Entenda quais são os aspectos mais importantes na hora da refeição do seu pet para mantê-lo com equilíbrio e saúde

Uma alimentação de qualidade é a base para o desenvolvimento saudável dos gatos, portanto, ela precisa ser um fator que requer bastante atenção dos tutores. Os médicos-veterinários Flavio Lopes da Silva, mestre em nutrição de cães e gatos pela Unesp, de São Paulo, e Daniela Formaggio, especializada em Medicina Felina pela Anclivepa, de Campinas, SP, esclarecem dúvidas sobre o tema.
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1 – NUTRIENTES ESSENCIAIS
Proteínas, gorduras, vitaminas e minerais são alguns dos nutrientes que os gatos precisam ingerir para terem energia e para suas necessidades metabólicas serem atendidas. De acordo com Flavio,entre os macro e micronutrientes, sabe-se que os bichanos precisam de mais de 40 tipos. E ele faz um alerta: “o excesso ou a restrição nutricional pode causar problemas no organismo e nas funções vitais do pet”. Entre os exemplos de nutrientes essenciais, encontramos estão os aminoácidos, que são moléculas orgânicas que o organis modo pet não é capaz de produzir e são responsáveis pela formação das proteínas. Já as vitaminas, explica Daniela, são necessárias para que dentro do corpo do animal ocorram todas as reações químicas de forma adequada. “Elas são divididas em hidrossolúveis, ou seja, solúveis em água, como tiamina (B1), riboflavina (B2), vitamina B6, cobalamina (B12) e vitamina C, e lipossolúveis, que são solúveis em gordura, no caso vitamina A, vitamina K, vitamina D e vitamina E”, detalha a veterinária, que continua: “minerais são necessários para que se desenvolvam ossos e dentes fortes, e os principais para a espécie felina são cálcio, fósforo, potássio, magnésio e sódio. Eles também são antioxidantes, responsáveis pelo combate aos radicais livres. Mas é preciso tomar cuidado. A suplementação sem orientação de um veterinário pode trazer danos que, às vezes, podem ser irreversíveis, como é o caso do cálcio. Algumas vitaminas podem até causar intoxicação, como é o caso das lipossolúveis”.
Na lista de nutrientes ainda estão as fibras e os carboidratos, necessários para uma digestão adequada, e os ácidos graxos essenciais, que agem no bom funcionamento do sistema reprodutivo, da pele e nos pelos. “Uma dieta completa e de boa qualidade é equilibrada e suficiente para suprir as necessidades nutricionais de um felino saudável, sempre respeitando a faixa etária dele”, completa a veterinária.
2 – TAURINA: AMINOÁCIDO ESSENCIAL
Entre os aminoácidos que precisam estar presentes na alimentação de todo e qualquer felino, um se destaca: a taurina. Ela é fundamental, pois mantém o bom funcionamento do sistema cardiovascular e é importante também para a saúde da retina e do sistema respiratório. É essencial que a dieta do gato inclua este aminoácido, pois ele não consegue produzi-lo sozinho na quantidade que precisa. A deficiência do nutriente pode acarretar graves problemas de saúde ao gato, como cegueira e até uma condição cardíaca chamada cardiomiopatia dilatada.
3 – GATOS SÃO ARNÍVOROS. E AÍ?
Sabemos que diferentemente dos cães e dos seres humanos, os gatos são animais carnívoros, ou seja, eles se alimentam predominantemente de carne. Mas o que isso significa para a dieta do felino doméstico? Segundo Daniela, os pets basicamente precisam de mais proteínas. “A anatomia dentária dessa espécie também contribui para que gatos sejam estritamente carnívoros, pois possuem caninos bem desenvolvidos e pontiagudos e molares e pré-molares em menor quantidade se comparada ao cão, o que reflete sua herança predatória. Assim, possuem maior habilidade em rasgar e mastigar músculos quando se alimentam de uma caça”, esclarece ela. Os alimentos destinados a eles, portanto, precisam ter na composição, porcentagem adequada de proteína animal.
4 – CARNE CRUA: PODE OU NÃO?
Os especialistas são categóricos: ainda que felinos sejam carnívoros e se alimentem, na natureza, de outros animais, isso não significa que o seu gato doméstico pode ingerir carne crua. De fato, esse alimento pode causar problemas de saúde como intoxicações, vômitos e diarreia. “As carnes, em geral, contêm microrganismos nocivos que podem ser transmitidos dos animais aos seres humanos, sendo um risco à saúde de toda a família”, conta Flavio, ao se referir a bactérias, vermes e outros parasitas. “Diversas entidades veterinárias no mundo são contra a alimentação crua para animais de estimação, como a World Small Animal Veterinary Association (WSAVA),a American College of Veterinary Nutrition (ACVN), a American Association of Feline Practitioners (AAFelP), entre outras”, completa o médico-veterinário.
5 – ESCOLHENDO O ALIMENTO
Em primeiro lugar, é preciso selecionar o alimento ideal para o seu pet com base nas características e necessidades específicas dele, como a faixa etária e castração. Ainda assim, há muitas opções com preços variados, dividindo-se essencialmente em três categorias: standard, premium e super premium. Daniela explica cada uma delas: “A standard é uma ração de qualidade inferior no quesito proteínas e, consequentemente, temo preço reduzido. Esse tipo de ração normalmente possui corantes e conservantes em sua composição e é necessário dar uma porção diária maior dela para satisfazer o gato. O tipo premium oferece a maior parte dos nutrientes necessários para uma alimentação equilibrada, sendo que é utilizada uma proteína de origem animal e vegetal de melhor qualidade. Por fim, a ração super premium tem a melhor qualidade, já que em sua composição são usadas apenas proteínas de origem animal e não possui corantes ou conservantes artificiais. Por utilizarem proteínas de alto valor biológico, ou seja, proteínas que contêm os aminoácidos essenciais que são absorvidos e aproveitados totalmente pelo organismo, a quantidade diária necessária para saciar a fome do animal é bem menor em comparação com os outros tipos citados acima”.
6 – CUIDADO COM A QUANTIDADE
Se a qualidade do alimento é importante, a quantidade também é. A subalimentação pode levar a desnutrição e doenças, enquanto a superalimentação acarreta obesidade e outros problemas de saúde decorrentes, como diabetes, problemas hepáticos e nas articulações. “A quantidade está diretamente relacionada à faixa etária do animal e à marca da ração escolhida, já que há diferenças em relação ao valor nutricional, o que pode trazer variações na quantidade da porção necessária para suprir a necessidade diária do animal”, explica Daniela. A veterinária recomenda que o ideal é seguir as indicações presentes no rótulo da marca escolhida, além das orientações do médico-veterinário. “Outro aspecto importante para a manutenção do peso do bichano é garantir que ele tenha uma rotina diária de exercícios, que no caso dos gatos, se consegue através de brincadeiras com brinquedos e acessórios adequados”, complementa ela, que sugere deixar a quantidade indicada da ração à vontade para o felino, desde que ele não tenha tendência à obesidade. Afinal, a espécie costuma ter o hábito de não comer tudo de uma só vez. No entanto, para os gatinhos glutões que limpam rapidamente os comedouros, o indicado é dividir a quantidade diária em duas a três porções para serem fornecidas em horários diferentes ao longo do dia.
7 – OFERECENDO O ALIMENTO ÚMIDO
Assim como a ração seca, quando falamos em alimentos úmidos há diferenças: existem aqueles utilizados como um petisco nutritivo e os que apresentam um teor nutricional completo. “A melhor forma de oferecer esse alimento é entre as refeições, em um local separado do alimento seco, pois, depois de aberto, a recomendação é que o alimento úmido seja consumido em, no máximo, 48 horas”, aponta Flavio. Ele reforça ainda que este pode ser usado como importante ferramenta para enriquecer a interação entre o tutor e seu pet, pois é extremamente palatável. Também é uma opção para animais com apetite caprichoso, com dificuldade na alimentação ou que estão em fase de transição alimentar. Outro benefício do alimento úmido é que ele aumenta a ingestão de água do animal, uma vez que é composto de até 80% de água, favorecendo assim a saúde do trato urinário.
Como os gatos podem ter apetite muito seletivo, o ideal é que a comida úmida lhes seja apresentada ainda enquanto são filhotes. “Assim aumentamos as chances dela se tornar uma predileção também na fase adulta, levando em consideração que tudo depende da preferência individual, já que é possível que mesmo sendo apresentados ao alimento úmido quando filhotes ainda tenham preferência pela ração seca quando adultos”, elucida Daniela. A veterinária também explica que a alimentação úmida também possuiu ma quantidade maior de proteínas, contribuindo para uma boa manutenção dos músculos do pet, e uma quantidade menor de calorias, sendo assim, uma boa aliada no caso de gatos obesos ou com tendência à obesidade.
8 – ALIMENTAÇÃO NATURAL
O apetite seletivo dos felinos também pode ser um impedimento para a introdução da alimentação natural, mas ela oferece alguns benefícios: algumas opções podem ser altamente palatáveis; assim como a ração úmida, ela possui uma quantidade maior de água quando comparada à ração seca; oferece a possibilidade de variar nas fontes de proteínas; uma dieta individualizada pode permitir que o gato receba uma alimentação que supra exatamente as suas necessidades nutricionais. “Por exemplo, podemos citar vantagens para pets com obesidade ou tendência a ganho de peso, pacientes com problemas renais, que facilmente podem perder o interesse por rações secas ou para gatos que possuem problemas dermatológicos como alergia a algum componente da ração industrializada”, ilustra Daniela. Mas é preciso se atentar a alguns fatores, pois a escolha pela alimentação natural depende também da preferência do gato. Além disso, é fundamental que a dieta seja prescrita por um médico-veterinário.
9 – COMEDOUROS E OUTROS ACESSÓRIOS
Para escolher o comedouro ideal, o tutor do gato deve ficar atento a alguns pontos. “É recomendado oferecer o alimento em comedouros grandes, largos e rasos, o que impedirá que os gatos encostem suas vibrissas, os bigodes, na borda, já que essa região é extremamente sensível e isso pode incomodar o animal”, indica Flavio.
Daniela dá mais algumas dicas: o material do pote deve ser, preferencialmente, de fácil higienização, como porcelana, inox ou cerâmica. Caso o comedouro seja de plástico, é mais conveniente escolher modelos com tratamento especial e que não fiquem com o odor dos alimentos. Mas cuidado: o plástico é um material que pode causar alergia no focinho de alguns animais.
A altura do comedouro é um outro ponto muito importante na hora da escolha desse acessório. “O ideal é que ele fique na altura dos cotovelos do gato. Esse tipo de comedouro é chamado de elevado ou ergonômico. É uma opção muito indicada para animais com problemas de articulações e coluna, como os gatinhos idosos”, complementa a veterinária.
Caso o pet tenha características específicas que atrapalhem a alimentação, como uma grande quantidade de pelos ou focinho curto, existem rações específicas para eles, com grãos em formatos mais adequados a cada um.
10 – Ingestão de água
Já falamos de alimentos que ajudam no aumento da ingestão de água diária pelo pet, mas o consumo direto também é importante. A ingestão hídrica dos felinos pode ser insuficiente para suprir sua demanda diária, e a médio e longo prazo as consequências podem ser problemas relacionados ao trato urinário. Segundo Daniela, além dos alimentos úmidos, é importante que o tutor também incentive o animal de estimação de outras maneiras.
O bebedouro, por exemplo, precisa oferecer sempre água fresca, enquanto o uso de fontes também é muito indicado, pois os gatos muitas vezes preferem beber água corrente. “Outra maneira de estimular a ingestão de água pelos bichanos é espalhar pela casa potes de tamanhos e materiais diversos e fontes de modelos diferentes”, finaliza a médica-veterinária.
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Nossos agradecimentos:
Flavio Lopes da Silva, Médico-veterinário, mestre em nutrição de cães e gatos pela Unesp e supervisor de capacitação técnico-científica de empresa de alimento animal.
Daniela Formaggio, Médica-veterinária do Hospital Veterinário Taquaral, em Campinas, SP, graduada pela Faculdade de Medicina Veterinária da Unesp, especializada em Medicina Felinapela Anclivepa – SP e Oncologia Veterinária pela Faculdade Anhembi Morumbi.