glicemia, Colesterol e triglicérides. Estes vão monitorar o funcionamento correto do organismo do felino. Além disso, o ultrassom é um importante exame de imagem que mostra como estão os órgãos abdominais, se há alguma variação digna de nota. Já a análise de FIV/FelV, duas doenças graves que podem acometer os bichanos, pode ser necessária mais de uma vez ao longo da vida. “Depois dos 7 anos do felino, é fundamental que na consulta de rotina também seja conferida a pressão arterial juntamente com os outros exames citados. Após os 12 anos, é preciso incluir também radiografias articulares, mesmo que o pet não demonstre sinais de dor. E mais tarde, aos 15 anos, é indispensável acrescentar exames de acordo com as patologias já existentes”, descreve Estela.
5 – DOENÇAS MAIS COMUNS
Alguns males comuns que podem ser causados por verminoses são as diarreias, anemias, apatias e perdas de peso. Ainda que aparentemente simples, os sintomas podem evoluir em gravidade, se não tratados corretamente com vermífugos. “Mas falando em doenças, o que mais encontro na rotina clínica são aquelas relacionadas ao trato respiratório, como rinotraqueíte e asma felina. Também temos muitos problemas de pele, a dermatofitose, e há duas coisas que eu vejo ser pouco relatadas, mas são muito frequentes: a micoplasma (bactéria que causa inflamações nos tratos respiratório, genital e urinário do gato) e aplatinosomose (em que o gato se contamina ao morder ou comer lagartixas contaminadas por parasita)”, revela Ana Cláudia Andrade, médica-veterinária especializada em medicina felina pela Unicastelo (SP) e mestre em Ciência Animal pela Unipar (PR). Estela também aponta alguns problemas comuns que trata nos pacientes: “as doenças de maior diagnóstico em gatos são a Doença Renal Crônica e a Doença Intestinal Inflamatória. Mas poderia destacar também a Doença Articular Degenerativa, que tem pouquíssimo diagnóstico, pois gatos só demonstram quando há muita dor”. Ela alerta que a maioria das doenças em gatos, se não tratadas, podem se tornar graves, e por isso é importante levá-los para uma avaliação frequente de um especialista.
6 – PERIGOS DA AUTOMEDICAÇÃO
A automedicação é perigosa tanto para os seres humanos quanto para os pets e os efeitos de determinados fármacos podem ser até fatais. “Na intenção de fazer o bem, podemos prejudicar e até levar à óbito nossos animais”, adverte Ana Cláudia, que dá um exemplo: o paracetamol que usamos em seres humanos para tratar uma simples dor de cabeça, em gatos pode causar hemólise e levar o animal a morte. O fármaco ofertado ao pet, portanto, pode não ter o efeito desejado, não ser o suficiente para tratar o problema, tem a possibilidade de piorar alguma outra condição do animal ou ainda mascarar um sintoma sem investigar a sua causa. “Gatos possuem as vias de metabolização de medicamentos deficientes em algumas enzimas e por isso podem ser intoxicados com muito mais facilidade com um medicamento. Algumas medicações ainda devem ser utilizadas em doses mais baixas e somente o médico-veterinário pode fazer esse ajuste. Mesmo que seja uma medicação que ele já tomou antes e ficou bem, o uso indiscriminado pode levar a danos por seus efeitos colaterais”, reforça Estela, sobre a necessidade de um acompanhamento profissional na administração medicamentosa.
7 – CASTRAÇÃO
A primeira e principal função da castração é evitar a reprodução indesejada, mas é possível também preservar o pet de algumas doenças e comportamentos que podem afetar a saúde do felino. De acordo com Ana Cláudia, os benefícios para os machos incluem evitar câncer de próstata, testículo e também o mamário – raro, mas existe -, diminuição da marcação e brigas por território, do cheiro na urina, e da busca por fêmeas, consequentemente dificulta fugas indesejadas que podem colocar o gato em risco. Nas fêmeas, as enfermidades são o foco. “Com a castração evita-se câncer de mama e piometra, uma infecção no útero causada por alterações hormonais”, acrescenta Ana Cláudia. Como o procedimento é cirúrgico, é fundamental que o animal faça pré-operatórios e que o tutor siga todas as instruções do médico-veterinário quanto aos processos antes e depois da cirurgia.
8 – SAÚDE BUCAL
A boca também é um ponto de atenção quando falamos de preservar a saúde do nosso pet. As especialistas indicam que, idealmente, a escovação dos dentes do gato deveria ser feita diariamente. No mínimo, três vezes por semana. Para que a limpeza possa ser feita, é importante que o bichano se acostume com a manipulação regular. “A escovação dos dentes é um recurso de manutenção, portanto os tutores devem ficar atentos caso os felinos apresentem mau hálito, dificuldade na mastigação, alterações nos dentes e gengivas”, revela Andréia. Além da avaliação dentro de casa, também é necessária a análise odontológica do médico-veterinário, que poderá orientar para a necessidade de limpeza profissional e até extração dos dentes. Ana Cláudia dá algumas dicas para os tutores que tiverem dificuldades na escovação: evitar alimentos ricos em açúcar e carboidratos, além de fazer uso de petiscos, enxaguantes bucais e enzimas próprias que previnem formação de placas bacterianas e que podem ser administradas deforma menos estressantes.
9 – ALIMENTAÇÃO DE QUALIDADE
A alimentação é um dos principais fatores determinantes para a manutenção e preservação da sua saúde. “A absorção de nutrientes essenciais reflete no animal como um todo, desde a saúde da sua pele e dos pelos, dos dentes, dos intestinos”, cita Andréa. Caso o alimento tenha baixa qualidade e não atenda todas as necessidades nutritivas do gato, ele pode vir a desenvolver deficiências vitamínicas, desnutrição, obstruções uretrais, cistites, raquitismo, cegueira, doença intestinal inflamatória, doenças articulares, problemas hepáticos, gastrite, baixa imunidade e maior predisposição ao desenvolvimento de enfermidades crônicas, como a doença renal.
10 – SINTOMAS COMUNS QUE SÃO ALERTAS
Quando o nosso pet está doente, ele costuma dar sinais de que algo está errado. Mas alguns sintomas são tão discretos que podem passar despercebidos e não anunciar o problema que os está causando. Segundo Estela, em quase todas as condições de uma enfermidade, os gatos vão ficar mais quietos, vão dormir mais e diminuirá ingestão de alimento, ou mesmo parar de comer. Mas existe um sintoma muito comum do bichano que nem sempre é tratado seriamente pelos tutores: o vômito. “Muitos acham que é normal o gato vomitar e demoram a procurar ajuda. Entre as causas de vômitos estão a doença intestinal inflamatória, o linfoma alimentar, a doença renal, a gastrite, a colangite e a pancreatite”, avisa a veterinária. Outro sinal de que há problemas com a saúde do gato é quando ele passa a ingerir mais água e formar um torrão de urina maior. Neste caso, o motivo pode ser a doença renal ou a diabetes.
11 – ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL
Prevenir pode ser o melhor remédio quando tratamos da saúde dos pets, especialmente quando o assunto é estresse, pois este, quando crônico, pode comprometer o bem-estar físico e emocional, resultando em cistites recorrentes, automutilação, queda de imunidade e obesidade. E o enriquecimento ambiental é uma excelente maneira de evitá-lo, isso porque ele “permite que a espécie felina possa expressar seus comportamentos naturais, mesmo que em ambiente domiciliar”, explica Andréa. Trazer enriquecimento ambiental para a rotina do gato é proporcionar a ele locais e atividades que o estimulem. Algumas opções práticas consistem na instalação de arranhadores, tocas e prateleiras em lugares altos onde possam subir e a utilização de brinquedos interativos e que disponibilizem petiscos. Mas não adianta simplesmente espalhar recursos para que o felino se entretenha sozinho – a relação como tutor também é essencial para o animal de estimação e ela deve ser desenvolvida com frequência.
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Agradecemos a colaboração de Ana Cláudia Andrade médica-veterinária graduada pela Fundação Assis Gurgacz (PR), especializada em medicina felina pela Unicastelo (SP) e mestre em Ciência Animal (Saúde Única) pela Unipar (PR). Atualmente atende na clínica Di Gatto, em Cascavel, no Paraná; Andréa Alves Pereira médica-veterinária pela Unip Campinas, especializada em Medicina de Felinos pela Anclivepa/SP e em Patologia Clínica Veterinária pelo IBVET. É membro da American Association of Feline Practitioners (AAFP) e tem mestrado em Saúde Coletiva pela FCM Unicamp. Realiza atendimento clínico especializado em felinos em Campinas, São Paulo, e região e Estela S. G. Pazos médica-veterinária pós-graduada em Medicina Felina. Atende exclusivamente gatos em São Paulo, SP. Realiza atendimento nas áreas de clínica médica, comportamento, ozonioterapia, medicina preventiva e nutrologia.
Por Aline Guevara